A Mascote do Tirano - Capítulo 865
Capítulo 865: Um convite oficial do Corvo
Aries deveria ter traçado a linha entre ela e Miguel desde o início. Ela não deveria ter esperado ou se deixado levar pelo mistério por trás daquele rosto.
Se ao menos ela tivesse feito isso… Se ao menos tivesse fechado os olhos para aquele rosto e seguido o conselho que havia dado a si mesma, ela não estaria sentindo tanta dor.
Dizer que era melhor ser ferida pela verdade do que confortada por uma mentira era uma mentira. Aries apenas desejava não saber de nada. A verdade que ela ainda não havia confirmado, mas achava suficiente para devastá-la.
“Isso é tudo, Sua Majestade.” Suzanne se curvou, mantendo as mãos cruzadas diante de si. Quando ela endireitou as costas, Aries ainda estava trabalhando nos documentos sem olhar para sua empregada.
“Sua Majestade…”
“Eu ouvi você, Suzanne,” disse Aries sem tirar os olhos dos documentos que estava assinando. “Diga a Marcia Graves que não posso encontrá-la agora. Acho que sei o suficiente sobre o que está acontecendo neste território para precisar ter uma palavra com ela.”
“Mas, Sua Majestade, Marcia Graves parecia alarmada —”
“Se isso for tudo, então me deixe por agora, Suzanne. Tenho muito a recuperar. Vou apreciar um momento de paz e silêncio.” Aries fez uma pausa, levantando o olhar para Suzanne. “Estou bem, Suzanne.”
A preocupação sempre turbilhonava nos olhos de Suzanne sempre que Aries se enterrava no trabalho. Suzanne servia Aries mesmo quando elas eram candidatas a imperatriz no Império Haimirich. Portanto, ela sabia quando algo estava errado ou quando Aries estava incomodada com algo.
Aries tinha estado com foco absoluto sempre que estava trabalhando recentemente, afinal. Ela nem sequer olhava para Suzanne.
“Vou ficar de prontidão, Sua Majestade.” Suzanne não insistiu, sabendo que Aries iria se confidenciar com ela se não aguentasse mais. “Chame-me se precisar de mim de qualquer modo.”
Aries não disse nada, observando Suzanne se curvar novamente. Esta última não fez barulho ao sair, facilitando para o silêncio preencher a chancelaria assim que ela fechou a porta.
“Hah…” Aries soltou um suspiro profundo, recostando-se. Ela inclinou a cabeça para trás, olhos fechados para descansar.
“Eu não deveria tornar isso tão óbvio para não preocupá-la,” sussurrou, deixando seu corpo rígido derreter na cadeira. “Controla-se, Aries. Sua vida e a vida de todos estavam em jogo.”
O silêncio reinou lentamente na chancelaria até que Aries pudesse ouvir sua própria respiração. Era um silêncio absoluto, mantendo os olhos fechados.
Ela não sabia quanto tempo ficou naquela mesma posição até abrir os olhos. A sala já estava ligeiramente escura, fazendo-a virar a cabeça para a janela.
“O sol se divertiu,” murmurou, vendo que a escuridão que se aproximava já havia devorado metade do belo tangerina no céu. “E quando a noite chega, obviamente, aqueles que vivem no escuro rastejam para fora de suas cavernas — estou ocupada, então apreciaria se você fosse breve e direto.”
Aries manteve sua postura fria e afiada, desviando o olhar da janela. Seus olhos caíram no canto escuro da chancelaria até que a silhueta de uma pessoa se tornou mais clara.
“Suponho que isso é o que chamam de um dia muito produtivo,” comentou Aries com um toque de sarcasmo. “Ouvi muitas coisas boas sobre você, Giselle. Foi uma honra finalmente tê-la aqui, embora sem aviso prévio.
A pessoa no canto escuro da chancelaria lentamente saiu das sombras. Lá, revelou-se uma pessoa envolta em um grande e esfarrapado manto.
“Sem aviso, mas convidada.” A suave voz de uma mulher ecoou na tranquila chancelaria, puxando o capuz para baixo para revelar seu rosto. Os olhos da mulher estavam fechados, mas suas feições eram refinadas e bonitas. “Saudações, Sua Majestade. Desculpe-me por minha invasão rude.”
“Havia muitas coisas pelas quais você deveria se desculpar, não acha?” Aries brincou, sorrindo. “Colocar um espião em mim, observar cada um dos meus movimentos e coisas que não se deve fazer aos outros. Você não vai se desculpar por elas?”
“Não me lembro de ter feito nada disso.” Giselle, a mulher cega, baixou a cabeça. “No entanto, peço desculpas se Sua Majestade pensa assim.”
“Interessante escolha de palavras.” Aries balançou a cabeça, rindo de boca fechada. “Chega de formalidades. Eu simplesmente esperava que você ao menos pedisse desculpas para mim. Mas bem, eu não deveria ter criado expectativas.”
“Então.” Aries limpou a garganta, olhando para a mulher cega com uma expressão curiosa. “Diga seu propósito. Por que você está aqui?”
A mulher, Giselle, não respondeu imediatamente. Ela tinha seus olhos fechados, mas seu rosto estava voltado na direção de Aries. Se Aries não soubesse a verdade, pensaria que Giselle tinha outros meios de enxergar.
“Sei que você tem estado curiosa sobre a razão de Miguel Rothschild se parecer com seu irmão, o príncipe coroado da terra de Rikhill, Davien.” Aries bufou ao ouvir as palavras iniciais de Giselle. “Se você quer saber a verdade, encontre-me na noite do concílio na primeira noite da lua cheia.”
“Eu lhe darei a verdade que você busca,” Giselle acrescentou suavemente mas com grande certeza. “E eu curarei Miguel Rothschild da doença que tem o consumido por dentro.”
Linhas profundas apareceram entre as sobrancelhas de Aries.
“Este é um convite formal do Corvo,” Giselle falou novamente. “Foi um prazer para nós tê-la lá e colocar as coisas de volta no lugar que lhes pertence.”
“Você quer dizer que está me convidando para uma reunião onde eu, Aries Heathcliffe-Grimsbanne, seria o cordeiro sacrificial?” Aries riu com escárnio. “O que faz você pensar que eu entraria em uma armadilha de morte de bom grado?”
“Um gigantesco círculo mágico envolve o Continente — e com isso, incluindo a Floresta Proibida.” Giselle não perdeu o fôlego para responder. “Você não quer que aquelas crianças no Março vazio tomem o seu lugar, quer, Sua Majestade?”
Aries secretamente fechou as mãos em punhos apertados.
“Eu não quero recorrer a tais métodos,” continuou Giselle enquanto lentamente desaparecia na sombra. “Nos vemos na primeira noite da lua cheia.”