Enredado ao Luar: Inalterado - Capítulo 10
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- Capítulo 10 - 10 Ava Liberdade 10 Ava Liberdade Levo dois dias até desistir
10: Ava: Liberdade 10: Ava: Liberdade Levo dois dias até desistir e ligar para a Lisa, dez minutos antes do turno dela. Ela não atende na primeira vez, então ligo de novo. Desta vez, ela atende, e a voz irritada dela me traz lágrimas aos olhos.
“Alô?” aquela voz maravilhosa estala no meu ouvido, suspeita e na defensiva. Ela acha que sou uma ligação automática.
“Oi, Lise.” De alguma forma, consigo soar normal.
“Ava? Este não é o seu número. Você perdeu o telefone?”
Eu mexo na costura da minha calça jeans, olhando pela janela do trem, focando nas colinas que passam além das gotas de chuva espatifadas na minha janela. Eu troquei de trem algumas vezes e comprei vários bilhetes em cada estação, só por precaução, caso alguém descubra como eu saí da cidade. No fim, consegui fazer uma rota estranha e cheia de voltas que me trouxe a Washington. “É. Olha, se alguém da minha família tentar te contactar… Ô. Deus, vai ser um monte que eu não posso explicar antes do seu turno começar, mas a questão principal é que se minha família entrar em contato com você, diga que você não sabe de nada. Salve esse número com um nome qualquer. Me chama de Ashley ou algo assim.”
“Tá bom.”
A aceitação imediata dela aquece meu coração. Meu nariz formiga com algumas lágrimas escapando, descendo pelas minhas bochechas. É o suficiente para amenizar a dor no meu peito que se recusa a ir embora, como se algo importante estivesse faltando.
Isso só pode estar na minha cabeça, né…? Se ele fosse meu companheiro predestinado, ele nunca teria olhado para mim do jeito que olhou. Eu nunca ouvi falar de um predestinado que odeie seu companheiro. Nem mesmo os abusivos.
Mas eu sei que ele é. É um conhecimento profundo nos meus ossos. Droga.
“Eu, ah, fugi de casa. Longa história. Não vou voltar. Minha família não vai me deixar ir tão fácil.” Ou talvez eles simplesmente fiquem felizes de se livrar de mim. Isso seria bom. Espero pela resposta dela, mas não vem nenhuma. O silêncio da Lisa tem a ansiedade subindo pelo meu ventre e me apertando a garganta. “Lise?”
“Tô aqui. Só tô chocada. Não acredito que você fugiu. Quero dizer parabéns, mas não sei se isso é insensível. Quando você vai voltar? Um mês? Dois?”
Mordo meu lábio. “Nunca.”
“Nunca?!”
“Tem coisas que nunca te contei, e prometo que vou explicar tudo. Mas a primeira coisa é a mais importante. Eu não sou humana, Lise. Não exatamente, de qualquer forma. Minha família inteira, somos transformistas. Sou da Matilha Blackwood, e meu pai é o beta.”
“Os Blackwood são os transformistas lobos, não são? Os que governam toda a área?” A voz dela está num tom mais alto que o normal, mas pelo menos ela não está gritando.
Faço um som de concordância, e ela fica em silêncio de novo. “Desculpa não ter te contado,” sussurro, com a angústia percorrendo minha espinha. E se ela não quiser mais falar comigo? Eu sei que já me despedi dela há alguns dias, convencida de que tinha que deixá-la para trás pela segurança dela. Mas depois de tudo – eu preciso de uma amiga. Alguém do meu lado. Alguém para conversar. Alguém que se importe.
Um riso abafado e meio histérico vem do meu telefone. “Amiga, isso não me importa. Só estou… processando. Puta merda. Os Blackwood. Não é à toa que você disse que nunca poderia se mudar.”
“Isso.”
E é por isso que você simplesmente… fugiu. E não respondeu minhas mensagens nos últimos dias, aliás.”
A culpa faz meu pescoço se curvar até que eu pareça uma tartaruga. “Eu sei. Me desculpa. Abandonei meu telefone e pensei que não deveria te contactar, caso eles – bem. Caso.”
“Você acha que eles vão… Ai, merda, espera. Puta que pariu, a Shelby acabou de botar a cara aqui e me encarou. Preciso registrar meu ponto. Escuta, Ave. Vou salvar seu número, e vamos conversar direito, tá bom? Devo comprar outro telefone caso eles, sei lá, grampeiem o meu, ou algo do tipo? Eles podem fazer isso? Eu sei que eles controlam a polícia e tudo mais por aqui.”
Não consigo evitar a gargalhada histérica que escapa. “Não faço ideia. Oh, Deus. Espero que não consigam. Eu comprei um descartável. Talvez você devesse pegar um também.”
“Vou passar na loja no caminho de casa. Você está segura agora? Meu Deus, a Shelby está bem aqui. Preciso ir, mas preciso saber que você está segura.”
Eu assinto, apesar de ela não poder me ver. “Estou segura,” prometo, torcendo para estar certa.
“Tá bom. Eu te amo, amiga. Eu ligo pra você assim que puder.”
Um sorriso, o primeiro em dias, tenta aparecer no canto da minha boca. É por isso que eu cedi. Era disso que meu coração partido e sangrando precisava. Amor. Não rejeição. Não minha família. Não ele. “Eu sei. Também te amo.”
Fico olhando para meu telefone muito tempo depois que a Lisa desliga, minha mente um vendaval. O trem balança embaixo de mim, o ritmo constante um contraste gritante com o caos interno. Ainda não tenho certeza de até onde fugir ou onde é seguro. A influência da Matilha Blackwood se estende longe e ampla, com seus tentáculos alcançando todos os cantos dos Territórios do Noroeste.
Mais uma vez considero deixar a região inteira, começando de novo em algum lugar novo. Mas o pensamento é passageiro, substituído pelo conhecimento sombrio de que eu nada sei sobre outras matilhas de lobos. Seus territórios, seus costumes, suas leis – tudo um mistério para mim. Passei toda a minha vida dentro dos limites da Matilha Blackwood, nunca ousando aventurar-me além das suas fronteiras. As poucas coisas que sei são sobre as matilhas dentro dos territórios do Noroeste.
Meu coração bate em um ritmo errático enquanto considero um pensamento diferente, igualmente empolgante e aterrorizante. E se eu não procurar outra matilha de jeito nenhum? E se eu escolher viver como um humano? A ideia me dá arrepios, uma mistura de medo e antecipação. Deixar para trás tudo o que sempre conheci, para navegar em um mundo que eu só observava de fora…
Há um certo encanto nisso, a promessa de liberdade, de anonimato. No mundo humano, eu não seria Ava Grey, a filha do beta, a decepção da matilha. Eu poderia ser quem eu quisesse ser, livre das expectativas e julgamentos que me oprimiram por tanto tempo…