A Noiva Indesejada do Alfa - Capítulo 504
Capítulo 504: Semente de Veneno
As sombras da floresta ainda agarravam-se a Cereja enquanto ela retornava para suas câmaras.
Seu corpo dissolveu-se da clareira em uma espiral de fumaça negra, reformando-se dentro da escuridão sedosa de seu quarto real. A luz da lua derramava-se sutilmente através das janelas adornadas, reluzindo contra o bordado prateado de sua cama.
Ela atravessou o quarto lentamente, sua mente uma tempestade inquieta. A sobrevivência de Jasmine a corroía como uma ferida infeccionada. Uma criança perdida deveria tê-la encerrado. Um escândalo deveria tê-la quebrado. Mas de alguma forma, Jasmine resistia. E pior, a gentileza de Rosa, a suavidade da Rainha, ainda era uma ameaça.
Se Jasmine viesse aqui… se Rosa colocasse os olhos nela… tudo se desmoronaria.
Cereja caminhava, as unhas longas arrastando-se ao longo do braço de veludo de uma cadeira. Ela precisava agir antes que a misericórdia de sua irmã destruísse o frágil equilíbrio que havia construído.
Ela parou, inclinando a cabeça. Havia uma pessoa que poderia decidir o destino de Jasmine antes que chegasse ao palácio. A própria Rosa. E Cereja sabia exatamente como plantar sementes no coração de sua irmã.
Com sua decisão tomada, ela saiu da câmara. Os corredores estavam silenciados, o brilho fraco das lanternas tremeluzindo nas paredes de pedra. Seus passos eram silenciosos, sua expressão composta, embora o fogo escuro de seus pensamentos queimasse logo abaixo da superfície.
Ela chegou aos aposentos da Rainha, sua mão hesitando apenas por um momento na maçaneta dourada. De dentro, vozes abafadas erguiam-se, agudas e tensas.
“Você desperdiça os recursos do reino, Rosa!” A voz profunda do Rei Roland trovejou, cheia de raiva. “Anos, anos! E ainda você se apega a essa esperança tola. Primeiro foi nossa filha e agora um neto que não existe! E ainda você envia homens, você envia cartas, você incita a corte em murmúrios de fraqueza.”
“Scarlet se foi sim. Eu aceito isso. Mas ela teve um filho!” A voz de Rosa respondeu, firme mas tremendo nas bordas. “Ele ou ela está lá fora. E como avó, não descansarei até encontrá-lo ou encontrá-la. Você me ouve, Rolando? Nunca.”
Cereja sorriu levemente, inclinando-se para ouvir melhor, seus ouvidos aguçaram-se.
Rolando soltou uma risada, amarga e fria. “Você se envergonha, Rosa. Você envergonha este reino. Primeiro foi uma filha viva e agora evoluiu para um neto. Deuses, quem quer que esteja colocando essas palavras em você deve ser executado!”
“Essa é nossa responsabilidade e se você não a assumir não significa que eu não vou!” disse Rosa, as palavras quebrando mas firmes.
Cereja empurrou a porta levemente, arranjando suas feições em algo manso, cuidadoso. “Perdoe-me,” ela disse suavemente, entrando no quarto com a cabeça baixa. “Eu não queria intrometer-me. Eu… eu ouvi vozes.”
Ambos voltaram-se. Rosa, pálida e ruborizada pela discussão, parecia cansada mas sempre gentil.
O rosto de Rolando endureceu imediatamente, sua mandíbula se contraiu. Seu olhar penetrante varreu Cereja, desagrado piscando abertamente em seus olhos. Ele não disse nada.
Em vez disso, ele passou por ela furiosamente, o ombro quase tocando o dela. Cereja abaixou a cabeça educadamente, murmurando, “Sua Majestade,” embora seu silêncio fosse mais alto que qualquer insulto.
