A Noiva Indesejada do Alfa - Capítulo 538
Capítulo 538: Adeus
A noite estava silenciosa, um silêncio pesado envolvendo os salões escurecidos da casa da alcateia.
Uther andava impacientemente em sua câmara até que o espelho na parede distante cintilou levemente, brilhando com a luz prateada da magia invocada. Ele se endireitou, forçando compostura, embora seu estômago estivesse revirado.
Cereja passou pela reflexão encantada, seu vestido carmesim roçando o chão como sangue fluindo. Ela se movia com uma facilidade que fez a garganta de Uther apertar—esta era uma mulher que nunca temia, que nunca duvidava.
“Você me chamou, minha senhora,” disse Uther com uma leve reverência.
Os lábios de Cereja se curvaram em algo próximo a um sorriso, embora nunca chegasse aos olhos. “De fato. Achei apropriado lembrar-lhe do seu lugar… e do meu.”
Ele se mexeu desconfortavelmente. “O que você requer de mim?”
Cereja circulou a sala lentamente, deslizando os dedos ao longo da madeira polida. “Eu encontrei uma solução permanente para o nosso pequeno problema. Jasmine não é mais a preocupação que era antes. Alguém já ocupou seu lugar. Alguém que tem mais utilidade para mim do que aquela garota frágil jamais poderia ter.”
Uther franziu a testa. “Alguém tomou o lugar dela?”
O olhar de Cereja voltou bruscamente para ele, afiado e cintilante. “Sim. E a corte a aceitou.” Ela se inclinou mais perto, seu perfume sufocante. “A Rainha sorri novamente. Isso é o que importa.”
Ele não ousou insistir mais, embora sua curiosidade o corroesse. “E Jasmine? Ela ainda virá ao castelo?”
“Sim,” respondeu Cereja, sua voz sedosa e perigosa. “Ela virá, mas seu papel será diferente. Um fantasma não precisa de um trono. Tudo que exijo de você é obediência.”
Alívio lampejou no rosto de Uther. “E minha tarefa?”
“Você permanece aqui.” O tom dela endureceu, não deixando espaço para questionamentos. “Você não irá acompanhá-la ao castelo. Ficará nesta alcateia e observará. Seja meus olhos. Seja meus ouvidos. E, principalmente—seja silencioso.”
Uther engoliu em seco, mas o desespero subiu em seu peito. “Fiz tudo que você pediu. Arrisquei tudo. Se eu permanecer aqui, você me ajudará a conquistar esta alcateia? Eu mereço. Eu conquistei.”
A temperatura na sala pareceu cair. Cereja parou, então se virou, sua expressão congelando em desprezo.
“Cuidado,” ela advertiu, sua voz baixa e venenosa. “Você fala como se lhe devessem algo. Não se esqueça de quem você é, e quem mantém você respirando.”
Uther abriu a boca, mas ela se aproximou, sua sombra engolindo a dele.
“Xaden não seria tão indulgente,” ela sussurrou. “O que você acha que ele diria—se soubesse que seu querido tio abandonou sua irmã, seu próprio sangue, em seu momento de necessidade? Que você a deixou morrer enquanto se encolhia em minha proteção? Você acha que ele o acolheria, ou o cortaria onde você está?”
As palavras o atingiram como um chicote. Seu maxilar se apertou, mas ele não disse nada.
“Foi o que pensei,” Cereja zombou. “Gratidão, Uther. Aprenda-a. Porque se não fosse por mim, você já estaria apodrecendo na terra.”
Ela se ergueu, seu poder espesso no ar. “Não me teste novamente.”
Com isso, ela desapareceu na superfície do espelho, deixando Uther tremendo no silêncio, sua ambição azedando em medo amargo.
❧
O amanhecer se estendeu frio e pálido sobre a alcateia. Jasmine estava em sua câmara, suas mãos lingerando sobre os últimos de seus pertences. O ar estava pesado, preenchido com o cheiro de tecido dobrado e madeira polida. Nanny Nia se movia rapidamente ao seu redor, checando as malas, murmurando instruções, mas os pensamentos de Jasmine estavam distantes.
Era hora.
Ela olhou mais uma vez ao redor do quarto que abrigou suas tristezas e suas alegrias passageiras. Ela não sentiria falta. Seu coração ainda se sentia em carne viva, mas havia uma teimosia em seu peito que se recusava a se despedaçar.
Fiona entrou, com os braços cruzados como se estivesse se segurando. “Então… isso é realmente um adeus.”
“Não para sempre,” disse Jasmine suavemente, embora sua garganta se apertasse. “Apenas por agora.”
Fiona sorriu fracamente, afastando os cachos vermelhos de Jasmine com uma ternura que quase a desfez. “Você é mais forte do que pensa. Não esqueça disso.”
“Eu não esquecerei.”
Juntas, elas caminharam pelos corredores, onde membros da alcateia se reuniram silenciosamente para se despedir de Jasmine. Alguns inclinaram suas cabeças, outros ofereceram despedidas murmuradas. Ela deu a cada um um pequeno sorriso, seu peito doendo com o peso de deixar para trás tudo o que conhecia — mesmo que muito disso fosse dor.
Mas antes de entrar no pátio, Jasmine desviou. Fiona e Nanny Nia trocaram olhares, mas seguiram sem questionar enquanto ela caminhava pelo caminho estreito de pedra que levava ao jardim escondido.
O pequeno espaço estava quieto e verde, escondido do mundo. Jasmine ajoelhou-se no coração dele, onde a terra macia acolhia a memória de sua filha. Ela colocou um buquê de flores silvestres sobre o local, seus dedos trêmulos.
“Durma bem, minha pequenina,” ela sussurrou. “Eu vou te levar comigo, onde quer que eu vá.”
Lágrimas embaçaram sua visão, mas ela se recusou a limpá-las. Esta era sua despedida, e ela não se esconderia disso.
Fiona ajoelhou-se ao seu lado, tocando seu ombro. Nenhuma palavra era necessária; o silêncio era suficiente.
Finalmente, Jasmine se levantou, firmando-se. Ela pressionou uma mão sobre seu peito onde o pingente de esmeralda quebrado estava escondido. Um lembrete de seu passado e da força ainda por ser encontrada.
Elas voltaram ao pátio, onde uma carruagem esperava. Sua madeira polida brilhava à luz da manhã, os cavalos pisoteando impacientemente. Anna já estava perto dos degraus, sua expressão ilegível, embora seus olhos brilhassem com algo afiado enquanto assistia Jasmine se aproximar.
Jasmine virou-se primeiro para Fiona. “Vou sentir sua falta,” ela disse, sua voz baixa, mas firme.
Os braços de Fiona a envolveram em um abraço apertado. “E eu a você. Lembre-se, Jasmine, você não precisa mais deixar ninguém lutar suas batalhas. Você é mais forte do que imagina.”
Jasmine a segurou por mais um momento, depois se afastou, subindo na carruagem. Nanny Nia a seguiu, acomodando-se ao seu lado com um toque reconfortante.
Anna entrou por último, seu perfume pesado, seus olhos deslizando brevemente para Jasmine antes de fixar seu olhar pela janela.
A porta se fechou. O motorista chacoalhou as rédeas, e a carruagem avançou, rolando para longe da casa da alcateia.
Jasmine olhou para as árvores que passavam, seu coração doendo, sua mente dividida entre a tristeza e a antecipação. Ela estava deixando para trás o lugar de suas maiores tristezas… mas talvez, além de suas fronteiras, a aguardasse algo mais.
Algo que ela ainda não podia nomear.