Desafie o(s) Alfa(s) - Capítulo 582
Capítulo 582: Está Tudo Bem Não Estar Bem
Um sino ominoso ressoou por toda a Matilha do Oeste em intervalos, seu som ressonante lembrava a todos que hoje era o enterro do Alfa Henry.
As ruas estavam repletas de membros da matilha que haviam saído de suas casas cedo, alinhados ombro a ombro ao longo das estradas por onde o corpo de Henry passaria. Todos estavam vestidos de preto, suas expressões solenes refletindo a gravidade do dia.
A procissão começou na entrada da casa da alcateia. Quatro Deltas emergiram, carregando o “suposto” corpo do Alfa Henry em uma laje de pedra gravada com o sigilo da matilha do Oeste.
A verdade era que não havia corpo para recuperar. A explosão foi tão consumidora que nem mesmo um único osso foi salvo do incidente. Tudo que Asher pôde reunir foram as cinzas deixadas no local da morte de seu pai.
Mas o Alfa Henry ainda era um Alfa, e a tradição exigia que ele recebesse todos os ritos de sepultamento. Para honrar isso, a matilha construiu uma efígie, moldando o contorno do corpo de Henry usando palha e argila. Essa forma foi então envolta em tecido branco imaculado, antes de ser envolvida em grossas peles de lobo, um sinal final de seu posto e status como Alfa.
Assim que o delta deu um passo para fora da casa do bando, as mulheres foram as primeiras a romper em um lamento. Os homens baixaram suas cabeças com um grunhido, carregando seu luto por dentro.
Enquanto os deltas seguiam em frente, Asher estava logo atrás deles, carregando uma foto do Alfa Henry Beladona. Elijah e os outros estavam logo atrás dele. Todos estavam indo para o campo sagrado da matilha do Oeste, onde o corpo de Henry seria queimado na pira.
Assim que a multidão avistou Asher, o lamento das mulheres intensificou-se. No entanto, enquanto alguns estavam ocupados chorando, outros começaram a jogar flores em seu caminho, uma última homenagem ao seu Alfa caído.
Asher não se deixou distrair. Seu rosto estava ilegível enquanto ele avançava, seguindo a procissão de acordo.
Não demorou muito antes que chegassem ao Campo Sagrado.
O campo se estendia amplamente, cercado por pilares de pedra altíssimos gravados com os sigilos das matilhas. Dizia-se que os primeiros lobos construíram este lugar durante a Grande Guerra, quando o número de mortos foi tão alto que precisavam de um solo santificado pela própria Deusa da Lua.
Com o tempo, tornou-se uma terra sagrada reservada para os mais honrados mortos. Agora, apenas Alfas e aqueles de alta patente eram enterrados aqui. Para descansar neste solo, era preciso merecer por feitos e classificação.
No centro, uma pira elevada aguardava, enquanto uma Mãe da Lua, vestida inteiramente com vestimentas cerimoniais brancas, permanecia solenemente ao lado da estrutura de madeira.
Os Deltas avançaram em uníssono, levantando cuidadosamente o “corpo” do Alfa Henry sobre a pira. Assim que recuaram, um pesado silêncio tomou conta da clareira, tão profundo que parecia que a própria terra estava prendendo a respiração.
Então foi a vez das Novas avançarem. Estavam vestidas inteiramente com vestimentas esvoaçantes brancas, e em suas mãos, estavam tigelas rasas cheias de incenso e ervas perfumadas.
Movendo-se em perfeita harmonia, as Novas começaram uma dança ritualística, seus pés descalços deslizando pelo solo sagrado. A névoa seguiu seus movimentos, rodopiando ao redor delas.
Ninguém ousou falar ou se mover. Mesmo as crianças mais pequenas ficaram imóveis, sabendo que essa dança era para a própria Selene, a Deusa da Lua. Esta era uma oferenda sagrada de devoção e orientação para a alma do Alfa falecido.
Quando a dança atingiu seu ápice, a Mãe da Lua ergueu as mãos bem alto, e as Novas congelaram no lugar. Então, ela começou a entoar em uma língua tão antiga que ninguém entre a multidão podia compreendê-la.
Dizia-se ser a primeira língua de seu tipo, falada muito antes de seu povo ser forçado a adotar a língua dos humanos através de séculos de assimilação. Agora, apenas os servos da Deusa da Lua eram ensinados nessa fala sagrada.
A voz da Mãe da Lua era assombrosamente bela, uma melodia tão estranha e profunda que, mesmo sem entender uma única palavra, todos os ouvintes sentiam arrepios. Era como se estivessem ouvindo os batimentos cardíacos da própria terra, antiga e eterna.
Depois da nota final, a Mãe da Lua abaixou a cabeça e exalou profundamente. Então, em um tom que todos entenderam, ela pronunciou a bênção sagrada: “Caminho iluminado pela lua, guie sua alma.”
“Caminho iluminado pela lua, guie sua alma!” Todos na multidão repetiram, já familiarizados com as palavras.
Uma das Novas avançou, ajoelhando-se enquanto oferecia à Mãe da Lua a tocha cerimonial, sua ponta brilhando com o calor da chama.
