857: Nenhum lugar 857: Nenhum lugar O estrondo alto no chão fez Iryz soltar um grito de choque. As mãos dela cobriram sua boca por um momento antes de ela se arrastar freneticamente sobre mãos e joelhos em direção à borda da cama. Ela não esperava que sua própria reação viesse tão rápido como um reflexo.

Ela olhou para baixo, na direção de Zeres, que estava esparramado no chão ao lado da cama dela, sentindo-se culpada e preocupada. “Você… está…” a voz dela se perdeu ao ver a indiferença dele, deitado imóvel no chão. Sua expressão era… ele parecia genuinamente chocado. Era como se ele ainda estivesse tentando entender o que tinha acabado de acontecer na vida dele.

Iryz não pôde evitar a risada que estava borbulhando e prestes a explodir de seus lábios. Ele nem se mexia uma única polegada enquanto continuava ali deitado de costas, olhando para o teto do quarto dela.

“Você tá bem?” ela perguntou de novo, lutando e finalmente conseguindo engolir o riso.

Ele olhou para ela mas ainda assim não se mexeu. Continuava como se estivesse processando os motivos e como tinha acabado no chão.

“Ahm… sim… Estou bem.” ele finalmente respondeu, piscando para ela.

Iryz pressionou seus lábios com força um contra o outro. Parecia que aquele homem nunca havia sido expulso de uma cama antes, e essa primeira experiência o tinha jogado num atraso tão grande que ele estava tendo problemas para responder como de costume.

“Me desculpa por isso… Eu estava só muito atordoada por te encontrar…” ela limpou a garganta e mudou de assunto imediatamente, indo com a suposição de que ele entenderia para onde estava indo aquela frase. “Enfim, me desculpa. Eu não quis te empurrar tão forte.” Ela se desculpou meio envergonhada.

Ele apenas a encarou por um bom tempo antes de, lentamente, sua expressão mudar para algo… triste, a despeito do pequeno sorriso que parecia se formar em seus lábios. “Não… esse chute… eu mereci totalmente.”

Enquanto Iryz ficava sem fala com a auto-recriminação dele, ele soltou um suspiro profundo e cobriu seus olhos com as costas de sua mão. Ele não parecia ter planos de se levantar do chão mais. Esse homem… por que ele tinha que agir assim? Como ela poderia ter coragem de simplesmente expulsá-lo da casa dela quando ele estava se comportando todo cabisbaixo e melancólico desse jeito?

“Me desculpa muito, Iryz.” Ele murmurou um pedido de desculpas sem olhar para ela. “Foi presunçoso da minha parte… me agarrar em você assim e dormir na sua cama quando você está bêbada.” Sua voz estava cheia apenas de arrependimento e culpa.

Levou um momento antes que ela conseguisse finalmente abrir a boca para responder. Mas antes que ela pudesse formar alguma palavra, ele tomou a frente e falou primeiro.

“Iryz…” ele chamou o nome dela com uma voz suave.

“O-quê?” ela não pôde evitar de ficar atordoada ali. Era tão raro para ele chamar o nome dela. E a forma como a voz dele soou quando chamou ‘Iryz’ apenas enviou um choque de eletricidade por ela. Por que ela sentia como se ele estivesse chamando o nome dela com muito mais frequência ultimamente? Ela franziu a testa. Será que era só ela sendo excessivamente sensível novamente?

Ele tirou a mão do rosto e virou para olhá-la de sua posição deitada no chão. Por alguma razão… parecia haver algo que tinha mudado na forma como ele a olhava. De alguma forma, seu olhar parecia mais intenso, cheio de significado – como se ele estivesse dizendo algo usando apenas seus olhos. E o coração dela… seu estúpido, estúpido coração se agitava freneticamente, por conta própria.

“Eu quero… morar aqui. Na sua casa.” Ele finalmente disse e foi a vez de Iryz simplesmente ficar ali, imóvel, incerta se ela tinha ouvido certo da primeira vez. Era como se seu sistema tivesse dado pane na hora mais crítica.

“Como é que é?” ela respondeu sem jeito.

“Eu vou pagar aluguel…” ele adicionou rapidamente, caso ela quisesse rejeitá-lo. Seu rosto estava sério demais enquanto ele fazia a barganha. “Se estiver tudo bem para você, eu posso pagar talvez dez mil dólares por mês? Ou até mais se você achar que não é o suficiente. Não me importo com a quantidade. Também não me importo em continuar sendo seu modelo para seus esboços. Eu não tenho mais nada para fazer agora mesmo –” Zeres divagava. Iryz estava tão chocada por nunca ter ouvido Zeres falar tantas palavras de uma vez só para ela antes, que ela não conseguiu responder por alguns segundos.

“Espera…! Espere um minuto, seu louco. O que diabos você está dizendo?!” ela não suportou mais. Ela não viu isso chegando. De jeito nenhum! O que diabos estava acontecendo?! Ela por acaso entrou em um universo alternativo sem querer talvez??!! Por que Zeres estava se comportando tão… diferente do Zeres usual?!

Ele apenas a olhou. Sua expressão permaneceu séria. “Eu quero morar aqui. Na sua casa.” Ele repetiu devagar, de maneira direta e sem nenhum indício de brincadeira. Isso fez com que os lábios de Iryz se entreabrissem.

Então ela soltou uma risada constrangida. Seria ainda mais estranho se ela tivesse apenas ficado quieta e olhado para ele como se ele fosse louco. O que ela realmente pensava que ele poderia estar no momento. Ele bateu a cabeça em algum lugar antes de vir vê-la?

“Você tá brincando.” Iryz expressou como uma afirmação.

“Não. Não estou, Iryz. Estou falando muito sério.”

“Nossa, mas por quê?!” Os olhos dela estavam arregalados enquanto ela o questionava. “Por que você viria para cá e pagaria aluguel para morar em uma biblioteca decadente?”

Ele colocou o braço de volta sobre seus olhos e respondeu com uma voz baixa. “Eu não tenho… mais nenhum lugar para ir…”

Iryz sentiu como se estivesse prestes a explodir e antes que percebesse, desceu da cama e se agachou ao lado dele. Ela pegou a mão dele de seus olhos e fez ele olhar diretamente para ela.

Quando ele fez isso, ela o bombardeou com palavras. “Olha aqui, Zeres. Você tem um apartamento de luxo enorme em um dos prédios mais altos da cidade e você está me dizendo que não tem mais nenhum lugar para ir? Não me diga que o lugar não é seu porque eu não vou acreditar. Nem por um segundo! E com certeza, alguém como você definitivamente teria muitos outros lugares para onde ir. Então me diga a verdadeira razão ou eu vou te expulsar da minha casa agora mesmo!” ela ameaçou.

“Porque… porque este lugar parece com… casa. E você está aqui.”