A Noiva do Diabo - Capítulo 42

42: Ela Deveria Estar Ao Meu Lado 42: Ela Deveria Estar Ao Meu Lado Quando chegaram a Selve, Oriana já estava na Ilha Azures.

O próprio senhor do território, Duque Maxil Selve, recebeu o Príncipe Herdeiro na entrada da cidade, juntamente com seus guardas. Um mensageiro do palácio real havia sido enviado para Selve mais de uma semana antes, portanto, o Duque teve tempo suficiente para se preparar para receber Arlan em sua residência.

Em contraste com a Casa de Wimark, a propriedade da Casa de Selve estava dentro da própria cidade portuária.

A mansão principal e os edifícios laterais eram feitos de mármore branco com detalhes em ouro, a arquitetura era fortemente similar ao Palácio Real de Griven, embora a escala fosse consideravelmente menor e menos luxuosa do que a encontrada na capital de Karlin. Isso aconteceu porque, várias gerações atrás, a Rainha de Griven veio da Casa de Selve e remodelou a Casa Selve depois que se aposentou da política.

Como já era tarde da noite, o Duque levou a comitiva real para uma parte específica da Propriedade Selve, onde uma linda vila foi preparada para o Príncipe Herdeiro.

“Conforme ordenado, esta parte da propriedade foi arranjada para o Príncipe Herdeiro Arlan, bem como para os estimados convidados que receberíamos de Megaris em alguns dias. Os servos aqui são discretos, e além de cuidarem de suas necessidades, não aparecerão diante de Sua Alteza.”

Arlan lhe ofereceu um aceno de aprovação e elogiou os arranjos do Duque. O Príncipe Herdeiro, então, fez uma pequena refeição antes de se instalar em sua câmara.

Depois de se refrescar, Arlan deitou-se na cama. Embora tivesse muitas coisas para fazer no dia seguinte – sendo a mais importante delas punir os traidores – algo que não estava relacionado ao trabalho ocupava sua mente.

Para ser exato, uma certa pessoa.

‘O que ela deve estar fazendo neste momento? Já é alta noite. Ela deve estar dormindo.

‘Ela ainda está na floresta ou já voltou para a vila? Dormir na floresta deve ser desconfortável para uma menina, ainda mais estando sozinha.

‘Por que a família dela permite que ela se disfarce de menino e trabalhe em um campo perigoso? Ela não é filha deles, então, estão tratando-a injustamente? Mas por que esconderiam que ela é uma menina? Ela é forçada pelas circunstâncias ou é uma escolha dela?

‘De qualquer maneira, ela tem um tio e um primo mais velho. Eles são caçadores, e pelos relatórios, são homens decentes e trabalhadores. Com os dois ganhando, eles poderiam alimentar uma família de cinco suficientemente. Não há necessidade para a Baixinho trabalhar. Se não é por riqueza, deve haver outro forte motivo para uma menina viver como um menino.’
Arlan não gostava do fato de sua informação sobre Oriana ser insuficiente. Ele não conseguia entender os pensamentos dos plebeus.

Enquanto fechava os olhos, uma ideia o atingiu.

‘Por que estou pensando que os plebeus são diferentes da nobreza? Os seres humanos são todos iguais. Eles agem em benefício e interesse pessoal. Independentemente do status, diante dos benefícios, todos são iguais.’
Arlan se lembrou de como havia pago a Oriana cem moedas de prata, mas já no dia seguinte ela estava recolhendo ervas na floresta.

‘Será que ela deu todos os seus ganhos para a família do tio? Eles a estão tratando como uma escrava?’
Quanto mais Arlan pensava sobre isso, mais sentia que fazia sentido.

‘Não faz sentido, porém. Conhecendo-a, é difícil acreditar que ela aceitaria ser tratada injustamente. Ela é capaz o suficiente para viver por conta própria, mesmo sendo uma menina. Será que é porque ela é órfã, que está tolerando seu tio?

‘Sobreviver como uma menina órfã é difícil. É difícil para as meninas solteiras ganharem a vida de forma independente, e mesmo que sejam habilidosas, serão tratadas injustamente. Será que a família do tio protege ela, e em troca, ela lhes dá tudo que ganha?’
‘Se a proteção é o que ela precisa, tê-la como umas das minhas auxiliares deveria ser uma opção melhor para ela. Ela viverá sob a minha proteção e não irá sofrer mais. Ela pode viver como quiser. Se eu ensinar a esgrima, ela até pode entrar na minha ordem de cavaleiros como uma escudeira.’
Arlan assentiu para si mesmo, imaginando Oriana parecendo valente em um uniforme de combate justo com uma espada na mão. Ele então balançou a cabeça.

‘Eu estou me adiantando. É melhor eu confirmar a situação real com a própria pessoa.

‘Depois que o casamento de Lenard acabar, eu voltarei para Wimark primeiro e oferecerei pessoalmente a ela a posição de minha assistente. Tenho certeza de que aquela garota gananciosa não rejeitará moedas de ouro como salário.’
Horas depois, Arlan acordou em um suor frio.

‘Outro pesadelo.’
Embora ele estivesse acostumado a ver aquela criatura dourada e aprendeu a controlá-la com a ajuda da Rainha das Bruxas, o medo inato que ele experimentou permaneceu o mesmo.

Essa criatura costumava aparecer enquanto o seu eu jovem estava preso no horror do assassinato de sua mãe, como se aproveitasse a situação vulnerável dele dentro do pesadelo. Era como se aquela criatura quisesse dominá-lo, esperando que ele baixasse a guarda para tomar posse de sua consciência.

Como duas almas lutando pela dominação de um corpo.

Arlan até desconfiava em seu coração.

O instinto de sua irmã, Alvera, estava correto. Arlan podia sentir que, aos poucos, estava perdendo a si mesmo também – e sentia que era aquela criatura dourada corroendo sua humanidade.

A existência dessa criatura dentro de seu corpo deveria ser a causa principal de ele estar lentamente perdendo suas emoções, tornando-se cruel. Se não for controlado, ele preocupava-se que chegaria um tempo em que o Arlan Cromwell que acordava não seria mais ele.

Com esse medo no coração, como ele poderia dormir em paz?

‘Exceto por aquela noite.’
A noite em que ele dividiu a cama com aquela garota bêbada engraçada, não houve pesadelo e ele acordou refrescado, seu coração em paz.

‘Existe mais um motivo para ela estar ao meu lado.’
Afinal, era do interesse do reino que o Príncipe Herdeiro dormisse pacificamente.

‘Ela deve estar ao meu lado.’