Casamento de Conveniência com o Alfa Snow - Capítulo 470
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Capítulo 470: Tornando-se Verdadeiro
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CAPÍTULO 470
~Ponto de Vista de Zara~
O cheiro de sangue me atingiu primeiro. Grosso. Metálico e tão errado.
Eu estava correndo, pés descalços batendo no chão que mudava sob mim—às vezes pedra, às vezes grama, às vezes nada.
O ar estava silencioso, silencioso demais, como se o mundo segurasse a respiração antes de se quebrar.
As árvores ao meu redor se retorciam como se estivessem vivas, galhos se estendendo em minha direção como garras. Eu não tinha certeza de para onde estava indo. Eu só sabia que precisava chegar lá.
Ele está ferido.
O pensamento não era meu, mas pulsava na minha cabeça como um tambor.
“Ele está morrendo.”
Eu tropecei na clareira e parei. Davion estava deitado no chão, olhos fechados, peito imóvel.
A camisa dele estava encharcada de sangue, carmesim se espalhando sob ele como uma flor em flor. A visão dele tirou o fôlego dos meus pulmões.
“Não…” Engasguei, tropeçando em sua direção. “Não, não, não…”
Eu caí de joelhos, estendendo a mão para ele.
Mas assim que meus dedos tocaram sua bochecha, seu corpo cintilou—piscaru—e de repente, não era Davion deitado ali.
Era Snow.
Eu ofeguei e recuei minha mão brevemente antes de olhar ao redor, certificando-me de que não estava enganada.
Seus cabelos pretos estavam espalhados pelo chão com as pontas agora coloridas de azul, assim como os de Davion eram de um roxo.
A expressão de Snow era pacífica, como se ele simplesmente tivesse adormecido em um campo de morte. O ferimento ainda estava lá, fresco e escancarado.
“Não!” Eu gritei.
Pressionei minhas mãos em seu peito, tentando parar o sangramento, tentando fazer algo, qualquer coisa—mas ele não se mexeu.
Lágrimas embaçaram minha visão. Pisquei, e de repente o mundo mudou novamente. O corpo dele estava se desfazendo.
Primeiro suas mãos, depois seu peito, depois seu rosto—tudo se transformando em areia. Grão por grão, Snow escorria pelos meus dedos, desaparecendo no vento como se nunca tivesse sido real.
Eu ofeguei, caindo para frente, minhas mãos arranhando a pilha de areia que tinha sido ele.
Então os rosnados começaram. Baixos, famintos por todos os lados.
Eu olhei para cima, segurando a respiração na garganta.
Lobos renegados—meio transformados, olhos brilhando em sanguinária—a me cercarem. Alguns usavam restos esfarrapados de roupas, outros pingavam sangue fresco. Seus dentes estavam arreganhados, e eles avançavam a cada segundo.
Eu tentei me levantar, correr, mas minhas pernas não se moviam. Eu estava paralisada, ajoelhada no pó daquele que eu amava, cercada pelas coisas que o haviam tirado de mim.
Um dos lobos lançou-se — mandíbulas batendo a apenas centímetros do meu rosto.
Mas então, tudo parou.
Os lobos congelaram. O ar ficou mais pesado. E atrás de mim, senti algo mudar.
Um respiro. Um batimento cardíaco.
Eu me virei lentamente, sem ousar ter esperança.
O corpo de Snow estava novamente no centro do círculo. Inteiro. Imóvel.
E então seus olhos se abriram.
Eles não eram azuis.
Eram de um profundo, brilhante violeta—sobrenatural e de outro mundo. Eles olharam diretamente para mim, através de mim, como se descascassem cada camada da minha alma.
“Zara,” ele disse, a voz baixa e ecoando como se não pertencesse a este mundo. “Acorde.”
Eu ofeguei—e me sentei ereta na cama, peito arfando, coração disparado, encharcada de suor frio.
O quarto estava escuro, a luz da lua filtrando pelas cortinas. Tudo estava quieto.
Simplesmente um sonho. Apenas um pesadelo.
Mas minhas mãos ainda tremiam.
Eu deslizei para fora da cama com cuidado, tentando não acordar Snow, e andei até o corredor. Meus pés encontraram a cozinha com facilidade. Eu enchi um copo com água, a cerâmica fria gelando contra minha pele enquanto bebia.
Eu me encostei no balcão, com o coração ainda trovejando.
O que havia sido aquilo?
Davion. Snow. A areia. Os lobos. Os olhos… Olhos violetas.
Esse detalhe grudou em mim como um espinho sob a pele.
Pressionei o copo frio na testa, tentando desacelerar meus pensamentos.
Mas algo dentro de mim sussurrava que não tinha sido apenas um sonho.
Não inteiramente e a parte aterrorizante era… não era a primeira vez que algo estranho acontecia. Já estava se manifestando na vida real.
Fiquei tentada a pegar o telefone e ligar para Davion, mas resisti ao impulso.
A cozinha estava mal iluminada, iluminada apenas pelo leve brilho azul da luz da lua entrando pelas janelas.
Sentei-me na borda do banco de madeira, ambas as mãos envolvidas em torno do meu copo.
Eu olhei para a água parada no meu copo, observando o reflexo dos meus próprios olhos grandes e cansados. Os olhos de Davion eram violetas. E os de Snow—os de Snow nunca tinham sido dessa cor até agora.
E o que dizer do outro dia? Quando eu olhei para ele, e por apenas um piscar de olhos, seu olho esquerdo tinha sido de uma cor diferente—azul como a geada, não o prateado brilhante usual.
Heterocromia. Fugaz, mas distinta.
Eu fechei os olhos, meus dedos apertando em torno do copo. Eu sentia que estava perdendo a noção do que era real e do que era sonho. Eu estava apenas projetando? Ou algo… estava mudando?
Uma batida suave me tirou dos meus pensamentos.
A porta da cozinha se abriu suavemente, e Siona entrou, cabelo trançado para trás, vestida com uma simples camisola. Ela não parecia surpresa em me encontrar acordada, quase como se já esperasse por isso.
“Não conseguiu dormir?” ela perguntou gentilmente.
Eu balancei a cabeça. “Pesadelos.”
Siona caminhou até o balcão, serviu-se de chá da panela que sempre parecia magicamente quente, e se sentou à minha frente, seus olhos violetas afiados escaneando meu rosto.
“Você está preocupada,” ela disse. “Fale.”
Algo em seu tom—a autoridade calma, a paciência tranquila—liberou as palavras que estavam presas na minha garganta.
Eu contei tudo a ela.
Do sonho—vendo Davion morrer, apenas para ele se tornar Snow, e então Snow se desfazer em areia. Os lobos renegados. Os olhos. A mudança assustadora na energia.
E então acrescentei, em uma voz mais suave, “Não é só nos meus sonhos. Os olhos de Snow… eles realmente se tornaram violetas. Apenas por um segundo. E dois dias atrás, um deles mudou. Tornou-se azul como gelo antes de voltar.”
Siona ficou imóvel. Ela bebeu seu chá em silêncio por alguns longos momentos, como se deixasse minhas palavras imergirem nos ossos da sala.
Então ela assentiu lentamente. “Eu suspeitava que isso pudesse acontecer.”
Minha testa franziu. “Você o quê?”