Capítulo 447: PRINCESA DESAPARECIDA
Marro correu pelas árvores como uma sombra sem correntes. Seu coração batia rápido—não por medo, mas pela urgência pulsante em seu peito.
O amanhecer precoce mal se estendia pelo céu, e as primeiras linhas de luz cortavam as árvores como finas lâminas de prata. Seus pés descalços levantavam a terra fria e folhas, e o vento sussurrava memórias que ele tentava silenciar há dias.
Ele não sabia o nome do homem.
Não verdadeiramente.
Para ele, era apenas o lobo de olhos estranhos que havia sido arrastado para a clareira, ensanguentado e quebrado, mas ainda vivo.
Ainda respirando.
Ainda lutando.
Marro não sabia por que o tinha ajudado.
Ele havia perdido sua família por ele.
Todos estavam atrás dele
Mas ele tinha visto o olhar naqueles olhos, o brilho assombrado de alguém que havia perdido tudo e ainda assim recusava-se a morrer.
Ele não podia deixá-lo morrer. Não então.
E por causa dessa única escolha… seu mundo queimou.
Ele viu o corpo despedaçado do pai deitado no chão de seu pequeno chalé.
O corpo morto de sua mãe e irmão no chão na porta dos fundos.
Eles estavam fugindo e mesmo assim os mataram.
Ele nem sequer teve a chance de lamentar.
Ele tinha apenas onze anos e ainda assim os horrores que presenciou, até alfas ficariam horrorizados.
Seus pés não pararam de correr.
Seu corpo não parou de se mover.
Mesmo quando suas costelas doíam, mesmo quando seus pulmões queimavam, ele continuou correndo.
Ele pensou em voltar para ver o homem novamente, o estranho que não era mais estranho. Em algum lugar dos seus ossos, ele sabia a verdade.
Aquele homem tinha que ser alguém importante, alguém perigoso.
Por que mais os guardas iriam tão longe?
Mas voltar… isso seria egoísta.
Se seguissem seu rastro, se o rastreassem, encontrariam o lobo ferido.
Eles o matariam.
E então tudo, tudo o que Marro havia perdido, não significaria nada.
Então ele não voltou.
Ele apenas correu, boca seca, olhos ardendo, a culpa como uma segunda pele ao redor de seu coração.
Se ele pudesse encontrar ajuda, ajuda de verdade, alguém com poder, alguém que ouvisse—talvez, apenas talvez, o homem que ele salvou teria uma chance de sobreviver.
As árvores passavam borradas por ele. Ele não olhava para trás.
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O grito de Nanny Nia ainda ecoava pelo corredor quando ela passou correndo pela ala leste, saias voando ao redor de seus tornozelos, respiração entrecortada de pânico.
Os guardas da alcateia olharam alarmados, mas ela os ignorou todos.
Seus pés sabiam para onde ir.
“Erik!” ela gritou, invadindo seus aposentos. “Erik—!”
Ela abriu portas e gritou seu nome freneticamente procurando por ele.
Erik estava dormindo profundamente em seu quarto quando ouviu os gritos.
Ele deu um salto alerta e antes que percebesse, a porta de seu quarto foi escancarada e Nanny Nia entrou correndo.
“O que aconteceu?” Ele perguntou perplexo
“Ela sumiu!” Nanny Nia chorou, mão no peito, olhos arregalados de pavor.
“Quem sumiu?” Ele perguntou ainda confuso.
“Jasmine! Ela sumiu!” Ela chorou.
“O quê?”
“Eu… eu pensei que ela estava dormindo. Quero dizer, eu a deixei dormindo. Havia travesseiros debaixo do cobertor. Kire também sumiu!”
O rosto de Erik mudou imediatamente de cor, esvaziado, mandíbula trincada, fúria crescendo em seu peito como uma maré alta.
Aquele maldito lobo!
Como Kire pôde fazer isso?!
Seu próprio lobo agora estava desobedecendo-o e preferindo obedecer a Jasmine.
