Desafie o(s) Alfa(s) - Capítulo 662
Capítulo 662: O Primeiro Cavaleiro
O apartamento deles fedía. Era o cheiro de cerveja choca e cebolas fritas, o tipo que se entranhava nas paredes e ficava lá porque ninguém tinha interesse em limpar.
Noah se movia pela cozinha apertada, colocando dois pratos descombinados na mesa bamba. Em seguida, ele despejou macarrão instantâneo em um, e esquentou o ensopado de ontem para o outro.
O garoto limpou a borda do prato do pai com a bainha da camiseta, não por afeto, mas porque se estivesse bagunçado, Anthony reclamaria.
Por um momento, Noah apenas encarou a comida.
Aquilo era o jantar para o pai dele e nada para ele mesmo. Seu estômago ronronou, mas ele ignorou. Ele tinha um turno em breve. O restaurante não permitia que os funcionários comessem durante o expediente.
Então, ele colocou a colher de lado e caminhou até a sala, onde Anthony estava sentado em sua poltrona afundada, olhos grudados na reprise de um jogo. Latas de cerveja formavam um castelo ao redor dele, uma visão que fez o nariz de Noah se enrugar de desgosto.
Desde que seu pai perdeu o emprego, e depois sua esposa, o homem havia se tornado um preguiçoso de sofá. Ele não fazia nada além de ficar sentado bebendo, assistindo TV e reclamando de praticamente tudo o dia todo.
“O jantar está pronto,” Noah anunciou.
Anthony resmungou, sem tirar os olhos da tela.
Noah colocou o prato na pequena mesa dobrável ao lado dele, então pegou sua jaqueta perto da porta da frente. Ainda cheirava levemente a gordura e sabão de louça do turno da noite passada. Mas não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso.
Ele estava vestindo a jaqueta quando a TV de repente mudou dos esportes para as notícias.
URGENTE — COLETIVA DE IMPRENSA DA ACADEMIA LUNARIS.
O volume explodiu pelo apartamento.
Uma repórter apareceu na tela, com a Diretora Jameson falando em uma tela dividida atrás dela.
Noah parou no meio do passo, seus olhos grudados na tela.
A Academia Lunaris era a academia de lobisomens mais antiga e prestigiada do país. Ninguém jamais ignorava um escândalo vindo daquele lugar.
“Que diabos é isso?” Anthony resmungou, pegando o controle remoto e aumentando o volume ainda mais.
“…atacou um estudante humano, Daisy Fairchild quase resultou em um incidente de afogamento…”
A respiração de Noah ficou presa. Ele tinha visto aquele clipe. Tinha se tornado viral e era praticamente tudo sobre o que todos falavam.
De repente, Anthony bateu sua lata de cerveja na mesa, assustando-o. “Inacreditável. Um desses vira-latas quase mata um humano, e ela sai só com uma expulsão?”
Ele zombou asperamente. “Total absurdo.”
Seu pai esvaziou o que restava de sua cerveja e limpou a boca com as costas da mão.
“No meu tempo,” Anthony resmungou, “aqueles malditos lobisomens sabiam o seu lugar. Eles se escondiam nas florestas vivendo de restos. Mas agora, estão nas notícias, vivendo como celebridades.”
Noah sabia exatamente por que ele os odiava tanto. Sua mãe tinha deixado a família por um lobisomem. Anthony nunca se recuperou da humilhação.
Ele apontou um dedo para a tela, o brilho capturado em seus olhos avermelhados.
“Você sabe por que ela sai impune?” ele rosnou. “Porque ela é uma deles.” Sua voz se achatou com ódio. “Eles se infiltraram em tudo — posições, poder, escolas de primeira linha. Eles estão se multiplicando, corrompendo e mudando as pessoas. Marque minhas palavras, nesse ritmo não haverá uma alma verdadeiramente humana restante. Todos carregarão um pedaço do sangue deles.”
Noah engoliu em seco, olhando para o chão. Ele entendia a raiva do pai, mas uma pequena parte dele se perguntava como seria ter mesmo uma fração de sangue de lobisomem. Ser forte, rápido e intocável. Talvez então ele não se sentiria tão fraco. Tão patético.
O discurso de Anthony aumentou, alimentado por amargura e álcool barato.
“Sua mãe costumava dizer que eles eram ‘incompreendidos.’ Era assim que ela os chamava.” Ele cuspiu a palavra como veneno. “Incompreendidos? Pura besteira. No fim, ela não dava a mínima para a família – a vadia só queria chupar pau de lobisomem.”
Noah estremeceu mentalmente com as palavras grosseiras de seu pai. Ele não precisava daquela imagem na cabeça, ela ainda era sua mãe, afinal de contas.
Anthony se levantou, balançando ligeiramente, e caminhou em sua direção. Ele colocou uma mão pesada no ombro de Noah.
“Escute-me, filho.”
Noah olhou-o nos olhos.
“Mesmo que você perca na vida,” Anthony disse, o hálito carregado de álcool, “não perca para um maldito lobisomem. Isso seria a pior coisa que você podia ser.”
Os olhos de seu pai estavam vazios e Noah apostava que ele devia estar revisitando suas escolhas de vida. Ou pelo menos pensou isso até o homem arrotar e o cheiro repugnante quase fazê-lo vomitar.
“Isso foi bom.” Anthony disse, aliviado. Depois cambaleou de volta em direção ao sofá, desabando nas almofadas com um gemido.
O homem resmungou, “Se ao menos alguém pudesse limpar esses vermes da face da terra.”
Noah não respondeu. Não havia sentido. Em vez disso, ele pigarreou e disse, “Estou indo para o trabalho.”
Anthony não o reconheceu. Nem um olhar. Nem um aceno. Nem um grunhido de adeus.
Noah exalou pelo nariz e balançou a cabeça. O que ele esperava, afinal?
Ele abriu a porta do apartamento e entrou no corredor, deixando para trás a cerveja choca e uma perda de pai.
“Merda.” Noah xingou em voz baixa ao checar o relógio. Nesse ritmo, ele iria se atrasar. Se tivesse dinheiro, teria pegado um táxi, mas não tinha, então ficou na parada de ônibus e rezou para que o ônibus chegasse rápido.
Não teve essa sorte.
Quando entrou apressado pela entrada dos fundos do restaurante, já estava cinco minutos atrasado. O cheiro quente e pesado de óleo de fritura e café queimado o envolveu como um cobertor gorduroso.
Ninguém o cumprimentou ou sequer olhou para cima. Era hora do rush, afinal, e os pedidos voavam, os cozinheiros gritavam, com as garçonetes serpenteando entre as mesas como se suas vidas dependessem disso.
Noah bateu o ponto, amarrou um avental na cintura e pegou uma bandeja. Estava prestes a começar a servir quando uma voz chamou do balcão.
“Noah.”
Ele se virou. Kelly estava ali, limpando a máquina de espresso com um tipo de foco cansado que dizia que ela já havia sobrevivido a um desastre matinal. Seus olhos nunca se levantaram para encontrar os dele.
“O gerente quer você no escritório.”
Noah congelou. “Agora?”
Kelly assentiu sem olhar para ele.
Foi então que o medo se instalou, sentando bem no meio do peito como uma pedra. Ele conseguia perceber
que algo estava errado.
“Ok,” Noah murmurou, forçando a palavra através da garganta seca.
Ele limpou as palmas nas pernas e seguiu em direção ao apertado escritório do gerente.