181: Reunião 181: Reunião Yan Zheyun aceitou a sugestão de Liu Yao para convidar Hua Zhixuan para tomar café da manhã no Palácio Qianqing. No entanto, ao contrário das intenções de Liu Yao, ele não permaneceu no Palácio Qianqing, optando por levar seu amigo através do palácio interior até o Palácio Chuxiu, onde Yan Xi agora residia.

Ele deliberou se teria sido mais prudente comparecer sozinho; sem dúvida, seria estranho para os outros que um irmão trouxesse um estranho à família quando se reencontrasse com sua irmã perdida pela primeira vez em anos. Mas Yan Zheyun não estava confiante de que tinha controle total sobre seus sentidos. Embora a estranha dissociação entre suas emoções e as do corpo anfitrião ainda afetasse ocasionalmente seus sentimentos, não era tão forte quanto antes. De fato, ele notou com uma leve sensação de inquietação que as linhas pareciam estar se confundindo. Por exemplo, ele podia afirmar que estava muito conflitante com a chegada oportuna de Yan Xi em sua vida, a alegria de recuperar uma irmã em guerra contra sua convicção de que ela foi enviada aqui como uma ferramenta política para prejudicar sua nova família.

Mas onde os sentimentos de Yan Yun costumavam ser muito distintos dos seus próprios, ele já não conseguia distinguir onde um começava e o outro terminava.

Hua Zhixuan, sempre astuto, seria capaz de ajudá-lo a manter a cabeça no lugar, se necessário. Talvez estivesse em seus genes — a Família Hua estava envolvida na corte imperial há gerações — mas esse amigo próximo dele nascera para ser um oficial. Enquanto estivessem do mesmo lado, Yan Zheyun poderia contar com ele para fornecer uma perspectiva objetiva sobre o dilema, além de criar uma estratégia que favoreceria seu campo.

A entrada do Palácio Chuxiu era praticamente a mesma das memórias de Yan Zheyun, delicada e pitoresca, mas nada tão extravagante quando comparada com a opulência dos outros palácios internos. Este era o local onde as futuras concubinas femininas eram alojadas, a casa dos sonhos, por assim dizer, exceto que Liu Yao era mestre em arruinar as esperanças das jovens idealistas que vinham e iam.

Yan Zheyun nunca havia entrado antes. Normalmente, nenhum homem, exceto o imperador, deveria ter permissão para visitar. As circunstâncias, no entanto, mudaram um pouco. Dado que o Palácio Chuxiu estava sendo usado como uma espécie de ‘hotel’ para um parente visitante, ninguém impediria Yan Zheyun de visitar quando quisesse, ou mesmo de trazer outro homem com ele quando o fizesse.

Essa era mais uma sinalização não dita de Liu Yao de que ele não considerava Yan Xi como uma de suas mulheres. Um irmão mais velho encontrando sua irmã mais nova de sangue em um espaço comum enquanto na companhia de um amigo poderia provocar alguma desaprovação nas camadas altamente conservadoras da sua sociedade — idealmente, Hua Zhixuan deveria se desculpar — mas não era o fim do mundo, já que o irmão mais velho deveria servir adequadamente como um acompanhante.

Ao permitir que Yan Zheyun fizesse praticamente o que quisesse quando se tratava de Yan Xi, Liu Yao estava enviando uma mensagem clara de que o papel de Yan Xi em seu palácio interno era o de uma cunhadinha e nada mais. Sem dúvida, a notícia da leniência de Liu Yao já teria se espalhado, não menos ao primeiro ministro do direito.

A corte da manhã deve ser interessante nos próximos dias, ele refletiu, sentindo-se ao mesmo tempo triste por Liu Yao e um pouco culpado por estar aliviado por não ser ele quem tinha que lidar com essa merda diretamente todos os dias. Especialmente agora que Liu Yao havia concordado em deixar Yan Xi ficar no Palácio Chuxiu, Yan Zheyun não ficaria surpreso se seus queridos ministros aproveitassem essa oportunidade e corressem a distância total da Grande Muralha com ela.

Mas ele confiava em Liu Yao para lidar com isso adequadamente.

