822: Memória do Arcanjo- Parte 3 822: Memória do Arcanjo- Parte 3 Além do túmulo e do cartão que ele havia deixado para ela, ela não sabia como mais sentir sua presença, saber que ele ainda estava por perto. Era estranho, pensava Beth consigo mesma. Raphael era um arcanjo, no entanto, seu corpo estava enterrado aqui. Ela se perguntava se ainda estava aqui ou se havia desaparecido sem deixar rastros enquanto ele estava de volta ao Céu.

‘Elizabeth.’
Ela ouviu um sussurro de murmúrio e olhou ao redor do lugar, perguntando-se se estava sonhando ou se havia mais alguém ali.

Virando-se para olhar o túmulo, ela disse, “Não trouxe flores para você.” Ela também não havia trazido flores na última vez.

De volta ao Céu, Raphael inclinou-se para frente em direção ao recipiente, observando-a parada em frente ao túmulo onde seu corpo já esteve, mas que havia se tornado pó assim que a tampa superior foi fechada. Ele tinha estado no mundo dos vivos apenas por sua punição e, agora que havia terminado, ele havia retornado ao Céu.

Incapaz de resistir a chamar seu nome, ele escapou de seus lábios para alcançar o mundo dos vivos e chegar até ela.

“Garotinha tola”, ele murmurou em voz baixa enquanto a observava falar com seu túmulo vazio. “Você já tem a flor consigo”, disse a ela, embora ela não pudesse mais ouvi-lo.

Quando ainda fazia parte do mundo dos vivos, ele havia pedido para ela trazer flores. E embora ela não tivesse nenhuma flor nas mãos, havia uma em seu pingente de cristal que estava amarrado com uma corrente em seu pescoço.

“Deseje, Beth”, disse Raphael olhando para ela.

Antes de ser enviado ao mundo dos vivos, ele nunca teria imaginado que acabaria se apegando a uma humana problemática, que agora era uma lobisomem.

Ele bateu o dedo contra o recipiente como se esperasse que isso causasse um efeito onde ela estava, mas apenas o vento soprou, e ele ouviu alguém clicar a língua atrás dele.

“Parece que ela ainda não fez o desejo dela”, comentou Uriel.

O arcanjo veio se posicionar ao lado de Raphael para olhar para a mortal, “Ela é bonita. Oh, ela está rezando por você, que gentil da parte dela. Ela deve estar rezando para que você esteja bem no Céu.”

Os lábios de Raphael se firmaram em uma linha fina. Ele se perguntava se isso acabaria sendo um amor não correspondido, e ele não pôde deixar de pensar que, enquanto ela retornava para Devon, ela retomaria sua vida como era, enquanto ele não estaria lá.

“Tenho certeza de que você se arrepende de ter uma aparência horrível quando estava no mundo dos vivos”, comentou Uriel, que estava se divertindo mais do que deveria. Com o equilíbrio do mundo dos vivos perturbado, o Céu havia sido afetado, e os arcanjos pareciam estar ocupados com outras coisas recentemente.

“Ela vai desejar por mim”, Raphael estava confiante em não desistir dela.

O jeito que eles haviam começado tinha sido estranho, mas ele acreditava que ela desejava. Se o que ele acreditava estivesse errado, Beth teria jogado fora ou perdido o cartão há muito tempo. Foi porque quando ela estava na terra dos Combatentes, Beth havia perdido o cartão uma vez enquanto caminhava pela floresta. Mas ela havia voltado à floresta, procurando-o durante três horas inteiras antes de encontrá-lo e levá-lo com ela.

Uriel colocou a mão no ombro de Raphael, “Será bom se acontecer, mas se não… tenha cuidado.”

De volta ao mundo dos vivos, Beth ficou em frente ao túmulo por mais alguns minutos, perguntando-se o que Raphael poderia estar fazendo agora. Ele deve estar ocupado com seus deveres angelicais, ela pensou em sua mente.

Um suspiro escapou de seus lábios. Virando-se, ela começou a caminhar de volta para a carruagem que a esperava. O céu tinha se tornado laranja e vermelho, e até o momento em que ela chegou à frente do castelo, o céu havia escurecido em questão de poucos minutos.

Seu cocheiro estava descarregando seus baús da parte de trás da carruagem enquanto ela subia as escadas. Chegando ao final das escadas, ela avistou sua irmã, que estava acompanhada por seu marido. Parecia que velhos hábitos eram difíceis de abandonar, pensou Beth consigo mesma. Um sorriso se formou em seus lábios ao ver o bebê.

“Bethie!” Madeline cumprimentou com um sorriso largo ao vê-la.

“Você está bem, Maddie. Estou tão feliz por você”, Beth elogiou pelo brilho que sua irmã tinha.

Madeline logo veio e colocou sua mão ao redor de Beth, “Estou tão feliz que você veio. Eu estava esperando que você viesse.”

“Eu não poderia perder a chegada do pequeno”, respondeu Beth, esfregando as costas de sua irmã e, ao mesmo tempo, seus olhos encontraram os olhos do Rei. Alguém que a havia assustado muitas vezes no passado. “Saudações ao Rei”, ela curvou a cabeça quando se afastou de sua irmã.

“É bom ver você, Elizabeth. Madeline não parava de falar sobre como ela queria que você estivesse ao lado dela.” A isso, Madeline assentiu com a cabeça. “Você cheira a cemitério”, ele observou.

Beth não sabia que Calhoun a entregaria dessa maneira, e ela limpou a garganta, “Eu fiz uma visita antes de vir para cá.”

Um lado dos lábios de Calhoun se ergueu, e ele lhe deu um aceno, “Seu quarto já foi preparado, a empregada vai levá-la até lá. Acredito que Madeline gostaria de ficar ao seu lado. Vou dar uma olhada rápida nos relatórios na sala de tribunal e volto”, ele inclinou-se para beijar sua esposa. Antes de partir, no entanto, ele se virou para Beth e disse, “Bem-vinda de volta a Devon.”

Virando-se para sua irmã, ela viu Madeline transbordando de felicidade.

Beth se perguntava se, com isso, significava que ela havia sido completamente perdoada.