Capítulo 392: Algo Humano Nele
Violeta não fazia ideia de há quanto tempo estava gritando, uma ou duas horas? Parecia uma eternidade desde que Griffin, não, A Besta, a tinha jogado sobre seu ombro como um saco de farinha e saído em disparada.
Eles não estavam apenas correndo. Ele estava saltando de um topo de árvore para outro, sobre desfiladeiros, através de penhascos e por entre nuvens, pelo que ela sabia.
O mundo tinha se tornado um borrão de vento, folhas rugindo e náusea. Era apenas uma floresta sufocante e interminável. Então, quando ele finalmente parou, levou um segundo para Violeta perceber que o borrão havia cessado.
Ele a deixou cair sem cerimônia no chão e, no momento em que os pés dela tocaram a terra firme, as pernas de Violeta cederam com um tremor dramático. Seus joelhos bateram no chão musgoso da floresta, e ela rastejou fracamente para frente, apenas para vomitar tudo o que restava em seu estômago. Ela se engasgou e arquejou até que não houvesse mais nada.
Quando tudo acabou, Violeta se afastou da bagunça e desabou de costas ao lado de uma pedra lisa. A frieza da pedra era tão reconfortante. Então ela ficou ali por um longo momento, tentando se lembrar de como era sentir o ar nos pulmões.
Acima dela, o céu estava pintado em tons de índigo profundo e dourado desvanecido enquanto o sol começava a descer, banhando a clareira em luz âmbar.
O cheiro de terra e musgo era forte no ar, mas logo adiante, uma nascente jorrava do lado de uma rocha, formando uma cortina prateada que caía em uma piscina rasa. O pequeno riacho era claro e tranquilo enquanto serpentava por entre as árvores densas.
Não que Violeta se importasse mais com onde estavam. Ela só queria respirar. Mas a paz, é claro, foi de curta duração.
O som de respiração pesada veio em seguida, seguido por um rosnado baixo, com o chão tremendo levemente à medida que “ele” aparecia.
E sim, Violeta estava falando sobre um ser massivo de quase dois metros e meio pairando sobre ela com aquele olhar primitivo nos olhos. Seu cabelo grosso caía em ondas desgrenhadas pelas costas, e seus braços inchavam com poder animalesco. Ele era uma fera por completo.
A Besta se abaixou, farejando-a com arfares exagerados como um predador demarcando seu território. Violeta nem se deu ao trabalho de estremecer, apenas ficou ali, olhos semicerrados e emocionalmente esgotada.
“Faça o que quiser, amigão,” murmurou. “Só não babe em mim.”
Depois de um momento de inalação bastante invasiva, A Besta de repente congelou. Suas narinas inflaram e seus olhos se estreitaram em uma expressão de confusão. Ele rosnou baixo, como se não gostasse do cheiro dela.
“Parceiro,” disse ele, voz rouca e gutural. “Cheiro errado.”
E então, absurdamente, Violeta começou a rir. Nesse ponto, era isso ou chorar.
“Oh, é mesmo? Meu cheiro te ofende? Você é quem deveria falar quando seu nariz gigante continua soprando ar quente no meu rosto!” Ela lhe mostrou o dedo do meio sem nem olhar.
A Besta recuou com um rosnado gutural, lábios franzidos de aparente ofensa.
“Parceiro. Banho.”
Sua voz carregava o peso da autoridade, como se fosse um jovem imperador comandando seu reino. Ele gesticulou em direção à cascata com uma garra pontiaguda.
“Oh, pelo amor de Cristo!” Violeta gemeu. “Deixe-me recuperar o ar, pode ser?!”
Violeta estava cansada. Seu corpo doía. Ela realmente precisava de um momento para processar tudo o que havia acontecido até agora.
Mas A Besta, impaciente e completamente surdo às emoções humanas, começou a andar de um lado para o outro, rosnando baixo. Seus passos
pareciam quebrar galhos e fazer a terra tremer, sua frustração evidente.
Mas aquele movimento deu a Violeta a oportunidade de notar algo que ela não tinha percebido até agora.
“Oh querido Deus…” Ela engoliu em seco à vista d’A Besta lá embaixo.
Violeta tinha visto vislumbres de Griffin durante a transformação e sabia que ele era er… bem, abençoado. E, infelizmente, isso era ainda mais evidente na forma de besta.
Ela olhou com horror profano para a literal lança balançando entre as pernas dele.
“Lua e estrelas, não.” Violeta sussurrou, recuando um pouco na terra.
Não, não, não. Isso não vai acontecer. Ele a destruiria com aquela coisa. Eles não fariam isso.
A Besta, aparentemente alheia à sua crise interna, se inclinou novamente.
“Parceiro. Cheiro. Não como Parceiro.” Ele resmungou, tentando passar uma mensagem enquanto apontava mais uma vez para a cachoeira com um grunhido firme.
E sim, não era um pedido.
Violeta soltou um grito quando A Besta a agarrou mais uma vez, desta vez erguendo-a e marchando diretamente em direção à cachoeira. Antes que ela pudesse protestar, ele a mergulhou de cabeça na água.
Ela se debateu selvagemente, bolhas escapando de seus lábios enquanto seus membros agitavam sob a superfície.
Ele estava tentando afogá-la?!
Justo quando o pânico realmente se instalou, ele finalmente a soltou, e Violeta emergiu à superfície com um largo suspiro, tossindo e engasgando enquanto a água escorria por seu rosto.
“Que diabos?!” ela gritou entre respirações ofegantes, afastando o cabelo encharcado dos olhos.
Movida por uma fúria justa, Violeta se lançou em sua direção, com a intenção de atacá-lo e fazê-lo pagar. Mas tudo o que conseguiu foi escorregar e cair de bunda, enviando outro jato de água em seu nariz.
Violeta gemeu de frustração, pronta para amaldiçoá-lo até a eternidade, mas parou imediatamente quando ouviu o som profundo, gutural e surpreendentemente alegre que saía de sua garganta.
A Besta estava rindo?
Violeta piscou. Que diabos sagrados…?
Foi a primeira vez que ela viu algo remotamente humano nele desde que ele surgira, e isso a deixou atônita em silêncio.
Então uma ideia a atingiu.
Violeta pegou um punhado de água fria e jogou diretamente no rosto dele.
A Besta parou enquanto a água pingava de seus cílios e nariz, e ele ficou tão imóvel que até os pássaros parecem ter silenciado.
O coração de Violeta acelerou. Será que ela tinha ido longe demais?
Mas então, seus lábios se contraíram e ele explodiu em uma gargalhada desenfreada que ecoou pelos penhascos e árvores ao redor deles.
Então, sem aviso, A Besta se abaixou, recolheu água com suas enormes mãos e jogou de volta nela.
Oh merda.
A força quase derrubou Violeta novamente. A água encharcou-a de cima a baixo, seus pijamas já molhados grudando em seu corpo como uma segunda pele.
Ela limpou o rosto, arfou e estreitou os olhos com o sorriso de uma mulher que acabara de declarar guerra. “Você está morto!” ela rugiu.
E assim, Violeta começou uma batalha de água que ela sabia desde o início que não venceria. Ainda assim, valeu a pena.