Capítulo 427: O SEGREDO
“Lá está nossa resposta.” A Nanny Nia disse.
A mão de Erik lentamente se fechou em punho sobre o pergaminho que ele estava lendo. “Então você acredita que Lily foi quem mexeu no chá?”
“Eu não sei com certeza”, Nanny Nia respondeu, sua voz baixa mas firme. “Mas a reação de Kire foi específica demais para ser ignorada. E eu falei com o Cozinheiro. A colher que usei para mexer o chá de Jasmine desapareceu enquanto estávamos lá fora. O Cozinheiro jura que nenhum funcionário da cozinha a tocou depois que saímos. O que significa que alguém entrou durante a comoção e a pegou.”
O rosto de Erik escureceu. “E se tivesse?”
“Eu não sei que tipo de veneno era”, Nia disse, endireitando-se. “Mas eu conheço os sinais de algo sinistro. Jasmine ainda não havia mostrado nenhum sintoma. Aquela foi a primeira xícara. Se ela tivesse tomado mais, poderia ter sido tarde demais. Esta foi a primeira tentativa—mas duvido que seja a última. Talvez a pessoa tenha usado a colher para mexer o chá.”
Ele se levantou, andando atrás de sua mesa. “Por que mirar em Jasmine? Por que agora?”
“Porque ela está vulnerável”, Nia disse. “Xaden se foi. Ninguém sabe onde ele está. Jasmine está sozinha, grávida, e o laço que ela tem com ele está se desfazendo a cada hora. Se alguém quisesse agir, agora seria o momento.”
Erik franziu a testa profundamente. “E você tem certeza de que Kire não estava apenas sendo difícil?”
Nanny Nia lançou-lhe um olhar afiado. “Erik, Jasmine sabe que Kire é seu lobo. Ela pode não saber todos os detalhes sobre seu laço, mas ela não é cega. Ela confia nele. E eu também. Ele derrubou aquela xícara de sua mão no segundo em que ela a estendeu. E quando Lily se moveu, ele rosnou. Não foi desafio. Foi proteção.”
Kire soltou um grunhido suave, andando inquieto perto da porta.
“Quero ele com ela”, Nia disse. “A partir de agora. Não me importa se ele ainda está separado de você. Não me importa se o resto da alcateia acha que ele é perigoso. Eu confio nele para mantê-la segura.”
Erik estudou Kire por um longo momento antes de acenar lentamente com a cabeça. “Ele sempre foi bom em sentir o que eu perco. Mesmo agora, separado de mim, ele segue seus instintos.”
“Ele sabia”, Nia sussurrou, abaixando-se e acariciando o pelo do lobo. “De alguma forma, ele sabia o que eles estavam tentando fazer.”
“Eu só…” Erik passou a mão pelo cabelo. “Gostaria de poder me comunicar melhor com ele. Desde que ele se separou, não consigo ouvi-lo da maneira que costumava. Eu só sinto o que ele sente, e mesmo isso é fraco na maioria dos dias.”
“Bem, teremos que trabalhar com o que temos”, Nia disse. “Deixe-o fazer o que faz melhor. Vigiar.”
Erik hesitou. “E quanto a Jasmine? Devemos avisá-la?
Nanny Nia levantou-se, seu tom resoluto. “Não. Ainda não. Se ela descobrir que alguém tentou envenená-la, enquanto carrega uma criança e com Xaden ainda desaparecido, isso poderia destruí-la. Já vi mulheres perderem seus bebês por menos.”
O rosto de Erik se tornou sombrio. “Você está certa.”
“E falando em Xaden”, Nanny Nia disse suavemente, “ainda não há notícias?”
Erik exalou lentamente e se sentou novamente. “Nada. Enviei três grupos de busca. Para o norte, oeste e até as terras fronteiriças de Pedra Ridge. Nenhum sinal. Nem uma gota de sangue, nem uma trilha de cheiro. É como se ele tivesse desaparecido.”
