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Capítulo 431: Ava: O Destino de Ivy
Magister Orion e seus amigos Fae estão acomodados na cabana do Grande Sábio, embora não haja muito espaço. Elverly, surpreendentemente, leva tudo de forma tranquila, sem uma única reclamação. Ela trata os Fae com respeito; é tão estranho, vindo daquela velha gnomo mal-humorada. Ela está doente?
Magister Orion se acomoda em sua vigília sobre o devorador de sonhos, e o peso da responsabilidade se alivia dos meus ombros, pelo menos por um momento. Ele é a única outra pessoa que pode me ajudar nesta situação.
É bom ter reforço.
Estou aqui, aponta Grimório.
Não é a mesma coisa.
A pergunta queima em minha garganta, mas preciso saber. Todos os outros deixaram a sala — antes o quarto de Elverly, mas movemos sua cama para a do Grande Sábio para usá-la como uma cela temporária — exceto Magister Orion, que estuda a forma inconsciente do devorador de sonhos com intenso foco.
“Magister.” Minha voz é suave; é difícil deixar as palavras saírem. “Preciso perguntar algo.”
Seus olhos encontram os meus. “Sim, criança?”
“Ivy Shadowpine. Ela é uma transformista lobo, uma forte. Ela está desaparecida desde que o devorador de sonhos apareceu no nosso hospital.”
Ele inclina levemente a cabeça, me encorajando a continuar.
“Havia uma sensação estranha dentro dela, algo que parecia corrompido e vivo dentro dela.”
Sua expressão muda, um estreitamento sutil ao redor dos olhos. “Você suspeita de possessão.”
“É possível?” Calor sobe ao meu rosto. “O devorador de sonhos poderia ter tomado o corpo dela?” É uma pergunta fantasiosa, especialmente depois que o devorador de sonhos mostrou uma forma que não se parece em nada com Ivy. Mas ela ainda está desaparecida e não há outra conclusão a que chegar.
O olhar de Magister Orion volta para a criatura. Seu corpo maciço parece ficar parado, como uma estátua esculpida em pedra antiga. “Sim.”
Sua resposta é esperada, mas ainda assim horrível. Meu estômago revira. “Como?”
“Isso, eu não posso determinar.” Ele gesticula para o devorador de sonhos. “Essas criaturas não possuem da maneira que você está pensando; elas não deixam rastros de suas vítimas. Eles consomem a essência, as memórias, tudo que faz uma pessoa ser quem ela é.”
“Então Ivy está—” As palavras ficam presas na minha garganta. É difícil imaginar uma morte tão estranha.
“Desaparecida.” Ele fala suavemente. “E possivelmente há bastante tempo. Os sinais teriam sido sutis. O devorador de sonhos não levou seu corpo, mas roubou sua forma. Se vocês lobos não sentiram a diferença…”
Minhas mãos tremem; essa criatura estava andando entre nós, usando o rosto dela. Sua voz. Até seu cheiro. “Não.”
“O devorador de sonhos teria facilmente aprendido seus maneirismos, suas relações.” Magister Orion suspira. “Eles sabem de tudo.”
“Pronto para sair?” A voz de Kellan atravessa a conversa quando ele abre a porta.
O Magister acena com a mão para mim. “Vá. Descanse. Posso sentir seu cansaço.”
Suspirando, levanto-me do chão. “Estou pronto. Você poderia chamar Vanessa para nos encontrar na sua cabana? Preciso falar com ela. E com você.”
Seus olhos se turvam por um segundo. “Pronto. Ela está a caminho.”
* * *
Vanessa assimila a notícia melhor do que eu, e ela admite que suspeitava de muito do mesmo. Nós dois nos perguntamos por quanto tempo Ivy está desaparecida, mas é impossível saber.