A notícia de sua chegada havia sido enviada à frente por Xiao De mais cedo naquela manhã. Assim, Yan Xi já estava à espera deles quando chegaram, seus lindos olhos ingênuos brilhando de empolgação, emoldurados por longos cílios esvoaçantes que lembravam Yan Zheyun das belas bonecas de porcelana que Lixin costumava receber de tias bem-intencionadas que ainda não haviam percebido que sua irmãzinha irritante e tecnologicamente avançada da geração Z tinha outros hobbies.

Atrás dele, ele ouviu o suspiro de apreciação de Hua Zhixuan. Não havia como negar que ela era um deleite para os olhos. Um homem menos do que Liu Yao poderia ter sido tentado—ah, não, espere. Um homem mais hétero do que Liu Yao seria provavelmente mais preciso.

Yan Zheyun não pôde deixar de pensar nisso ironicamente. A orientação sexual não era um conceito bem formulado nesta era, caso contrário, o Primeiro Ministro Ren poderia ser um pouco menos convencido sobre sua pequena vitória.

“Grande Irmão, Xi Er está tão feliz que você veio me ver.”

Antes que Yan Zheyun pudesse ditar a dinâmica de seu relacionamento, ela estendeu as mãos para pegar as dele, dando-lhes um aperto firme antes de balançá-las de um lado para o outro. Juntamente com sua aparência jovial — se ela tivesse nascido nos tempos modernos, ainda estaria no ensino médio — ela não era diferente de uma menininha se comportando de maneira fofa na frente de um irmão mais velho enquanto pedia para ser mimada.

Pela primeira vez desde que a viu, ele finalmente sentiu uma sensação de familiaridade. Não diretamente para ela, mas isso trouxe uma onda de nostalgia pelos gêmeos. Ainda assim, de suas memórias, ele sabia que seu relacionamento com Yan Yun não incluía esse nível de proximidade. Como o único filho legítimo do ex-primeiro ministro, Yan Yun havia sido preparado desde jovem para ser um sucessor. Seu dia era preenchido com aulas de uma variedade de professores e não havia um espaço reservado para mimar uma irmã mais nova. Por sua parte, Yan Xi era uma menininha animada, correndo atrás de seu irmão na rara ocasião em que cruzavam caminhos no vasto complexo da residência do primeiro ministro. No entanto, ela também tinha seu trabalho a completar para crescer em seu papel como uma jovem senhora culta e elegante de uma das famílias mais proeminentes do reino. Como Yan Yun mal sabia o que ela fazia na maior parte do tempo, Yan Zheyun também não tinha ideia.

Mas ele poderia dizer com segurança que esse nível de afeto que ela estava demonstrando para com ele não era o modo como costumavam interagir um com o outro.

Talvez não fosse justo mantê-la aos mesmos padrões de quando tinha doze anos. O tempo tinha uma maneira de mudar as coisas e uma parte de Yan Zheyun odiava o cinismo autopreservador que ele havia cultivado depois de ser sabotado muitas vezes. Aos seus olhos, ela ainda era apenas uma criança.

Mas Xiaoma também tinha sido uma criança. Simpático ou não, ele não era do tipo que cometia o mesmo erro duas vezes.

Ocultando suas reservas sobre ela, Yan Zheyun estendeu a mão para dar-lhe um leve tapinha na cabeça. “Xi Er cresceu,” ele disse gentilmente, não sem calor, mas com um toque de distanciamento educado que visava fazê-la moderar um pouco sua familiaridade excessiva.

Se ela notou ou não, não deixou transparecer em seu rosto. Ela cumprimentou Hua Zhixuan com igual entusiasmo quando apresentada antes de levá-los ao pequeno, mas aconchegante salão de seus aposentos, enquanto conversava sem parar sobre todas as coisas que queria fazer agora que podia, como retomar as aulas de bordado e praticar guzheng. Dentro, sua criada já havia preparado chá e algumas sobremesas, uma refeição muito mais modesta do que Yan Zheyun estava acostumado a ver ultimamente, mas ele quase não se importava.

