354: Evasão 354: Evasão ‘Você será uma luna, mas não será a minha luna agora. Vou ficar fora do seu caminho.’
Já faziam semanas desde que Damon largou essa bomba em mim e me deixou pensando no que ele quis dizer com suas palavras. Enquanto ele falava inglês, um idioma que eu acreditava entender, nenhuma das palavras fazia sentido na minha cabeça quando eu as juntava todas.

Nicole nos retirou rapidamente da enfermaria eu e Blaise logo depois, provavelmente percebendo que as coisas haviam ficado tensas. Depois que nos permitiram voltar, Damon agiu como se nunca tivesse dito tal coisa e tudo voltou ao normal.

Exceto que não voltou.

Surpreendentemente, Damon se recuperou muito rapidamente. Embora não fosse tão rápido quanto um lobisomem médio, certamente foi um processo de recuperação sem complicações que foi mais veloz do que o de um humano médio. Em alguns dias, ele já estava fora da cama e andando por aí ― ganhando a reprimenda de Nicole, claro. Mas assim que Nicole percebeu que todos os seus sinais vitais e exames voltaram com resultados positivos, ele foi liberado das restrições da enfermaria, desde que voltasse para os check-ups diários.

Na maior parte do tempo, Damon ficava no seu quarto. Uma vez que Nicole deu sinal verde para ele prosseguir com exercícios leves, ele já estava de pé e no campo de treinamento. Muitas vezes, Damon era o primeiro a chegar e o último a sair. Agora que ele não tinha mais deveres de alfa para ocupá-lo, ele estava livre para fazer tudo o que nunca pôde.

Por outro lado, Blaise foi nomeado o novo alfa dos Dentesnascidos. Elijah foi promovido a beta, enquanto Kaine manteve seu papel como o delta da matilha.

Pelo que eu sabia, a posição de charlie estava aberta e Blaise não tinha pressa em preencher esse papel. Agora, a notícia da aposentadoria de Damon já havia se espalhado pelas matilhas da América do Norte ― Blaise tinha mais do que muitas coisas ocupando seu tempo, tendo que lidar com possíveis perigos que poderiam estar de olho nos Dentesnascidos.

Era cedo pela manhã. O sol ainda nem havia surgido direito e os céus lá fora ainda estavam escuros. Havia um frio no ar, e eu me arrepiei, puxando meu cardigã um pouco mais para perto do corpo.

Como de costume, eu acordava em uma cama vazia. Blaise agora passava seus dias fazendo viagens pelo país para assegurar relações com as matilhas vizinhas. O sono muitas vezes não era tão repousante sem ele ao meu lado, mas com um lobo, era maravilhoso poder senti-lo mesmo quando ele estava longe.

Com a ajuda de Nicole, eu me acostumei rapidamente ao processo. Encontrei um lugar seguro para tirar a roupa, guardando minhas roupas em uma bolsa antes de me transformar. Vinha a estranha sensação da transformação de humano para lobo ― ossos estalando, carne rasgando e o corpo todo se remodelando. Já não parecia doloroso, mas havia um desconforto que ainda vinha com a mudança, acompanhado pelo emocionante fluxo de adrenalina.

Pegando a bolsa entre meus dentes, eu disparei, correndo para as florestas.

A flora e fauna passavam borradas por mim enquanto eu corria, o vento mordiscando em minhas orelhas enquanto meu pelo dançava devido à velocidade. Um determinado sopro de ar cheirava estranhamente familiar, e eu parei em meu caminho, minhas orelhas se erguendo em atenção enquanto eu examinava a cena ao meu redor.

Havia uma fileira sem fim de árvores, e ocasionalmente, um coelho selvagem ou dois apareciam antes de desaparecerem atrás de um arbusto. Mas isso não era o que eu estava procurando.

Minha cabeça virou para o lado esquerdo assim que ouvi um estalo, seguido por tilintares cristalinos de gelo. Eu me transformei de volta imediatamente, vestindo rapidamente minha camiseta e calça de moletom antes de caminhar até a fonte do som.

Eu encontrei Damon em uma pequena clareira de árvores. Mesmo no clima de inverno, Damon estava apenas vestido com uma camiseta de compressão preta e um agasalho cinza. Seus braços estavam ligeiramente rosados devido ao frio, mas isso não parecia incomodá-lo.

De longe, assisti em silêncio enquanto ele se movia, fluido e gracioso, mas enérgico e forte como o guerreiro que era. Estilhaços de gelo e geada seguiam onde quer que seus braços passassem, e ele podia materializar estalactites com apenas um estalar de seus dedos.

Sorrindo, eu avancei, ansiosa para ter uma conversa de verdade com ele. Ele vinha evitando-me desde que saiu da enfermaria ― essa era a primeira vez em semanas que eu o pegava sozinho.

Meus pés pisaram em um graveto, o estalo crocante ressoando pela floresta. Imediatamente, Damon girou a cabeça, instintivamente estendendo a mão. Estilhaços de gelo voaram de suas pontas dos dedos, voando diretamente para meu rosto. Eu mal me desviei, desviando para o lado e observando com respirações suspensas enquanto os estilhaços atingiam o tronco da árvore atrás de mim.

“Harper,” ele disse depois de perceber quem era. Ele franziu a testa. “Eu não percebi que era você.”

“Eu apostaria,” eu disse, oferecendo-lhe um pequeno sorriso. “Você parece estar se divertindo bastante tentando me evitar.”

“Evitar você?” Damon ecoou. Ele então revirou os olhos. “Por favor. Por que haveria necessidade disso?”

“Eu não sei,” eu disse, dando de ombros. “Você me diz. Você esteve aqui todo esse tempo praticando sua mágica?”

Eu gesticulei para as estalactites que perfuravam a terra e a neve. Damon virou para olhar, e um escárnio alto escapou de seus lábios, acompanhado por uma nuvem de fumaça branca devido ao calor de sua respiração misturando-se com o frio do ambiente.

Ele alcançou o gelo, puxando-o rapidamente, seus músculos do antebraço flexionando enquanto ele fazia isso.

“É necessário,” ele respondeu friamente. “Sem um lobo, não há nada que eu possa fazer pela matilha a não ser aprimorar essa habilidade até a perfeição.”

Examinando a estalactite, observei enquanto ele passava a mão pelo comprimento do bastão de gelo. Geada subiu pelo comprimento dela, criando uma ponta afiada e suavizando o resto da superfície. Parecia uma agulha gigante e cristalina.

Recolhendo seu braço, ele então lançou a estalactite. Ela disparou pelo ar a uma velocidade que meus olhos mal podiam acompanhar, empalando outra árvore enquanto cortava a madeira como se fosse manteiga sob uma faca quente.

Ele continuou, “Eu sempre dependi mais disso do que do meu lobo. Talvez seja hora de deixar o mundo saber que não é um lobo que eles deveriam temer.”