Desafie o(s) Alfa(s) - Capítulo 439
Capítulo 439: Animal Acuado
O restaurante era todo feito de madeiras polidas, cadeiras de veludo, e tinha o tipo de silêncio que dizia que pessoas importantes comiam ali. Em uma palavra, tinha todo o calor de um cemitério. E sentado na cabeceira da mesa como um rei em seu covil estava o Presidente Roy.
Exceto que havia uma pessoa que Jameson não havia mencionado que estaria presente.
Natalie congelou, o fôlego foi arrancado de seus pulmões como um soco ao avistar ela.
Kate.
Sua madrasta.
Kate estava sentada ao lado do pai dela e olhou para cima no segundo em que sentiu sua chegada.
“Oh, veja quem finalmente apareceu,” Kate disse, sorrindo brilhantemente enquanto olhava sobre a borda de seu copo.
Mas Natalie não se moveu, ela ficou ali como um cervo pego pelos faróis.
“Por que você está parada aí? É o Presidente Roy. Cumprimente-o,” Jameson a cutucou com o cotovelo, tirando-a do transe.
O Presidente Roy não parecia um presidente, pelo menos não do jeito rígido e chato que a maioria imagina. Ele estava em seus cinquenta e poucos anos, mas a idade lhe pesava levemente.
Seu cabelo vermelho, penteado para trás com um toque de prata nas têmporas, dava-lhe uma aparência graciosa e marcante. Vestido com uma camisa azul-marinho impecável com as mangas arregaçadas e calças escuras, o Presidente Roy parecia relaxado, no controle e enganosamente acessível. Em forma, alto e confiante, ele ostentava poder sem precisar exibi-lo.
“Olá, Sr. Presidente,” Natalie cumprimentou, sua voz trêmula como a de alguém que acabou de correr uma milha.
“Olá, Natalie. Há quanto tempo? No ano passado?” Ele perguntou, seus olhos verdes estudando-a.
“Há dois anos, senhor,” ela respondeu educadamente.
“Oh,” Roy ficou surpreso. “Como o tempo voa rápido.”
“De fato,” disse David, o pai de Natalie, gesticulando para a cadeira. “As crianças crescem tão rápido hoje em dia. O que vocês dois estão esperando? Sentem-se logo.”
Natalie e a Diretora Jameson deslizaram para suas cadeiras, diretamente opostos a David Avax e sua esposa, Kate. Imediatamente, garçons uniformizados aproximaram-se deles e começaram a servir o primeiro prato: vieiras com manteiga de alecrim, uma tigela de sopa de abóbora com creme defumado para Jameson, e filé de robalo grelhado com risoto de trufas para Natalie.
“Eu vi sua entrevista,” Kate disse a ela, cortando o silêncio como uma das facas de bife sobre a mesa. “Você se saiu bem.”
Os dedos de Natalie tensionaram ligeiramente contra seu guardanapo. Ela não olhou para ela quando disse, “Obrigada.”
E foi só isso. Não havia calor, nem seguimento às suas palavras.
David soltou uma risada seca. “Isso é mais do que você disse à sua mãe em dois anos.”
O Presidente Roy, já levantando seu copo, pausou no ar. “Dois anos?” ele perguntou, claramente surpreso.
Kate soltou uma pequena risada. “Natalie quase nunca vem para casa. Quando a escola fecha, ela parte para onde bem entende, qualquer lugar menos casa.”
Natalie pegou seu copo de água e tomou um gole lentamente. Isso? Tudo isso? Era seu pesadelo ganhando vida.
“Eu os vi a maior parte da minha vida,” ela disse calmamente, colocando o copo na mesa. “Gostaria de explorar o resto do mundo agora.”
Isso rendeu uma verdadeira risada do presidente.
“Bem, não vou culpá-la por isso. Eu era igual a você quando era mais jovem, sempre em movimento. Bem, até conhecer minha esposa.”
Todos explodiram em risadas com a brincadeira.
Todos, exceto Natalie. Ela apenas dobrou suas mãos em seu colo, expressão ilegível, e esperou a verdadeira conversa começar.
Ou talvez, ela pudesse pegar o touro pelo chifre, já que todos estavam dançando em volta dele.
“Acho que devo agradecê-lo pelo novo cargo.” Ela disse diretamente ao presidente Roy.
O presidente Roy limpou a boca com seu guardanapo e o colocou sobre a mesa.
“Espero que você entenda a importância do seu novo papel,” ele começou, seu tom quase paternal. “Você não é apenas uma Líder da Casa. Você é os olhos e ouvidos do nosso povo naquela Academia.”
Natalie levantou uma sobrancelha. “Então eu sou uma espiã.”
Ele abriu as mãos. “Quero que você observe. Para garantir que aquela escola não se torne um terreno fértil para a supremacia dos lobisomens. Estamos simplesmente equilibrando as balanças.”
“Isso é rico,” Natalie murmurou, espetando sua comida com mais agressividade do que necessário. “Somos nós que nos impusemos naquela academia centenária deles. Aquela escola não implorou por estudantes humanos, nós invadimos.”
“Natalie!” David a advertiu, mas o presidente Roy levantou uma mão, parando-o.
O sorriso do presidente Roy não vacilou.
“Idealismo é um luxo, Natalie. Eu preciso de pragmáticos. Dormínia prospera no equilíbrio. E agora, o conselho precisa de uma voz humana em quem possa confiar.”
“Então você escolheu a garota que não pediu por isso e empurrou-a para frente de um pelotão de fuzilamento,” Natalie disse friamente. “E eu devo fazer o jogo enquanto os lobos me encaram como se eu tivesse roubado o reino deles.”
Jameson interveio. “Você não é um substituto, Natalie. Você é um símbolo. A Quinta Casa representa um novo capítulo para a Academia Lunaris, um onde os humanos não são apenas tolerados, mas têm seu lugar de direito na mesa.”
Ela colocou seu garfo na mesa. “E se eu não fizer isso?”
“Então outra pessoa fará,” seu pai disse, sem remorso. “Eles não serão tão inteligentes quanto você, claro, mas farão o trabalho. Com ou sem o nome Avax.”
O ponto foi feito.
Natalie levantou-se de sua cadeira com uma graça controlada, dobrando seu guardanapo e colocando-o ao lado de seu prato.
“Se me dá licença,” ela disse, sem oferecer mais explicações.
Ninguém a impediu. Jameson olhou brevemente para cima, mas David não piscou. O presidente Roy continuou a girar seu vinho enquanto Kate a observava como um falcão.
Natalie saiu da sala de jantar com passos firmes, mas no momento em que virou na esquina do corredor de mármore, seu controle quebrou. Ela correu para o banheiro em vez disso.
Dentro, Natalie ligou a torneira, encheu as palmas com água fria e jogou sobre o rosto. Sua respiração prendeu levemente enquanto ela olhava para seu reflexo no espelho.
Por muitos motivos, era por isso que ela se mantinha longe de casa. Ela não queria ser puxada para esse caos de política, e jantares de poder.
Ela pegou uma toalha e ainda estava enxugando a água do rosto quando o suave rangido da porta do banheiro se abrindo alcançou seu ouvido.
Ela olhou no espelho e todo seu corpo ficou tenso.
Era Kate.
A mulher entrou devagar e sem quebrar o contato visual alcançou para trancar a porta com um clique suave que soou como um tiro no silêncio.
“Olá, Natalie,” Kate virou-se, um brilho lupino nos olhos.
Arrepios subiram na espinha de Natalie como uma fileira de pequenos punhais e ela soltou a toalha lentamente. Seu reflexo já não estava calmo, mas alerta como um animal encurralado.