A Noiva Indesejada do Alfa - Capítulo 520
Capítulo 520: O Traidor
O espelho cintilava levemente com a luz que entrava pelas janelas da varanda. A mão de Cereja repousava no ombro de Amara como se ela fosse uma escultora admirando sua obra-prima.
“Venha aqui,” Cereja sussurrou, seu tom suave, perigoso, e ainda assim quase terno. “Olhe.”
Os olhos de Amara se arregalaram. Sua respiração ficou presa quando o reflexo não mostrava o cabelo castanho simples que ela tinha tido a vida toda, mas uma cascata de vermelho profundo e cintilante. A cor era vibrante, viva, capturando a luz do sol como fogo.
“É… eu?” ela murmurou, quase estendendo a mão para tocar o vidro em vez do próprio cabelo.
“Tudo de você,” Cereja respondeu, um sorriso malicioso curvando seus lábios. “Cada fio. Mesmo aqueles escondidos onde nenhum olho além do seu amante poderia encontrá-los. Você é vermelho, Amara, de ponta a ponta.”
As bochechas de Amara coraram, mas a curiosidade venceu o constrangimento. “Mesmo… lá?”
O riso de Cereja ecoou, baixo e zombeteiro. “Claro. Você acha que eu faço as coisas pela metade? Farei este feitiço a cada duas semanas, e a cor permanecerá, não importa quem a examine. Seu cabelo entre as pernas lá é vermelho.”
“Por que não tingi-lo?” Amara perguntou, ainda olhando para seu reflexo em descrença.
“Porque,” disse Cereja, inclinando-se mais perto, seu perfume envolvendo a garota, “a família real testará seu cabelo com sua própria magia. Eles saberão se é apenas tinta. Mas minha magia, minha querida….” sua voz caiu para um sussurro, “é mais forte que a deles. Eles não encontrarão nada.”
Os lábios de Amara se abriram em admiração.
Por um momento, ela quase esqueceu que era apenas uma serva, de pé em um quarto grandioso demais para ela.
Agora ela parecia alguém que pertencia ali. Alguém que podia entrar nos salões do poder e não ser afastada.
“Por que Auburn?” ela perguntou suavemente. “Por que o nome Auburn? Por que não posso usar meu nome Amara?”
Os olhos de Cereja brilharam. “Porque, pequenina, todo real deve carregar um nome ligado ao vermelho. Rosa, Scarlet, Cereja, Carmesim. Agora você é Auburn, um nome que pertence à linhagem de sangue. Um tom de fogo. Um nome com destino escrito por toda parte.”
O coração de Amara disparou. “Auburn…” ela sussurrou, testando o som em sua língua.
“E,” Cereja acrescentou, seu sorriso se tornando astuto, “a Rainha ficará maravilhada em ouvir que sua amada falecida filha, Scarlet, tem uma filha própria. E sabendo que seu nome é um tom de vermelho como toda a família real, ela ficaria feliz. Imagine a alegria dela, encontrando família onde pensava que havia apenas perda.”
Amara franziu a testa. “Mas que história vou contar? Como vou me explicar?”
Cereja apertou seu ombro. “É simples. Depois que sua mãe se afogou, ela foi capturada. Scarlet fugiu, perdida, incapaz de retornar. Ela foi criada por uma família rica em segredo, e quando morreu ao dar à luz você, você foi criada por seus avós adotivos. Eles contaram a você as histórias de seu verdadeiro sangue, e quando eles morreram, você veio aqui, em busca dos parentes de sua mãe.”
Amara piscou. A história parecia quase muito certinha, muito perfeita. “Eles não iriam querer conhecer esses avós?”
Candy, que estava descansando à toa até então, inclinou-se para frente. “É verdade. Os investigadores da Rainha irão cavar em cada detalhe.”
“Eu encontrarei pessoas,” Cereja disse firmemente. “Pessoas leais o suficiente para encenar o papel. Elas jurarão suas vidas por isso. Então, não se preocupe, elas não nos exporão.”
Candy inclinou a cabeça, então sorriu. “Posso atuar como sua babá. A fiel serva que criou Auburn desde o nascimento. Assim, quando a Rainha perguntar, haverá alguém de confiança para atestá-la.”
Os olhos de Cereja se estreitaram apenas um pouco. “Por que tão ansiosa, Candy? É porque você planejou me trair?”
O ar na sala mudou. Amara sentiu seu estômago se apertar.
O sorriso de Candy congelou, vacilando em confusão.
“Do que você está falando?” Candy perguntou, sua voz tensa.
“Eu sei,” Cereja disse simplesmente, suas palavras cortando mais afiadas do que qualquer lâmina. “Eu sei que você pensou em correr para Rosa. Em sussurrar no ouvido dela que eu tinha retornado. Que eu estava tramando.”
Como se Candy tivesse notado a mudança e a intensa alteração de energia, ela ficou em alerta.
Ela olhou ao redor e chamou.
Candy lançou um rápido olhar para Amara, a suspeita cintilando em seus olhos. “Você…”
“Sim,” Cereja disse calmamente. “Ela me contou.”
O silêncio estalou como um trovão. A respiração de Amara engasgou quando a expressão de Candy se retorceu, fúria e traição se misturando.
“Você….” Candy sibilou, suas mãos tremendo enquanto começava a se transformar, ossos estalando sob sua pele, pelos começando a brotar. “Como ousa?! Depois de tudo que eu fiz por você!”
“Não se incomode.” A voz de Cereja era gélida. Ela balançou o pulso casualmente. “Sua guarda não virá. Ela já está morta.”
O rosto de Candy perdeu toda a cor. “Q… que.. como? Como pode…”
Ela não conseguiu terminar.
“Eu sinto muito por ter que fazer isso, Candy.” Cereja afirmou com total sinceridade. “Mas você facilitou me matar você.”
A transformação mal havia começado quando Cereja levantou a mão, dedos se curvando como se estivesse agarrando fios invisíveis.
Poder brilhou, tremulando no ar como uma onda de calor. Um corte nauseante rasgou a sala.
A cabeça de Candy rolou limpamente de seus ombros. Seu corpo caiu com um baque surdo, sangue se espalhando pela pedra polida.
Amara ofegou, as mãos voando para sua boca. Suas pernas vacilaram enquanto ela cambaleava para trás, quase perdendo o equilíbrio.
Cereja não hesitou. Ela deu um passo à frente, chutando o corpo sem vida de Candy para o lado como se não fosse mais do que uma boneca quebrada. Seu olhar carmesim deslizou de volta para Amara.
“Você escolheu sabiamente,” Cereja disse, seu tom calmo, quase gentil. “Se você tivesse guardado o segredo dela, estaria deitada ao lado dela agora.”
O peito de Amara arfava, sua mente gritando de horror e ainda assim, por baixo disso, algo mais sombrio despertava. Ela olhou novamente para o espelho, para a garota com cabelos ardentes olhando de volta para ela. Auburn. Uma real. Alguém que poderia pertencer.
Suas mãos baixaram lentamente de sua boca. Ela engoliu em seco.
“Sim, minha senhora,” Amara sussurrou, sua voz trêmula. “Eu escolhi o lado certo.”
Cereja sorriu então, um sorriso cheio de satisfação e perigo. Ela estendeu a mão, inclinando o queixo de Amara para cima, forçando-a a encontrar seus olhos.
“Lembre-se deste momento,” Cereja murmurou. “É o primeiro passo. Auburn nasce hoje, e nada, nada, ficará em seu caminho.”
Atrás delas, o sangue de Candy ainda se espalhava pelo chão, mas Cereja não olhou para trás. Nem, após um longo momento, Amara.