A Mãe da Lua aceitou-a com reverência, então caminhou até a pira e abaixou a tocha. A madeira seca pegou fogo instantaneamente, chamas rugindo à vida.
No momento em que a pira se acendeu, a Luna Patricia soltou um grito de dor, cru e gutural. Não estava sozinha, pois seu lamento foi acompanhado pelas vozes de todas as mulheres presentes, seus clamores se elevando juntos até se transformarem em um mar de luto.
Roman estendeu a mão e deu um tapinha gentil no ombro de Asher. Embora o Alfa Henry tivesse sido um absoluto bastardo em vida, ele ainda era o pai de Asher. E em algum lugar, enterrado sob toda a raiva e ressentimento, Asher estava sofrendo. Perder Henry significava perder a única família que ele tinha – mesmo que essa família não fosse nada além de dor e controle. Sim, Roman entendia tudo isso.
Sua própria família também não era grande coisa.
Mas Asher não estava mais sozinho. Ele tinha ele. Roman pensou com orgulho feroz. Ele seria a família de Asher a partir de agora. Não apenas ele, mas Violeta, Griffin e Alaric. Eles estariam lá para ele.
Enquanto a multidão ainda lamentava, o Rei Alfa Elijah se levantou. Assim mesmo, o lamento silenciou. Sua presença sempre causava admiração e medo.
Seu olhar varreu os lobos reunidos antes de sua voz profunda ecoar.
“Alfa Henry Beladona,” Elijah começou seu discurso dramático, “viveu uma vida invejável. Ele forjou a matilha do oeste com suas mãos e a tornou o que é hoje. E esse legado servirá de inspiração para seu filho e o próximo Alfa da matilha do Oeste, Asher Nightshade.”
Que porra é essa? O pescoço de Roman quase quebrou com a velocidade que ele virou. Não apenas ele, um suspiro coletivo varreu o campo sagrado.
Asher foi o mais surpreso. O que esse velho estava aprontando agora?
A expressão de Dominic era a mais cômica. Ele parecia alguém a quem acabaram de jogar merda na cara. Ele não podia acreditar.
Será que Elijah estava mesmo declarando Asher como seu sucessor?
Mas Elijah, como sempre, seguiu em frente antes que alguém pudesse pensar muito. Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso enquanto ele continuava, “Claro, antes de coroarmos nosso próximo Alfa, devemos honrar aquele que se foi. A instalação do monumento de Henry procederá conforme planejado.”
Asher resmungou baixinho. Justo quando você pensa que havia esperança para esse idiota.
Elijah continuou dizendo, “Nossos inimigos pensaram que nos debilitariam ao derrubarem o Alfa Henry,” ele trovejou. “Mas hoje não marca nosso fim, mas um novo começo! Uma matilha do Oeste mais forte e unida se erguerá dessas cinzas! Que comece a celebração!”
A multidão explodiu, uivos de aprovação ecoando na arena. Era tradição que após o luto viesse a celebração, sinalizando que a matilha do Oeste nunca ficava deitada quando derrotada.
Os preparativos já estavam em andamento. A celebração seria realizada na praça da matilha, já que a casa da alcateia não poderia acomodar toda a multidão. Já na praça, enormes fogueiras acendiam à medida que o cheiro de carne assada preenchia o ar. Músicos haviam tomado suas posições, o som dos tambores ecoava enquanto eles tocavam músicas festivas conhecidas pelas pessoas.
Um por um, os enlutados deixaram o solo sagrado, recuando em direção às festividades. Até que finalmente, apenas Asher permaneceu. Bem, Asher e Roman.
A pira tinha queimado completamente, restando apenas brasas incandescentes e o cheiro acre de fumaça. Mesmo que não tivesse sido o corpo real de Henry, ainda parecia final.
Asher olhava silenciosamente para os restos enegrecidos. Roman o estudava cuidadosamente.
“Você sabe,” Roman disse, “não é um crime chorar.”
A mandíbula de Asher se apertou. “Eu não vou chorar por aquele homem.” Sua voz era fria e ríspida.
“Você não precisa chorar por ele, Asher,” Roman lhe disse, “Chore por você. Chore por sua recém-descoberta liberdade.”
A cabeça de Asher se virou rapidamente para ele, os olhos se estreitaram. “Liberdade?”
Roman lembrou-lhe. “Você está livre agora. Henry não pode te machucar mais, Asher. Nunca mais.”
As palavras atingiram mais do que qualquer golpe. Asher olhou para Roman por um momento, depois dois. E assim mesmo, a represa quebrou. Seus lábios tremeram, e antes que pudesse se conter, lágrimas escorreram por seu rosto.
Todos os anos de abuso, de tortura, de carregar cicatrizes que ninguém podia ver, vieram à tona.
Roman não hesitou. “Venha aqui,” ele disse firmemente, envolvendo seus braços em torno de Asher.
Asher desabou contra ele, seus ombros tremendo enquanto chorava amargamente pela primeira vez em anos.
“Está tudo bem, irmão. Apenas deixe tudo sair. Deixe ir.” Roman o confortou durante todo o tempo.