O coração de Nia se apertou. “Ele não ficaria longe tanto tempo por vontade própria.”
“Eu sei”, Erik disse. “Por isso não contei a Jasmine. Ela se mantém distraída, mas vejo ela ouvindo… esperando. Toda vez que alguém bate à porta, ela se vira esperando que ele possa entrar por ela.”
Nia ficou em silêncio por um momento. “Ela ainda acredita nele.”
“Eu também”, Erik disse. “Mas quanto mais tempo isso se prolonga…”
Ele parou.
Nia colocou a mão gentilmente sobre sua mesa. “Então protegemos o que ele deixou para trás. Mantemos ela segura. Até que ele retorne, ou até que saibamos por que ele não voltou.”
Erik assentiu. “Kire fica com ela. Mandarei avisar aos guardas para deixá-lo em paz.”
Nia se virou para a porta.
Kire trotou atrás dela, ávido e alerta.
“E Nia?” A voz de Erik a deteve. Ela se virou.
“Seja cuidadosa. Se essa foi a primeira tentativa… haverá outra.”
Nanny Nia assentiu solenemente. “E da próxima vez, estaremos prontos.”
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POV DE XADEN
Xaden se mexeu ao som de galhos quebrando, leve demais para ser um soldado, cauteloso demais para ser uma fera. A chuva empapava o chão da floresta, tornando cada movimento mais alto do que deveria ser. Sob o emaranhado de raízes onde ele estava escondido por dias, sua respiração ficou presa na garganta.
Então ele o viu.
Um garoto.
Magro, manchado de lama, e não mais velho que dez anos. Seus olhos se arregalaram ao ver a figura ensanguentada de Xaden. Sua mão segurava um graveto como se pudesse protegê-lo, mas seus braços trêmulos o traíam.
Xaden tentou falar, mas sua garganta arranhava seca. Sua voz saiu rouca e áspera. “Saia.”
O garoto congelou.
“Eu disse, vá”, Xaden rosnou, lutando para levantar a cabeça.
O garoto largou o graveto e disparou pelas árvores, desaparecendo atrás da cortina de folhas e névoa.
Xaden fechou os olhos, o peito subindo e descendo em ofegantes e dolorosas inspirações.
Ele não culpava o garoto. Ele parecia a própria morte, meio lobo, meio homem, encharcado de sangue e chuva. Qualquer um correria.
Mas menos de uma hora depois, o garoto voltou.
Esta vez, ele veio mais devagar, deliberado.
Os olhos de Xaden se abriram com esforço. “Você de novo.”
“Eu trouxe comida”, o garoto disse, ignorando o tom de aviso. “E água.”
Ele se ajoelhou ao lado das raízes e colocou um embrulho—a um pano rasgado com uma côdea de pão, metade de uma maçã, e um cantil feito de um velho odres de vinho.
“Eu te disse para ir embora”, Xaden disse, sua voz como cascalho. “É perigoso.”
“Eu não me importo”, o garoto disse simplesmente. “Você precisa de ajuda.”
Xaden o encarou. “Você nem sabe quem eu sou.”
“Você não é um dos bandidos. Você cheira diferente. Você cheira… cansado.” Ele hesitou e então acrescentou, “E triste.”
Isso surpreendeu Xaden.
“Eu não quero que você morra”, o garoto sussurrou. “Todo mundo diz para ficar longe da floresta, mas eu te encontrei. Talvez a floresta quisesse que eu te encontrasse.”
Xaden tentou suprimir a dor no peito. “Você vai se meter em problemas.”
O garoto deu de ombros. “Eu me meto em problemas o tempo todo.”
“Você poderia ser morto.”
“Vou ter cuidado. Posso correr rápido.”
Xaden o encarou por um longo momento antes de finalmente aceitar a comida, a mão tremendo enquanto levantava o cantil.