Duque, isso dói... - Capítulo 202
Capítulo 202: Desamparo
O doutor hesitou por um segundo, seus olhos indo de Corvo para Serafina. “Os riscos são altos,” disse ele devagar, como se pesasse cada palavra.
“O corpo de Madame é frágil, e levar a gravidez até o final vai ser difícil. Há uma chance das coisas se complicarem… e, no pior dos casos, tanto a mãe quanto a criança poderiam estar em perigo.”
O rosto de Serafina ficou pálido, mas ela não recuou. “O que podemos fazer para dar a este bebê a melhor chance?” ela perguntou.
O doutor suspirou, entrelaçando as mãos. “Descanse, Madame. Descanso total. Sem estresse, sem esforço físico. Vamos monitorar de perto a sua saúde, e eu vou prescrever alguns remédios para ajudar a fortalecê-la. Mas, além disso… está nas mãos do destino.”
Corvo sentiu o peito apertar ao ouvir “destino”. Ele odiava essa palavra. Parecia demais confiar na sorte, e Corvo não acreditava em deixar as coisas ao acaso. Ele olhou para Serafina, que o olhava com determinação tranquila e firme.
“Faremos o que for necessário,” ela sussurrou, sua mão gentilmente cobrindo o estômago.
O doutor deu um pequeno aceno. “Estarei verificando regularmente. E se algo parecer errado, não hesite em chamar imediatamente.”
Quando o doutor saiu, o silêncio encheu o quarto, quebrado apenas pelo estalar suave do fogo. Corvo sentou-se ao lado de Serafina, sua mente acelerada. Ele sabia o que o doutor havia dito, mas isso não facilitava nada. Ele não estava preparado para isso… não para a possibilidade de perdê-la.
“Eu não quero que você se preocupe,” disse Serafina baixinho, seus dedos roçando os dele.
Corvo encarou o fogo, observando as chamas dançarem. “Eu sei,” ele murmurou, embora seu coração ainda estivesse pesado. “Mas isso não significa que eu não vá me preocupar.”
Serafina deu a ele um pequeno sorriso tranquilizador, sua mão descansando novamente no estômago. “Isso é um milagre, Corvo. Eu não vou deixar o medo tirar isso de mim.”
Por muito tempo, Corvo não disse nada. Ele apenas ficou lá, perdido em seus pensamentos. Serafina sempre foi mais forte do que parecia, e sua resolução de proteger o filho era inabalável.
Mas, por mais forte que ela fosse, ele não conseguia se livrar do medo que se agarrava a ele como uma sombra.
À medida que a noite se arrastava, Corvo ficou bem ao lado de Serafina, sua mão cobrindo a dela, ambos pensando silenciosamente sobre o futuro. O fogo estava baixo, lançando sombras suaves e tremeluzentes pelo quarto, mas nenhum deles parecia notar.
Quando a primeira luz da manhã começou a filtrar pelas cortinas, Corvo ainda estava acordado. Seus olhos estavam vermelhos e cansados, e o sono havia há muito o abandonado. Serafina se mexeu ao lado dele, seu rosto pálido, mas pacífico enquanto dormia. Ele a observou por um momento, seu coração doendo com uma mistura de amor e medo.
Ele sabia o que tinha que fazer. Ele não podia controlar o que estava acontecendo, não podia parar os riscos que se aproximavam. Mas ele poderia estar lá para ela. Ele poderia ficar ao lado dela, não importa o quê.
Quando Serafina finalmente acordou, Corvo ainda estava lá, sua mão ainda segurando a dela. Ela sorriu suavemente para ele.
Serafina apertou a mão dele, seus olhos se voltando para a janela onde o sol da manhã estava apenas começando a surgir. “Eu posso sentir, Corvo,” ela sussurrou. “Eu posso sentir a vida dentro de mim. É pequena, mas é forte. Igual a nós.”
Corvo inclinou-se e beijou sua testa. “Então vamos garantir que essa vida cresça. Vamos protegê-la, Serafina. Não importa o quê.”
Ele não tinha certeza do que o futuro reservaria, mas uma coisa era certa — ele não ia deixar o medo ou o destino decidirem o resultado.
—–
Serafina ainda estava cuidadosa com o som de seus passos ao andar pelo quarto.
Até Lili e Pillen, que estavam cuidando dela, estavam sendo extra cautelosas.
Sob os olhos atentos de todos, Serafina lentamente voltou para a cama. Suas mãos começaram a mexer com algo, dedos agitando como se criassem algo pequeno.
“O que você está fazendo?” uma voz familiar perguntou.
“Oh, Corvo.” Ela olhou para cima, sorrindo suavemente ao ver o marido depois do que parecia uma longa semana. No entanto, ela sorriu como se o tivesse visto apenas ontem, com o mesmo calor gentil.
“Olhe isso,” ela disse, segurando algo em suas mãos.
Corvo ergueu uma sobrancelha, não muito certo do que ela estava mostrando a ele.
“O que é isso?”
“O que você acha que é?” ela retrucou com um sorriso brincalhão.
