A Noiva do Diabo - Capítulo 32

32: Quem é essa senhora de preto? 32: Quem é essa senhora de preto? O súbito mudar de humor de Arlan foi mais que suficiente para dar calafrios a Rafal. Rápido em entender, ele encontrou uma desculpa para escapar. “Meu senhor, eu… vou agora retomar à minha ronda.”

Imbert também sinalizou para os servos partirem.

Dentro do tranquilo gazebo do jardim, só havia Oriana, Arlan e seu cavaleiro, esses três silenciosamente escrutinando uns aos outros. Por um minuto inteiro, ninguém disse uma palavra.

Oriana jamais esperou encontrar-se em tal situação desconfortável. Arlan continuava lendo calmamente, sua expressão indiferente, como se não tivesse a menor intenção de puxar qualquer conversa. Enquanto isso, o guarda de rosto frio que estava atrás dele agia como se Oriana não existisse.

‘É como se ele não fosse a mesma pessoa que eu conheci no mercado.’
Somente agora Oriana realmente sentia a imensa disparidade entre suas posições sociais. Do lado de fora, Arlan se comportava de forma descontraída, sem vergonha, se rebaixando para combinar com a sua condição de plebeia. Ele deu a ela uma impressão enganosa de como era Arlan.

Hoje, foi a vez dela de adentrar o mundo dele, um mundo sufocante de luxo, onde a dignidade de um nobre era inviolável, onde os servos andavam pisando em ovos para não desagradar seu mestre.

Este Arlan solene… era intimidador.

Ela começou a abrir a boca para falar, mas parou no meio do caminho, se perguntando se, naquele ambiente, precisava da permissão dele para falar. Será que ele acharia rude se ela começasse a exigir – não, pedir para que sua faca fosse devolvida? Talvez ela devesse esperar até que ele terminasse?

Arlan fechou um pergaminho e pegou sua xícara de chá. Seus olhos azuis oceânicos estavam fixos em seu corpo, que tremia levemente.

“Peço desculpas pela espera, como você pode ver, estou atolado em trabalho.” O seu tom não era nada arrependido. “Eu não estava esperando que você me encontrasse até o final da tarde. Acreditei que você tinha saído da estalagem a pé. A ida e volta direta de sua vila remota deve ter te esgotado.”

Oriana foi pega de surpresa por suas palavras.

‘O que tem esse cara? Ele está insinuando algo?’ Por algum motivo, seu coração falhou uma batida. O seu jeito de falar soou como um interrogatório. ‘Eu não acho que eu já mencionei onde eu moro, então ele não poderia saber que uma viagem de ida e volta para a cidade levaria cerca de seis horas de viagem a pé, se não fosse pela travessia da floresta de Wimark Estate, o que me faz chegar aqui em apenas uma hora. Eu não posso deixar ele saber que sou eu a invasora…’
“Por que você não está falando?” Arlan perguntou enquanto sorvia seu chá tranquilamente.

“Tio!”

Eles ouviram uma voz infantil doce quebrar a atmosfera sutil. Uma menina de cerca de cinco a seis anos saltou da porta aberta de uma carruagem, fugindo de uma mulher e correndo em direção ao jardim.

“Senhorita, por favor, tome cuidado!” a mulher que parecia ser sua babá gritou.

A adorável garotinha não prestou atenção na preocupação de sua babá e seguiu correndo diretamente para o gazebo. Arlan se levantou de sua cadeira e a garota pulou em seus braços abertos.

“Tio Arlan! Você sentiu minha falta?”

“Sua travessa. Por que está estressando sua babá?” Arlan perguntou enquanto erguia seu pequeno corpo em seus braços.

“Porque eu senti saudade de você?” A garota sorria de orelha a orelha, como se sua felicidade não pudesse ser contida. “Tio, eu senti saudade de você. Você sentiu saudade de mim? Eu estava preocupada que você fosse embora até eu voltar pra casa.”

Ele beliscou suavemente sua bochecha gorda. “Eu não teria ido embora sem te ver.”

Ela deu um beijo em sua bochecha. “Tio é o melhor!”

Oriana pegou-se sorrindo com a interação deles. Primeiro, a garota era como um anjo – não só sua aparência era muito fofa para ser descrita em palavras, como ela também chegou e interrompeu o interrogatório assustador de Arlan. Verdadeiramente um anjo que a salvou de ser pega.

Segundo, Oriana viu outro lado de Arlan. Ele não era nem o moleque presunçoso do mercado nem o nobre intimidador de mais cedo. Este Arlan era um tio dengoso, doce e gentil com a menina preciosa que ele carregava em seus braços. A forma como ele olhava para a menina, era a mesma forma como o avô dela olhava para Oriana.

‘Essa garotinha é um anjo. Não é à toa que ela faz o lado suave deste demónio sair.’ Ela estudou o cabelo castanho da menina, que era de um tom mais claro que o de Arlan. ‘A babá dela a chamou de ‘senhorita’ e a menina também mencionou voltar ‘pra casa’. Ela é filha do Duque de Wimark?  Então Arlan é um parente do duque? Um irmão mais novo ou primo do duque…’
Oriana assistiu Arlan levar a menina para se sentar no colo enquanto ele voltava ao conforto de sua cadeira, as expressões gentis em seu rosto nunca se afastando, nem por um momento. Eram genuínas e mostravam o quanto ele amava essa menina.

“Então, Rayjin, você se divertiu na sua estada com seus avós?” Arlan perguntou.

“Sim, Tio. Vovô e Vovó me levaram para brincar…” Ela continuou a contar a Arlan várias coisas, desde provar uma nova espécie de bolo até comprar uma nova boneca e então aprender como pintar nuvens no céu.

Rayjin Wimark era a filha mais velha e única de Rhys e Alvera. Ela havia deixado a propriedade de Wimark durante o parto de sua mãe para visitar seus avós paternos, o ex-Duque e a Duquesa de Wimark, que estavam se hospedando em sua casa de inverno no Sul.

Depois de falar tanto que sua garganta secou, Rayjin notou uma pessoa desconhecida usando roupas escuras e estranhas. Seus olhos azuis cintilavam!

Tão bonita! Aqueles olhos castanhos pareciam similares à nova boneca dela!

Oriana a encarou calorosamente e lhe ofereceu um leve sorriso. Rayjin fez o mesmo, mesmo que Oriana fosse uma estranha para ela.

“Tio, quem é essa dama de preto? Ela é sua amiga?” Rayjin perguntou, fazendo a alma da jovem mulher sair instantaneamente de seu corpo.

‘Vovô, Estou em apuros! Fui pega! Se eu não voltar para casa hoje, por favor, me perdoe—’