Acima de tudo, Kire deveria saber melhor!
Quando ele pusesse as mãos nele, ele iria fundir seu corpo de volta com ele, gostando ou não!
Mas mesmo enquanto dizia isso, seu corpo estava se movendo.
Ele cruzou a sala com passos largos e abriu a gaveta onde havia escondido o pano manchado de sangue do último local conhecido de Xaden.
Estava dobrado exatamente como ele tinha deixado, mas menor.
Seu coração despencou.
Havia um corte reto através do tecido.
Um pedaço faltando.
Ela o tinha.
“Droga, Jasmine!” ele murmurou, passando a mão pelo cabelo. “Por que faria isso?”
“Erik?” A voz de Nanny Nia falhou.
“Ela foi atrás dele,” ele disse sombriamente. “Ela está tentando encontrar Xaden sozinha.”
Nanny Nia engasgou. “Ela poderia estar em qualquer lugar agora! Ela não está transformada, ela está grávida! E se algo acontecer com ela?”
“Ela levou Kire,” Erik disse tentando convencer a si mesmo. “Aquele lobo não deixará nada machucá-la.”
“Ainda assim…” Nanny Nia balançou a cabeça, perto das lágrimas. “Ela está lá fora, sozinha.”
Erik moveu-se rapidamente agora, abrindo seu guarda-roupa para vestir seu equipamento.
Ele colocou sua couraça, facas, e uma capa para velocidade. Então ele se voltou para Nanny Nia. “Reúna os batedores. Eu vou atrás dela.”
“Mas a alcateia—”
“Eu não vou deixá-la desprotegida.” Ele passou por ela e desceu o corredor onde vários guerreiros já haviam se reunido, atraídos pela agitação.
No corredor que levava ao salão de guerra da alcateia, ele encontrou Uther esperando, braços cruzados, expressão inescrutável.
O rosto de Erik se tornou sombrio em desgosto.
A voz de Uther veio suave e curiosa. “Para onde você está correndo em meio a uma tempestade dessas, Gamma?”
Erik não parou de se mover, apenas gritou sobre o ombro. “Assuntos privados da alcateia. Nada que te interesse.”
“Nada que me interesse?” Uther perguntou, um olhar carrancudo em seu rosto feio. “Sou o tio do Alfa.”
“Não dou a mínima.” Erik disse sem quebrar o passo.
Uther seguiu. “Você parece tenso. Se houver perigo, talvez eu devesse saber.”
Erik parou então, apenas tempo suficiente para se virar totalmente para Uther. Seus olhos eram de aço.
“Não confunda meu silêncio com ignorância, Uther. Você pode enganar os outros, mas eu vejo através de você.” Seu tom era baixo e firme. “Esta alcateia ainda segue meu comando. Não se esqueça disso.”
O sorriso de Uther vacilou. “Não quis ofender.”
Erik se virou e caminhou em direção ao centro do salão onde Damian estava ao lado de dois guardas.
Sem cerimônia, Erik falou claramente, “Damian, até eu voltar, você está no comando.”
O rosto de Uther endureceu. “Você está entregando a alcateia a um mero lobo?”
Erik não dignificou isso com uma resposta. Ele acenou para Damian e acrescentou, “Mantenha os olhos em Uther.”
Damian deu um breve e firme aceno de cabeça. “Entendido.”
Com isso, Erik passou rapidamente pelos homens reunidos, dirigindo-se aos estábulos.
O vento frio atingiu seu rosto quando ele surgiu no pátio aberto, mas ele não sentiu. Tudo o que ele via era Jasmine, frágil e teimosa, na floresta com perigo espreitando em todos os lados.
“Erik!”
Ele se virou.
Nanny Nia estava na escada, rosto pálido, mãos cerradas ao lado do corpo.
“Por favor,” ela implorou, a voz falhando. “Encontre-a. Traga-a para casa.”
Erik encontrou os olhos dela, a dor suave neles refletindo a dele próprio.
“Eu vou.”