A Paixão do Duque - Capítulo 585
Capítulo 585: Grimsbanne II
“Eu quero ver isso.”
Samael ergueu uma sobrancelha ao ouvir o pedido dela. Tilly colocou o livro de lado e o encarou diretamente. Ele se sentiu um pouco estranho com o fato de ela parecer determinada a ver o retrato, como se estivesse curiosa.
“Bem, tudo bem..?”
Com isso dito, Samael abriu caminho enquanto Tilly o seguia por trás. O sino amarrado em seu longo cabelo prateado tocava a cada passo, ressoando pelo corredor até uma das salas de estudo no final da ala oeste. Quando chegaram ao destino, Samael virou a cabeça para ela.
“Está aqui,” ele disse, apontando para a porta. Tilly acenou levemente, seu sinal para que ele abrisse a porta.
A sala de estudo não era usada, pois estava longe de tudo. Assim, os móveis e quase tudo estavam cobertos com um lençol branco. Quando Samael chegou a este lugar pela primeira vez, havia mais poeira e teias de aranha. Mas agora, estava limpo.
Os dois estavam parados em frente ao retrato pendurado atrás da escrivaninha. Samael enfiou as mãos no bolso, inclinando a cabeça para Tilly, que estava ao lado dele. Ela estava olhando para o retrato de família de seis pessoas. Sua mãe e pai tinham a mesma cor de cabelo e olhos, mas com orelhas pontudas.
Seus filhos, Tilly, que parecia ter cerca de dez anos, estava sentada entre seus pais, olhando para frente, sem expressão. Amara, a mãe de Samael, que aparentava ter cerca de quinze anos, estava em pé atrás da cadeira. Ao lado dela, havia um jovem que também tinha semelhanças na aparência. E então, um bebê no colo da mãe.
Era um retrato de família que carecia de sorrisos. Só de olhar, qualquer um podia dizer que não era apenas uma família simples e feliz. Todos pareciam intimidadores.
“Sou eu.” Tilly apontou para si mesma, fazendo Samael olhar para ela. “E essa é sua mãe.” Seu dedo desviou-se para Amara de quinze anos, a única que tinha um sorriso no rosto.
“Mhm. Conheço bem o rosto da minha mãe. Então, mesmo que ela pareça jovem e saudável, eu consigo dizer.” Samael estudou o retrato que olhou por um longo tempo quando o encontrou pela primeira vez. “Mas Mãe não me disse que tem mais irmãos — na verdade, ela não mencionou nada sobre os Grimsbanne.”
“Porque não há nada para mencionar,” Tilly respondeu com uma voz fraca, ainda olhando para os rostos no retrato. “Assim como Amara, minha irmãzinha também fugiu com um homem um ano depois de este retrato ter sido feito.”
“Hã?” Samael ergueu uma sobrancelha enquanto olhava para o bebê, que parecia ter cerca de dois anos. “Fugiu? Ou você quis dizer que ela foi sequestrada?”
Os lábios de Tilly se abriram, depois se fecharam, para reconsiderar suas palavras. “Não. Ela fugiu de casa.”
“Essa criança?” Samael apontou para o bebê, só para ter certeza. Ele viu Tilly acenar com a cabeça sem desviar os olhos do retrato.
“Tilly, há um limite para os blefes de uma pessoa. Como essa criança poderia fugir de casa? Aposto que ela nem consegue comer sozinha sem fazer uma bagunça.”
“Não cruze o caminho dela nesta vida.” Suas sobrancelhas franziram-se com o aviso dela, proferido no mesmo tom distante. “Essa criança pequena, digo. Ela é perigosa. Não a encontre nesta vida.”
“Não é como se eu estivesse planejando isso.”
“Quero dizer, não cruze a mesma rua que ela,” ela acrescentou enquanto suas pestanas brancas piscavam suavemente. “Nunca mostre seu rosto para ela. Ela gosta de homens bonitos.”
Samael riu ao achar suas palavras ridículas, fixando os olhos de volta no retrato. “Você soa como se ela fosse realmente perigosa. Aquela criança.”
“Porque ela é.” Tilly soltou um suspiro raso enquanto olhava para aquela criança de aparência inofensiva. “Se Amara é a mais gentil entre nós, isso faz alguém questionar se ela é realmente uma Grimsbanne. Aquela criança é o completo oposto. Até eu não teria chance contra ela.”
Desta vez, o interesse de Samael foi despertado. Ele estudou o perfil lateral de Tilly com curiosidade.
“Ela é tão perigosa assim, hein? Isso significa que fugir de casa é uma coisa boa nesta terra?” ele perguntou com pura curiosidade.
“Eu não sei a opinião de outras pessoas, mas é melhor que ela não esteja aqui. Eu teria que partir se ela ficasse. Ela é a única pessoa que não suporto.”
“Tilly, você estava, talvez, com ciúmes de que o afeto dos seus pais se voltasse para a nova criança?”
“Mãe e Pai não eram os mais carinhosos. O que você e Lilou mostram para seus filhos é algo que um Grimsbanne nunca faria. Bem, se for Amara, eu acho que é possível.” Desta vez, Tilly desviou os olhos do retrato para olhar para Samael por um momento. “Você tem que me prometer que nunca encontrará aquela criança e aquele irmão meu.”
“Uh… certo?”
“Se você ouvir o nome deles, vire e mude sua rota. Eles não estão no continente, mas só para o caso de você ter que ir a algum outro lugar, lembre-se do meu aviso.”
Samael franziu a testa enquanto trocava olhares com ela até que ela olhou de volta para a pintura. Se ela estava tão persistente em avisá-lo, isso só significava que esses outros dois eram mais perigosos do que ele pensava. Ela pode não demonstrar isso claramente, mas esta foi a primeira vez que Tilly parecia um pouco mais preocupada do que o habitual.
“Entendi.” Ele suspirou enquanto olhava para cima, encarando a criança e depois o jovem ao lado de Amara. “Então, qual é o nome deles? Eu preciso saber os nomes para evitar encontrá-los nesta vida.”
Tilly apontou para o jovem com olhos vermelhos afiados. “Aquele é Abel,” ela disse enquanto olhava para seu rosto. “Ele deixou a casa porque admirava Soran e era fascinado por humanos. Se essa fascinação é algo bom, não tenho certeza.”
“Abel.” Samael balançou a cabeça enquanto gravava o rosto do homem em sua mente. Quanto mais ele olhava para Abel, mais Samael achava que ele não parecia ser uma boa pessoa. Se é que parecia ser uma pessoa muito complicada.
Seus olhos então se voltaram para a criança. “E aquela criança? Qual é o nome dela?”
Tilly também olhou para a criança e respirou profundamente. “Marsella,” ela respondeu em voz baixa. “Lembre-se do nome deles. Eles são vampiros originais que também podem fazer o que eu posso — talvez até melhor do que isso.”
“Entendi.” Ele assentiu enquanto lançava os olhos para os rostos do retrato. “Abel e Marsella… Amara e Mathilda.”
“Além disso, parece que a casa gosta de você.” Ele arregalou os olhos com a observação de Tilly. “Este retrato de família é algo que não se verá. Só eu posso vê-los… os retratos nesta casa, quero dizer.”
“Hã?”
Tilly apenas lançou um olhar rápido para ele enquanto falava. “Eles estão em branco. Pergunte a outros além do seu filho e filha, que têm o sangue dos Grimsbanne correndo por suas veias. Você entenderá o que quero dizer.”