Sua atenção estava na criada dela, cuja beleza era fria e distante, em nítido contraste com a de Yan Xi. O que era mais revelador sobre ela, no entanto, eram seus modos. Embora ela tentasse ocultá-lo mantendo seus gestos mínimos e permanecendo principalmente nos bastidores, ele podia dizer que havia discrepâncias em seu comportamento que a distinguiam das criadas que foram especialmente treinadas para o palácio.

“Grande Irmão acha a Irmã Mais Velha Ling muito bonita?”

A provocação travessa de Yan Xi fez Yan Zheyun dirigir seu olhar diretamente para ela apenas para vê-la observando-o com uma curiosidade leve que ele não conseguia determinar se era fingida ou não. Em vez de responder à pergunta dela, ele respondeu com uma pergunta própria, “Sua criada… não foi designada a você após sua chegada?”

Ele não conseguia se obrigar a dizer ‘Irmã Mais Velha Ling’. Tinha um tom estranho, que fazia parecer demais que estavam falando de uma esposa inexistente, que seria a cunhada de Yan Xi.

Yan Xi piscou. “Ah, não,” ela disse, dando-lhe um sorriso doce. “Irmã Mais Velha Ling costumava cuidar de mim quando…” Ela baixou o olhar enquanto falava, um lampejo de incerteza e medo cruzando seu rosto como se ela estivesse lembrando de algo ruim. “O gonggong que me trouxe aqui ontem foi muito gentil ao me fornecer uma criada também, mas… Xi Er não está acostumada a ter tantas pessoas ao redor…”

Cada olhar, cada gesto era calculado para induzir tristeza. Yan Zheyun estava ciente disso, mas era difícil não sentir pena de uma jovem em sua situação. Mesmo que ela fosse, bem, perfeita de uma maneira que o deixava desconfortável, ele achava difícil continuar a sondar uma vez que ela mencionava o elefante na sala; seu passado não dito.

Felizmente, Yan Zheyun parecia ser a única pessoa presente com compaixão do século 21. Hua Zhixuan brincava com a tampa de sua xícara de chá despreocupadamente — ele não chegava a dar um gole, eles tinham um acordo tácito de que não tocariam na comida hoje — antes de balançar a cabeça. “Jovem Senhora Yan, você é nova aqui e isso é compreensível, mas você deve perdoar este humilde por apontar que seria melhor escolher suas palavras com cuidado antes de falar. Seu grande irmão e seu cunhado têm um relacionamento invejável e não seria bom fazer insinuações que possam ameaçá-lo, você não concorda?”

Yan Zheyun teve que usar sua mão para bloquear seu sorriso. Hua Zhixuan optou por se referir a si mesmo como ‘este humilde’ em vez de ‘este concubino’, realmente realçando o fato de que ninguém aqui via Yan Xi como uma potencial ‘irmãzinha’ do palácio interno. Olhando para Hua Zhixuan agora, sentado ali com seu ar erudito despretensioso, Yan Zheyun de repente se lembrou de sua equipe jurídica altamente competente.

Pela primeira vez desde o início de sua visita, Yan Zheyun viu o sorriso dela vacilar, mas logo ele se recompôs perfeitamente, agora com uma nuance apologética.

“Xi Er não foi cautelosa e não quis dizer nada com isso,” ela se preocupou, agarrando suas saias em uma exibição de ansiedade. “Grande Irmão, Xi Er não vai causar nenhum problema, eu prometo.”

Ele não tinha certeza se acreditava nisso, mas a tranquilizou mesmo assim. “Seu Grande Irmão Hua está apenas cuidando de você. Mesmo que você esteja apenas vivendo no palácio temporariamente, há muitas regras e regulamentos aqui e erros podem ser perigosos.” Ele quis dizer isso sinceramente. “Minhas preocupações serão aliviadas assim que você se estabelecer em segurança do lado de fora, mas até então, é melhor manter-se discreta, Xi Er, você entende o que o Grande Irmão está dizendo?”

Ao mencionar seu retorno para fora, Xi Er balançou a cabeça piedosamente. “Xi Er não quer ser separada do Grande Irmão,” ela disse com uma voz lamentável. “Xi Er está assustada, Grande Irmão, e se eles me levarem embora novamente?”

