Escravo das Sombras - Capítulo 126

126: Effie 126: Effie Nephis encarou-o por alguns momentos e depois virou-se para Cassie e disse:
“Sigam atrás de nós.”

Os três se aproximaram cautelosamente da entrada da torre e pararam ali, incertos sobre como prosseguir.

Em suas mentes, havia dois desfechos para esta situação inesperada.

Um, a misteriosa jovem revelaria ser uma Desperta local. Nesse caso, todos os seus problemas estariam resolvidos. Se um Desperto encontrasse um grupo de Adormecidos nas vastidões selvagens do Reino dos Sonhos, era costume guiá-los até a Cidadela humana mais próxima.

Claro, exceções aconteciam, mas em geral, os Despertos se esforçavam para cuidar dos Adormecidos — nesta terra alienígena, os humanos tinham que se unir. Não era apenas uma obrigação moral, mas também de seu próprio interesse.

Dois, a estranha poderia ser uma Criatura do Pesadelo. Nesse caso, eles teriam uma luta difícil pela frente. Como a patente e a classe do inimigo eram desconhecidas, era impossível prever o resultado.

Eles tinham que arriscar.

Dando um profundo suspiro, Sunny seguiu Nephis no frescor da escuridão da torre. Imediatamente, o cheiro apetitoso de carne assando atingiu suas narinas.

…Seu estômago roncou.

‘Merda!’
Antes que Sunny pudesse reagir, um pedaço de osso passou voando pela sua cabeça e atingiu a parede com força suficiente para se despedaçar em pedacinhos. Tardiamente, ele levantou o Estilhaço da Meia-noite e assumiu uma postura defensiva.

Mas era um pouco tarde demais. A jovem mulher já tinha sido alertada da presença deles.

Erguendo a cabeça, ela mostrou os dentes em um sorriso largo e murmurou:
“Alguém se escondendo nas sombras? Por que não vem brincar…”

Sua voz era profunda, esfumaçada e rouca. Mas o que mais importava era que ela falava na língua humana.

Ela era humana!

Provavelmente…
A estranha ainda estava sentada em uma pose relaxada, mas Sunny não perdeu a tensão sutil nos músculos dela. Ele não tinha dúvida de que a suposta Desperta pudesse explodir em um redemoinho de violência a qualquer momento.

Seria melhor não provocá-la.

Lançando um olhar a Neph, ele seguiu o exemplo dela e fez sua espada desaparecer. Então, hesitantes, os três entraram no círculo de luz projetada pela fogueira.

A jovem os olhou com surpresa e ergueu as sobrancelhas:
“Humanos? Huh! Inesperado.”

Depois, ela sorriu e balançou a cabeça.

“Ah, onde estão meus modos?”

Dito isso, ela se levantou levemente. O tecido branco de sua túnica se mexeu um pouco, revelando mais de suas coxas tonificadas e poderosas.

Sunny piscou.

Ele presumiu que a estranha fosse alta, mas só agora percebeu o quão imponente era sua verdadeira altura. A mulher ficava bem mais alta até mesmo do que Nephis, sem falar de Sunny. Com seu físico robusto, pele oliva e armadura arcaica, ela se parecia com uma deusa antiga.

Entortar o pescoço para olhá-la nos olhos era um tanto irritante, no entanto. Mas Sunny não tinha opção. Se olhasse em frente, sua linha de visão cairia diretamente nas curvas dela… ah…

A jovem mulher, enquanto isso, limpou o rosto sujo com o antebraço e fez um gesto em direção ao fogo.

“Aqui, querem sentar-se?”

A despeito do convite educado, eles hesitaram. Após alguns segundos de silêncio constrangedor, Nephis finalmente deu um passo à frente e fez a pergunta que afligia todos os três.

Com a voz tensa e cheia de emoção reprimida, ela disse com cautela:
“Você… você é humana?”

A estranha encarou Nephis com uma expressão vazia, depois piscou algumas vezes.

“O que mais eu seria? Um cavalo?”

Com isso, ela jogou a cabeça para trás e riu alto, divertida com sua própria piada boba. Nephis e Sunny trocaram olhares, confusos sobre o que fazer.