Corvo examinou o pequeno pacote de fio nas mãos dela. Era pequeno demais para ser chamado de produto acabado. “Uh… é um dedal?” ele adivinhou.
Serafina soltou uma risada suave. “Errado,” ela disse.
“Então… luvas?” ele tentou novamente, soando mais incerto.
“Não. Está na verdade acabado,” ela disse com um pequeno resmungo, olhando para sua criação. Mesmo ela tinha que admitir que parecia um pouco desajeitado.
“Estes,” disse ela, segurando o item minúsculo para ele ver, “são meias. São para o bebê. São pequenas, não são?”
Corvo olhou para as minúsculas meias em suas mãos, sentindo uma pontada de emoção. “Elas são… muito pequenas,” ele murmurou.
Serafina sorriu suavemente, seus dedos passando pelas meias pequenas. “Se o bebê crescer como isso, vamos conhecê-lo pelo verão — quando tudo está quente e fresco, num dia ensolarado e adorável.”
“Serafina…” O rosto de Corvo ficou tenso com as palavras dela. Havia algo no que ela disse que o atingiu como um soco no estômago. Lembrava-o do delicado equilíbrio em que eles estavam andando, um passo errado, e tudo poderia desmoronar.
Serafina olhou para ele, seu sorriso desaparecendo um pouco. “Corvo, quando olho para trás, percebo que não tive uma vida muito boa. Meus pais desistiram de mim por causa da minha doença, e as pessoas ao meu redor me ignoraram. Eu era desprezada pelas próprias pessoas que deveriam se importar comigo.”
“Eu sei,” disse Corvo suavemente, sua voz cheia de compreensão. Ele se lembrou da primeira vez que ela tinha se aberto para ele sobre seu passado, como as palavras dela haviam cortado-o como uma faca. Ele nunca poderia esquecer aquele dia.
“Toda vez que eu lutava para respirar através da febre, eu sentia falta de calor,” ela continuou, sua voz baixa. “O tipo de calor que te abraça, o tipo que te acalma. Não o tipo que queima através das suas veias como fogo.”
Serafina gentilmente colocou as meias minúsculas no cobertor ao lado dela, depois levantou o olhar para encontrar os olhos de Corvo. “Corvo,” ela sussurrou.
Sua voz era suave, mas ondulava com emoção. O coração de Corvo doía ao som dela, e seus olhos vacilavam um pouco.
“Eu quero criar este filho com amor,” ela disse, sua mão gentilmente descansando no ventre. “Eu quero mostrar a eles quão belo o mundo é. Eu quero que eles saibam que são profundamente amados. Eu quero vê-los crescer.”
A voz de Corvo tremeu quando ele falou a seguir. “Sempre há uma outra chance, Serafina.”
Lágrimas brilhavam em seus olhos, sua calma se desvanecendo. “Nós podemos tentar novamente. Uma vez que esteja saudável, podemos ter quantos filhos você quiser.”
Serafina balançou a cabeça suavemente. “Não, Corvo. Esta pode ser nossa única chance. Eu não acho que este filho veio até nós por acaso.”
O coração dele batia forte no peito enquanto ele tentava convencê-la. “Estamos apenas começando. Ainda há tempo. Podemos ter outro filho quando você estiver melhor. Quando você for mais forte.”
Mas Serafina apenas sorriu tristemente para ele. Ela conhecia seu próprio corpo melhor do que ninguém, e sabia que esta poderia ser a última chance que tinham.
Corvo sentiu uma onda de ansiedade o envolver. Seus pensamentos corriam, e seu peito se apertava. “Você só precisa se concentrar em ficar melhor. É só isso que me importa,” ele disse, sua voz soando mais desesperada.
“Corvo,” ela sussurrou, sua voz se partindo.
Ele agarrou as mãos dela, suas frias contra as dela. Vê-la assim, lutando tanto por algo tão frágil, partia seu coração. Lágrimas brotaram em seus olhos, e antes que ela pudesse contê-las, começaram a derramar por suas bochechas.
Ela não tinha certeza do porquê estava chorando, mas de repente tudo se sentia tão avassalador. Ela sentia pena dele, de si mesma, e da pequena vida dentro dela que se tornou o centro do mundo deles. Era tudo tão pesado.
“Eu sei que sou fraca,” ela disse, sua voz tremendo. “Mas esta pode ser a última chance que temos.”
A mão de Serafina moveu-se para descansar no ventre, onde o bebê estava crescendo. Ela havia acariciado o mesmo ponto tantas vezes na semana passada, encontrando conforto no pensamento da criança dentro dela.
“Eu já amo este bebê, Corvo. Desde o momento que soube que estava grávida, eu o amei.”
Os olhos de Corvo ardiam enquanto ele lutava contra suas emoções. “Por favor, Serafina,” ele implorou. “Por favor, não chore. Eu não suporto quando você chora. Eu não sei o que fazer quando você está assim.”
A dor no peito dele era insuportável. Ele teria preferido enfrentar cem batalhas do que lidar com essa impotência. Pelo menos em batalha, ele sabia o que fazer. Mas aqui, com Serafina, com o filho — ele não tinha respostas.