“Com a proteção do seu cunhado, quem ousaria prejudicá-la novamente?” ele respondeu calmamente. “De qualquer forma, não precisamos discutir isso agora, Xi Er acabou de voltar e precisa de um bom descanso relaxante.” Era evidente que ela não queria ser enviada para fora do palácio. Se isso era verdadeiramente por medo, amor por ele, ou algum outro motivo mais sinistro, eles teriam que descobrir. Poderia até ser uma combinação problemática do acima e se chegasse um momento em que Yan Zheyun tivesse que se opor à irmãzinha que prometeu proteger ao corpo hospedeiro…

Ele não queria pensar nisso agora. Havia coisas suficientes para lidar como estava; pelo que sabia, a morte do Escroto 2 poderia arrastá-lo pela lama e hoje seria o último dia que ele veria Yan Xi.

Eles não permaneceram aqui por muito tempo. Yan Zheyun podia dizer que Xi Er queria falar com ele sozinha, mas ele desviou isso com perguntas preocupadas sobre sua saúde, bem como discussões sobre quando ela queria que os momos viessem e a ajudassem a retomar seus hobbies. Entre Hua Zhixuan e ele, mantiveram a conversa trivial, muito cientes de que a ‘Irmã Mais Velha Ling’ estava praticamente monitorando abertamente tudo o que diziam.

Foi só após uma longa caminhada de volta, já fora do Palácio Qianqing, que Yan Zheyun se virou para Hua Zhixuan e pediu sua opinião.

Hua Zhixuan ergueu uma sobrancelha. “Eu só tinha um pensamento passando pela minha mente o tempo todo,” ele disse. “Eu estava me perguntando se o vínculo entre irmãos realmente era tão forte, de tal modo que tanto o grande irmão quanto a irmãzinha, apesar de serem cortados de seu modo de vida nobre e submetidos a dificuldades insuperáveis, ainda conseguiam manter tanta graça e compostura em seu comportamento que podiam envergonhar príncipes e princesas?”

Yan Zheyun riu, mas não respondeu. Ele sabia o que Hua Zhixuan queria dizer. Se Yan Xi realmente tivesse sido vendida para um bordel comum, como as pistas que Liu Yao havia descoberto pareciam sugerir, então o primeiro ministro Ren não teria ousado enviar chamadas ‘mercadorias manchadas’ para o palácio interno. Se ela tivesse sido criada como uma cortesã valiosa e treinada para servir apenas homens poderosos, seu comportamento poderia ter demonstrado refinamento extremo—Yu Lan, seu professor de dança anterior, vinha à mente—mas mesmo assim, esses padrões não eram tão exigentes como os que eram impostos aos nobres, ou mais importante, aos do palácio interno.

Yan Zheyun havia sofrido através daquelas infinitas lições de etiqueta logo após chegar no palácio. Yan Xi encobria isso com uma fachada de inocência infantil, mas eram as pequenas coisas inconscientes que a denunciavam, como a precisão de sua postura, o ângulo em que ela colocava seus pés no chão, e até mesmo a largura de seus sorrisos. Poucas concubinas no harém eram tão bem-educadas quanto ela; mesmo Yan Zheyun, que podia lembrar as regras, relutava em segui-las o tempo todo, apenas porque Liu Yao o mimava fechando um olho quando não havia mais ninguém por perto para desaprovar.

Um par de irmãos vendidos como escravos não deveria mais ter sido capaz de se passar por nobres. Se sua desculpa era que ele havia trazido consigo suas aulas de etiqueta ao transmigrar, qual era a dela?

“Diga-me, Irmão Hua,” ele murmurou. “Você já ouviu falar do conceito de shouma[1]?”

[1] Literalmente ‘cavalos magros’ (você provavelmente pode adivinhar por quê…). Essa era uma prática que se desenvolveu na Dinastia Ming, onde jovens promissoras eram compradas e cuidadosamente criadas para se tornarem concubinas ou prostitutas. Essas cortesãs de elite muitas vezes eram muito educadas e refinadas para atender sua clientela, mas também havia registros de algumas delas sendo criadas para se tornarem presentes políticos para homens poderosos e influentes (como um cenário de melhor entre os melhores). De qualquer forma, isso resultava em uma hedonista mercantilização das mulheres.