Enquanto isso, a jovem mulher riu mais algumas vezes e os olhou com pequenas faíscas de alegria dançando em seus olhos.

“Claro que sou humana! Por que perguntam? De qualquer forma, venham se sentar. Meu pescoço está cansado de olhar para baixo.”

Com isso, ela se sentou perto do fogo e assumiu uma pose relaxada. Nephis, Sunny e Cassie finalmente se aproximaram e se sentaram nas pedras, olhando para a garota alta com chamas famintas queimando em seus olhos.

Ela os olhou, depois franziu um pouco a testa.

“Não vi vocês por aqui antes. São novos?”

Nephis assentiu afirmativamente.

“Sim. Acabamos de chegar à cidade.”

Ele estava tentando muito agir como uma pessoa normal e bem ajustada. Parecia que suas tentativas infindáveis de melhorar suas habilidades sociais não tinham sido em vão. Se Sunny não soubesse o quão desajeitada e desengonçada era a natureza natural de Nephis, ele não teria suspeitado de nada.

A jovem mulher sorriu.

“Nesse caso, meus pêsames… espere. Vocês sobreviveram por dois meses inteiros no Labirinto?”

Ela assobiou e os olhou com novo respeito.

“Isso é um feito e tanto. Parabéns.”

Nephis hesitou por alguns segundos e depois disse:
“Me chamo Nephis, e estes são meus companheiros, Cássia e Sem Sol. Somos Adormecidos que chegamos aqui durante o solstício de inverno.”

A jovem mulher deu-lhes um sorriso largo e amigável.

“Prazer em conhecê-los! Me chamam de Effie. Bem, é assim que as pessoas me chamam. Eu também sou Adormecida.”

Sunny franziu a testa. Então, a bela giganta não era uma Desperta, apenas uma Adormecida como eles. Estranhamente, ele não se lembrava de tê-la visto na Academia. Ainda…

Impaciente demais para continuar calado, ele se inclinou para a frente e perguntou:
“Você é do castelo? Há pessoas vivendo lá, certo?”

Effie olhou para ele. Em seus olhos, havia um vestígio de uma estranha emoção.

Quase parecia… pena.

“…Realmente, há pessoas morando no castelo, sim.”

Nephis e Sunny trocaram olhares animados. Então, Estrela Mutável perguntou cautelosamente:
“Você pode nos levar até lá?”

Effie deu de ombros.

“Claro, sem problemas. Vocês têm fragmentos?”

Sunny piscou. O que fragmentos de alma tinham a ver com isso? Eles haviam recuperado dois daquela estranha pedra que ele matara na base da parede. Ela ia pedir um pagamento?

Nephis pegou os fragmentos de alma e os mostrou à garota alta.

“Temos dois.”

Effie suspirou.

“Apenas dois? Bem… é melhor do que nada, eu acho. Guardem-nos. Vocês precisarão deles mais tarde.”

Não entendendo muito bem o significado das palavras dela, Estrela Mutável hesitou e disse incerto:
“Esperávamos chegar à Cidadela e acessar o Portal o mais rápido possível. Quanto tempo vai levar?”

A jovem os encarou por muito tempo e, de repente, se curvou em uma crise de riso histérico. Ela riu tanto e tão intensamente que lágrimas logo apareceram nos cantos de seus olhos.

Desagradavelmente surpreendidos, os três Adormecidos a encararam chocados. Nenhum deles entendeu a razão desse comportamento bizarro.

‘Ela é… louca?’
Sunny franziu a testa, reavaliando a situação. Antes, a garota local parecia apenas um pouco excêntrica. Mas talvez houvesse mais na história…

O riso de Effie parou tão abruptamente quanto começou. Enxugando as lágrimas, ela sacudiu a cabeça e disse em um tom estranho:
“Ah, desculpe, pessoal. Eu não pude me conter. Por favor, perdoem minha falta de educação.”

Depois, ela se endireitou, olhou nos olhos deles e disse:
“Posso levá-los ao castelo, mas não há Portal lá. Na verdade, não há saída dessa maldita cidade. Estou presa aqui há três anos também. Então… bem-vindos à Cidade Escura, eu acho. Abandonem toda a esperança, ó vós que entrais aqui, e tudo mais…”