Quando a porta se fechou atrás dele, a Rainha suspirou profundamente, pressionando uma mão à testa. “Não se importe com ele,” disse Rosa, forçando um sorriso cansado enquanto gesticulava para sua irmã. “Entre, Cereja. Sente-se comigo.”
Cereja deslizou pelo quarto, delicadamente pousando na cadeira acolchoada oposta a Rosa. “Sinto muito,” ela sussurrou, abaixando os cílios. “Eu não queria ouvir. Ver vocês dois discutindo me dói. Não é meu lugar me intrometer.”
Rosa acenou com a mão, dando uma risadinha cansada. “Não se preocupe. Rolando e eu raramente concordamos sobre este assunto. Ele pensa que sou tola, mas… ele não tem o coração de uma mãe. Ele não pode entender.”
Cereja inclinou-se ligeiramente à frente, seus olhos suavizando embora seu coração fosse de aço. “Ainda assim, isso me entristece. Você não merece tal tensão.”
Rosa alcançou sua mão, apertando suavemente. “Somos irmãs. Compartilhamos os fardos uma da outra. Diga-me, o que te trouxe aqui a esta hora?”
Cereja fez uma pausa delicada, como se hesitasse em falar. Então, deixou sua voz escorregar para a curiosidade. “Ouvi, através da corte, que você enviou uma carta. Um convite… para a Matilha Crescente.”
O rosto de Rosa se iluminou, seu cansaço derretendo em algo mais caloroso. “Sim,” ela disse, seus olhos suaves com esperança. “Foi antes do ataque, antes dos raptos. Eu havia pensado que talvez… se Jasmine realmente estivesse lá, se o destino houvesse guiado seus passos para eles… então talvez eu pudesse finalmente vê-la novamente.”
O pulso de Cereja acelerou, embora sua expressão permanecesse composta. “Você quer convidá-los para cá? Todos eles?”
“Sim,” Rosa disse simplesmente. “Agora que estão seguros, vou renovar o convite. Quero vê-los todos com meus próprios olhos. Jasmine, claro… mas também Xaden. E sua irmã, Anna. Nunca a conheci, e parece justo recebê-los ambos.”
Cereja ficou imóvel. As palavras da Rainha revelavam uma verdade, Rosa nada sabia dos sussurros nas alcateias. Nenhum conhecimento dos rumores crescentes que manchavam o nome de Jasmine.
Esta era sua chance.
Com uma respiração cuidadosamente medida, Cereja abaixou o olhar, seu tom suspirado com preocupação. “Rosa… perdoe-me, mas… você tem certeza de que é sábio? Trazer todos eles para cá, para o coração do palácio?”
Rosa franziu a testa suavemente. “Por que não seria?”
Cereja hesitou, prolongando o silêncio apenas o suficiente para que a dúvida surgisse. Então, ela falou, cada palavra repleta de cautela, como se relutante em dizê-las. “Ouvi coisas perturbadoras. Rumores, sussurrados em corredores e trazidos por homens que afirmam saber. Dizem que Jasmine… pode ter tido um papel no ataque à Matilha Crescente. Que ela não é a vítima, mas… talvez a causa.”
O rosto de Rosa ficou pálido, seus lábios se abrindo em descrença. “Isso é impossível,” ela disse, embora sua voz tremesse. “Ela nunca—”
“Eu sei,” Cereja interrompeu rapidamente, alcançando a mão da irmã. “Eu sei, e rezo para que não seja verdade. Mas sussurros como esses… eles se espalham, Rosa. Se você trazê-la para cá… e isso provar ser mais que um boato… pense no perigo. Para você. Para o trono. Para o reino.”
Os olhos de Rosa se turvaram com dúvidas, a dor marcada em suas feições. Ela retirou a mão lentamente, pressionando-a contra o peito. “Eu… eu não ouvi esses sussurros,” ela sussurrou.
Cereja abaixou a cabeça, sua expressão pesarosa. “Eu só te conto por amor, irmã. Eu nunca veria mal algum chegar até você.”
Por dentro, no entanto, seu coração cantava.
A semente foi plantada.