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- Capítulo 383 - 383 Lisa Desligando 383 Lisa Desligando LISA
383: Lisa: Desligando 383: Lisa: Desligando LISA
“Toma um banho.”
As palavras suaves de Kellan me distraem da escuridão dentro da minha cabeça.
Nem me lembro de ter saído do lugar da Ava, mas aqui estamos. Em casa. A casa dele, mas também minha.
Meus dedos se recusam a funcionar. O zíper do meu casaco fica firmemente no lugar apesar de minhas tentativas de agarrá-lo. Tudo parece distante, como se eu estivesse assistindo à inabilidade de mãos alheias nessa tarefa simples.
“Aqui.” As mãos dele substituem as minhas, firmes e quentes. Ásperas e calejadas. Fortes. Confiáveis. “Deixa que eu te ajudo.”
O zíper desce com um sussurro silencioso. Ele tira o casaco dos meus ombros, mas está quente aqui; eu não preciso dele. Já tem um fogo aceso no fogão à lenha. Não tenho certeza se alguém manteve isso para nós enquanto estávamos fora, ou se começaram quando voltamos.
Manchas escuras contra o tecido marrom, principalmente por trás. Sangue da Mira. A visão deveria me fazer reagir, deveria me fazer sentir algo. Mas não há nada. Apenas o vazio. Estou exausta; todos os meus sentimentos já foram sentidos.
“Braços pra cima.”
Obedeço sem pensar, permitindo que ele tire meu suéter. Depois a camisa térmica. Outro suéter. As camadas vão caindo uma a uma até eu ficar apenas com uma camiseta de manga comprida que gruda na minha pele, úmida sob os braços de suor.
“Suas calças estão molhadas da neve.”
Sua voz permanece suave, clínica. Como se ele estivesse falando com um animal assustado. Talvez esteja. Olho para minhas calças de neve, percebendo mais manchas escuras perto dos joelhos onde eu me ajoelhei ao lado de…
Hmm. Não. Esses pensamentos levam a perigo. Já passei tempo demais nesse caminho hoje.
Funciona, Lisa. Você precisa funcionar.
As botas saem em seguida. Depois as calças de neve. Duas camadas de leggings térmicas. Meus movimentos são mecânicos, automáticos, seguindo as instruções silenciosas de Kellan sem realmente processá-las. Meu corpo e minha mente perderam sua conexão intrínseca.
Ele junta as roupas ensanguentadas em uma pilha. Talvez precisem ser queimadas. Não dá para lavar tanto sangue. Não dá…
O quarto inclina levemente. A mão de Kellan estabiliza meu cotovelo.
“Chuveiro,” ele me lembra. “Você vai se sentir melhor assim que se aquecer.”
Será? Parece quente o suficiente aqui. Não acho que estou tão fria.
Além disso, o entorpecimento parece mais seguro do que o que quer que esteja do outro lado dele. Mas fico em silêncio, deixando que ele me guie para o banheiro. Meus pés se movem sem meu comando, me carregando pelo chão de madeira.
A luz do banheiro se acende. O vapor sobe do chuveiro—ele deve ter começado enquanto eu me despia. O espelho mostra o rosto de uma estranha, pálida e com os olhos vazios. Não a reconheço. Ela parece péssima.
“Você precisa de ajuda?” Ele pergunta da porta.
Nego com a cabeça. O movimento parece desconectado, como se meu corpo pertencesse a outra pessoa. “Eu consigo.”
“Estarei bem aqui fora se precisar de alguma coisa.”
A porta faz um clique ao fechar. Água tamborila contra o azulejo, preenchendo o pequeno espaço com ruído branco. Tiro as roupas restantes, lento e desajeitado. Entro debaixo do jato d’água.
O calor penetra no entorpecimento, apenas levemente. A água corre rosa por um momento enquanto lava vestígios de sangue que eu não havia notado nas minhas mãos. Até no meu pescoço.
Fico ali, deixando a água cair sobre mim, não realmente me lavando. Apenas… existindo. O vapor se envolve ao meu redor como um cobertor, e eu flutuo no vazio.
Minha mente desliga, me permitindo apenas existir no momento.
“Lisa?”
A porta do chuveiro abre abruptamente, deixando entrar uma onda de ar frio. A ampla estrutura de Kellan preenche o espaço, o ar frio soprando contra minha pele.
“Lisa? Você está aqui há vinte minutos.”
Um arrepio violento percorre meu corpo. A água golpeia minha pele como agulhas de gelo. Quando ficou tão frio? Eu não percebi.
“Droga.” Ele estende a mão para desligar a água. “Você está congelando.”
Meus dentes batem. Enrolo meus braços ao redor de mim mesma, subitamente ciente de como meus dedos estão entorpecidos. Quanto tempo estive de pé aqui? A última lembrança clara que tenho é ver o sangue girando pelo ralo.
Não gostei disso.
“Você nem mesmo se lavou.” A voz de Kellan continua suave, mas sua mandíbula se aperta. Ele pega o frasco de xampu. “Deixa que eu te ajudo.”
O calor das mãos dele contra meu couro cabeludo provoca a primeira sensação real que senti desde… desde. Seus dedos trabalham pelo meu cabelo com eficiência gentil, espalhando sabão em círculos cuidadosos. Fecho os olhos, focando nesse toque, no jeito como suas calosidades agarram levemente meu cabelo molhado.
Ele me guia de volta sob o jato, que ele ligou novamente. Está mais quente agora.
Enxágue, água desligada, condicionador, água ligada, enxágue.
Os movimentos se confundem enquanto as mãos dele descem até meus ombros, passando gel de banho na minha pele. Não há nada de sexual nisso—seu toque permanece clínico, proposital. Mas é real. Presente. A única coisa sólida em um mundo que desviou do eixo.
O vapor sobe ao nosso redor novamente. Sua camisa está completamente encharcada, colada ao seu peito. Ele parece não notar ou se importar enquanto termina de me lavar, seus movimentos rápidos, mas meticulosos.
“Fica aqui.” Ele se afasta, retornando com uma toalha enorme e fofa. O ar parece mais frio sem ele por perto.
Ele me envolve na toalha, esfregando meus braços para gerar calor. Outra toalha para meu cabelo. As mãos dele nunca param de se mover, nunca param de tocar. Cada ponto de contato me ancora um pouco mais firmemente no meu corpo.
Kellan se ajoelha, usando uma toalha limpa para secar minhas pernas. “Pé pra cima.” Ele bate no joelho dele.
Obedeço, observando enquanto ele seca metodicamente cada dedo do pé, meu tornozelo, minha panturrilha. As mãos dele são tão quentes. Tudo mais se sente distante, abafado, envolto em lã de algodão. Mas o toque dele… isso é real. Isso está aqui. Isso é agora.
A necessidade atinge como um golpe físico—o desejo desesperado de sentir algo, qualquer coisa, que não seja esse vazio horrível. De se conectar com alguém real e vivo e presente.
Eu agarro o rosto dele entre minhas palmas e esmago minha boca na dele. Sua barba por fazer arranha meus dedos. Seus lábios são suaves, surpresos. Por um batimento cardíaco, ele está absolutamente imóvel.