302: Cauda Entre as Pernas 302: Cauda Entre as Pernas É seguro dizer que o treinamento era a última coisa na mente de todos depois dessa reviravolta. Gertrude começou a chorar e implorar aos pés de Milo, com os joelhos plantados no chão.

“Por favor, não me mande para as masmorras! Eu imploro! Eu sou inocente! Não sou uma traidora! Eu juro― Eu fiz tudo porque a Senhorita Dahlia me pagou para isso!”

“Como ousa me implicar!” Dahlia gritou, irada. “Sua fraca de vontade! Eu sabia que nunca deveria ter confiado em você!”

“Ouvi o suficiente,” Milo rosnou e fez um gesto para os guardas conterem ela e Dahlia. Mas enquanto Gertrude não oferecia resistência física ao ser manejada, prestes a ser levada para interrogatório, Dahlia era um caso à parte completamente diferente.

De novo, Dahlia não seria Dahlia se fosse facilmente. Ela rosnou e balançou os punhos, não deixando os guardas chegarem perto o suficiente para tocá-la. Eu observei como os homens relutavam em pôr as mãos nela da maneira que fizeram com Gertrude; mesmo sem o seu título, velhos hábitos são difíceis de abandonar.

Milo estreitou os olhos enquanto trocávamos um olhar. Ele também percebeu. Dahlia tinha sido a adorada filha de Thorton Elrod por mais de duas décadas, e era difícil anular tal reverência em alguns meses.

Ela ainda não havia sido verdadeiramente condenada por um crime.

Mas, enquanto isso, Darach precisaria de novos guardas. Ou pelo menos de guardas sem nenhum tratamento deferencial remanescente para sua irmã. Eu não duvidaria se alguns deles ajudassem na fuga dela — de forma intencional ou não — se ela contasse uma história triste o suficiente para eles se deixarem levar.

Enquanto isso, Dahlia fazia um esforço espetacular para estourar os tímpanos de todos com sua voz. “Como ousa pôr suas mãos sujas em mim!” Dahlia gritou para os guardas azarados. “Você sabe quem eu sou? Solte-me agora e eu pouparei suas vidas!”

“Você não está em posição de fazer exigências. Tranque-a nas masmorras,” Milo disse com emotividade enquanto olhava para a mulher que poderia ter sido a luz de sua vida.

Então ele levantou a cabeça e encontrou os olhos da matilha.

“Se eu pegar alguém atendendo aos caprichos de Dahlia Elrod, seja para contrabandear itens para comunicação ou de outra forma, serão severamente punidos.” Seus olhos então se focaram no homem que expressou apoio a Dahlia. “Escusado será dizer, se alguém for tolo o suficiente para ajudá-la a fugir será imediata e irrevogavelmente considerado uma ameaça para o Trovão, e será punido com o exílio.”

Murmúrios graves surgiram com suas palavras. Vi como várias faces empalideceram com a severidade do castigo proposto por Milo. Os guardas fizeram outro movimento para prendê-la.

“Senhorita Dahlia, pare de complicar nossas vidas,” um dos guardas disse suplicante. “Por favor, submeta-se ao interrogatório.”

“Bobagem! Não fiz nada de errado. Por que devo ser interrogada?” Dahlia rosnou, e então ela cruzou olhares comigo.

“Você ouviu eles. Pare de complicar nossas vidas,” eu disse, sorrindo para ela placidamente, mas isso pareceu enfurecê-la ainda mais.

“Sua vadia, você me armou! Espere só, esta não será a última vez que você me verá!”

E foi todo o aviso que alguém teve antes de Dahlia se transformar, suas roupas se rasgarem enquanto ela tentava escapar. Minha boca se abriu, eu não podia acreditar que a orgulhosa Dahlia estava literalmente fugindo com o rabo entre as pernas.

Se isso não era um sinal de que ela era culpada, eu não sabia o que seria.

Ela correu em direção aos esgotos, mas Milo reagiu rápido o suficiente― ele se transformou sem hesitação e imediatamente a perseguiu. Gritos irromperam pelo campo diante da súbita reviravolta. Ninguém jamais tinha pensado que Dahlia Elrod literalmente fugiria de um interrogatório.

Kyle gritou. “O que estamos todos fazendo parados aqui? Se você pode ajudar, vá e persiga ela! Imbecis!”

Era como se um feitiço tivesse sido quebrado pelas palavras de Kyle. Ao meu redor, mais pessoas começaram a se transformar rapidamente para ajudar a capturar Dahlia Elrod. Notei com satisfação que a mulher que falou contra Dahlia também se transformou.

“Harper―” Kyle me olhou com um olhar severamente conflitante.

“Por que você não está perseguindo-a?” eu perguntei, brincando. “Vá. Você não terá essa chance novamente.” Se ao menos eu tivesse o meu próprio lobo. Nada teria me impedido de derrubar Dahlia Elrod numa ravina. Só o pensamento já me fazia sorrir feito um lunático.

“Mas e a sua segurança?” Kyle perguntou com preocupação.

“Eu estou perfeitamente segura com os guardas e a querida Gertrude aqui,” eu disse, sorrindo para Gertrude. Seu rosto ficou ainda mais pálido quando ela olhou para mim― algo que achei completamente desnecessário. Ao menos eu não ia bater nela até a morte como Dahlia faria. “Além disso, alguém tem que atualizar Darach.”

Além disso, a captura de Dahlia tinha prioridade. Ainda precisávamos arrancar a identidade da parte oculta.

“Tudo bem,” Kyle disse, e com um último olhar para mim, ele se transformou para perseguir Dahlia.

O ar estava cheio de uivos, como se o Trovão estivesse em uma corrida de matilha. Eu enviei uma mensagem rápida para Darach, atualizando-o sobre a situação caso ele pensasse que seus lobos estivessem se rebelando. Atualização completa, decidi resolver o próximo problema na minha lista.

“Bem, não vamos nos demorar aqui,” eu disse, batendo palmas, atraindo a atenção dos membros da matilha que ainda estavam nos campos de treinamento. Não havia muitos restantes, e fiquei satisfeita ao notar que a maioria deles me olhavam com uma dose mais saudável de respeito nos olhos.

Ou talvez fosse medo.

Nah, não podia ser.

“Vamos lá, é hora de mandar a doce Gertrude para as masmorras. Eu acompanharei vocês. Além disso, precisaremos revistar seus aposentos. Talvez isso nos dê mais pistas.”

Os guardas que ainda estavam segurando Gertrude me olharam como se eu tivesse crescido outra cabeça.

“Charlie Harper… isso não é muito…” Ele começou, e eu esperei pacientemente, imaginando como ele iria terminar a frase.

“Não muito?” Eu incentivei quando ele abriu e fechou a boca sem palavras.

“Deixe para lá. Como você desejar,” disse o guarda com um suspiro pesado.