329: O jantar está servido. 329: O jantar está servido. Oh god. Não tinha dado cinco minutos desde o nosso reencontro e Damon já tinha insultado minha mãe. Eu estava pelo menos esperando que chegássemos ao salão de jantar antes de sacar as facas. Não que minha mãe não merecesse ser chamada à razão, mas certamente Damon não precisava fazer isso de uma maneira que tirava toda a polidez do encontro!

A esse ritmo, eu esperaria que minha mãe sacasse uma arma durante o jantar para atirar nele enquanto comia sua comida.

Blaise e eu tentamos pisar no pé dele para discretamente fazê-lo parar de provocá-la, mas isso só fez com que nossos pés colidissem um com o outro.

“Damon, fica quieto,” disse Blaise em tom de advertência. Eu podia sentir a raiva dele se condensando por baixo da superfície pelas palavras da minha mãe, mas Blaise sempre teve mais controle sobre seu temperamento. “Não esqueça, somos convidados aqui.”

“Exatamente. Parece que seu irmão está mais consciente da situação do que você, Alpha Damon,” disse minha mãe com arrogância, cuspidndo a palavra ‘Alfa’ como se fosse algo sujo preso no fundo do seu sapato. “Agora, vamos comer uma refeição em família, ou você prefere derramar sangue primeiro?”

“Comida parece ótimo,” interrompeu Blaise, sorrindo com excesso de dentes. Damon rosnou, mas Blaise tinha um aperto firme no braço dele, um aviso silencioso para seu irmão se comportar.

Damon então se virou para mim e soltou um bufar. “Tudo bem. Só saiba que não estou fazendo isso por você. Estou fazendo isso pela Harper,” Damon frisou.

“Justo o suficiente,” disse minha mãe, soando incrivelmente desinteressada por sua justificativa. “Me siga então, para terminarmos logo com isso.”

Damon se irritou ainda mais com seu tom condescendente mas felizmente não continuou a discutir com ela. Todos nós queríamos terminar isso da forma mais indolor possível.

Seguimos ela de volta ao salão de jantar. Eu queria ficar mais para trás para poder continuar falando com Damon e Blaise, mas minha mãe estava sempre a apenas alguns passos à frente. Era como se ela tivesse um sexto sentido, ou olhos nas costas que lhe permitiam me rastrear tão facilmente, mesmo de costas.

“Sentem-se,” instruiu minha mãe. Antes que eu pudesse me sentar do mesmo lado que Blaise e Damon, minha mãe fez um gesto para o assento ao meu lado. “Harper, você vai sentar bem aqui. Que os homens sentem do outro lado.”

“Você―” Damon parecia querer argumentar mais, mas Blaise deu uma pequena sacudida de cabeça, apesar de parecer insatisfeito com a reviravolta dos acontecimentos.

Todos nós sentamos, e os funcionários começaram a servir a comida. Um aroma delicioso se espalhava pelo ambiente. O cheiro de especiarias fortes em curry grosso, acompanhado de arroz e frango cozidos na hora teria feito minha boca salivar em qualquer outro momento, mas a situação estava tão tensa que eu nem conseguia sentir ânimo pela refeição.

Por outro lado, minha mãe se entregou à sua comida com gosto, me gestualizando para fazer o mesmo. Mas eu mantive meus olhos nos meus parceiros.

“Você não vai comer? Eu garanto, não há prata em lugar algum,” disse minha mãe, soando vagamente divertida com a tentativa de Damon de encarar seu jantar até que se submetesse. “Minha filha garantiu pessoalmente isso.”

Eu lancei um olhar fulminante para minha mãe pelo canto do olho enquanto beliscava minha refeição, colocando cautelosamente uma colherada na boca. Felizmente, o gosto era muito melhor do que a refeição que eu tinha feito mais cedo. O cozinheiro havia usado especiarias o suficiente para que eu não sentisse o amargor estranho que persistia.

Infelizmente, meu apetite ia diminuindo à medida que eu ficava sentada à mesa de jantar. O ar estava denso de tensão e meus parceiros se recusavam a tocar na comida que lhes fora dada de todo. Isso foi esperto, mas é claro, minha mãe não aceitaria tal resultado.

“Não está com fome depois de uma viagem tão longa?” minha mãe perguntou.

“Pula essa besteira e vamos ao que interessa. Por que nos chamou aqui?” Damon exigiu, mostrando os dentes. Blaise e eu congelamos, meio esperando que uma briga estourasse ali na hora, mas minha mãe apenas enxugou os lábios com o guardanapo, antes de lançar um olhar imperioso para Damon.

“Coma, ou você vai descobrir que esta será a última vez que você verá minha filha,” minha mãe ameaçou, com um sorriso sereno no rosto.

Blaise e Damon trocaram um olhar, e cautelosamente pegaram suas colheres, retirando o mínimo possível de curry. Eles cheiraram com cuidado, franzindo o nariz com desgosto.

“Não me diga que vocês não podem comer comida apimentada,” minha mãe exclamou. “Harper, você tem certeza de que quer eles como parceiros quando nem sequer têm papilas gustativas funcionando!”

“Especiarias não são um problema, Madame,” disse Blaise educadamente, um sorriso neutro no rosto.

Enquanto isso, Damon estava segurando sua colher tão firmemente que quase a torceu. Conhecendo-o, ele preferiria ter furado o próprio olho com a colher do que comer qualquer coisa que minha mãe fornecesse.

“É o risco de veneno que nos preocupa mais. Afinal, seu casaco de pele faz uma declaração bem contundente sobre sua posição. Escusado será dizer, isso realmente diminui nosso apetite,” explicou Blaise.

Minha mãe riu com escárnio.

“Pelo menos este é espirituoso. Aliás, ouvi dizer que ele foi criado por humanos por alguns anos também. Não é à toa que ele parece ser a melhor combinação. Longe de você estar presa com dois brutamontes sem humor pelo resto da sua vida,” disse ela em um sussurro alto o suficiente para ecoar pelo recinto.

Um músculo se contraiu na mandíbula de Damon, mas então para ela, Damon poderia muito bem ser ar.

Então ela se virou para falar com Blaise.

“Sabe de uma coisa, como você me conquistou — mais que seu irmão, em todo caso — eu tenho uma proposta para você.”

“Qual é?” perguntou Blaise.

“Se você acabar o seu prato e o do seu irmão, eu deixarei você passar a noite com a Harper. Que tal? Enquanto isso, seu irmão terá que achar outro hotel para ficar. Ou um caixote de lixo. Eu não sou muito exigente.”