Minha cabeça lateja enquanto a descanso em meus braços, a madeira sólida da mesa de cozinha do Kellan oferece pouco conforto. O cheiro de café preenche o ar — rico, amargo e levemente nauseante, como os pensamentos girando em minha mente. Os goles silenciosos de Lisa no sofá pontuam o pesado silêncio.
“Preciso contar a Clayton sobre Ivy.” As palavras são terra na minha boca. “Se Lucas não voltar logo…”
“Eu faço isso.” A voz de Kellan carrega aquela autoridade estóica de Beta, provavelmente porque a outra parte é Clayton, afinal.
“Não.” Levanto a cabeça, encontrando seu olhar firme. “Tem que partir de mim. Seria desrespeitoso…” Minha voz se dissolve. A memória de Ivy confidenciando em mim no hospital… Foi real? Ou foi o devorador de sonhos fazendo de conta que era ela?
“Deuses, como o Lucas faz isso? Como ele lida com isso?”
As roupas de Vanessa farfalham enquanto ela se acomoda na cadeira. Olheiras circundam seus olhos, testemunha do caos do dia. “Você está indo bem, Ava. É sempre difícil a primeira vez.”
Ela soa tão pragmática, mas faz sentido quando ela enfrenta a morte tão regularmente. Não desejo ter a experiência dela, mas gostaria de poder compartimentar como ela faz.
“Quantos?” Pergunto, decidindo adiar o assunto Ivy por agora. Meu cérebro não aguenta mais. Ainda assim, esse tema não é muito melhor. “Quantos perdemos hoje?”
O silêncio se estende. Os ombros de Vanessa descaem mais um pouco. “Vinte e sete confirmados. Três estão em estado crítico. Os outros… devem se recuperar, pelo menos.”
Vinte e sete.
Meu coração dói.
“Preciso encontrar com as famílias deles.” Meus dedos traçam padrões invisíveis na superfície da mesa. “Os rituais… precisaremos preparar tudo.” Tudo o que Lucas faria, mas ele não está aqui agora. “Kellan, me ajude com uma lista do que precisa ser feito.”
As palavras soam oco, inadequadas frente ao peso do que representam. Mas agora é meu dever. Minha responsabilidade.
“Sim, Luna.”
Lisa se inclina para a frente de seu lugar no sofá. “Ava, você está bem? Você parece pálida.”
Meus lábios formam o que deve ser o sorriso mais fraco já tentado. “Estou bem.”
“Você não está.” Lisa coloca sua caneca de café na mesa com um leve tilintar. “Mas eu entendo. Só… deixe-me ajudar? Com qualquer coisa. Mesmo que seja apenas buscar café ou organizar papéis ou o que seja.”
“Eu sei.” A gratidão em meu peito luta com o esgotamento. Lisa sempre esteve lá, mesmo antes de toda essa confusão sobrenatural invadir nossas vidas. “Obrigada.”
A mão calorosa de Vanessa cobre a minha, seu toque suave apesar dos calos ganhos de anos de trabalho curativo. “Kellan pode cuidar da maior parte disso, Ava. Você deveria tentar dormir um pouco. Até uma hora ajudaria.”
“Não.” Puxo minha mão de volta, me endireitando na cadeira. “Essas famílias merecem ouvir isso de sua Luna. Eles precisam saber que suas perdas são importantes para nós—para mim.”
Vinte e sete rostos que nunca mais verei. Vinte e sete famílias esperando notícias. Vinte e sete lacunas rasgadas em nossa alcateia que nunca realmente preencheremos.
Deus. Vinte e sete… e poderia ter sido pior.
Você precisa descansar. A voz de Selene ecoa em minha mente, sua presença um sussurro fresco contra minha consciência. Há algo tenso em suas palavras, mas estou cansada demais para insistir.
“Só uma hora,” Vanessa insiste. “Talvez até lá o Grande Sábio tenha consertado os relógios, e podemos alcançar Lucas.”
Eu hesito.
Você se desgastou, concorda Grimório. Apenas tire um momento para si. Isso ajudará.