A Mascote do Tirano - Capítulo 863
Capítulo 863: A ironia
“Sua Majestade?”
“Sua Majestade?”
“Aries.”
Aries piscou os olhos, levantando o olhar para a pessoa sentada à sua frente. Lá, Dexter estava retirando o punho da superfície da mesa após bater nela para chamar sua atenção.
“Parece que você tem muitas coisas para pensar sempre que me convida para um chá.” Dexter ajeitou o terno enquanto endireitava a postura. “Isso me faz pensar que você está simplesmente me convidando como desculpa para evitar seu trabalho.”
“Desculpe.” Aries sorriu.
“Não precisa.” Dexter sorriu de volta. “Você tem muitas coisas na cabeça além de sobreviver todos os dias dentro das paredes do castelo. Estou apenas feliz que você não esquece de mim, mesmo estando em uma situação em que desfrutar de uma xícara de chá pode nos custar a vida.”
Seu sorriso desapareceu levemente, soltando um suspiro superficial. “Não tenho me sentido bem nos últimos dias. Pensei que passar um tempo com meu irmão me faria sentir melhor.”
“Você não se sente bem?” Rugas profundas apareceram entre as sobrancelhas de Dexter enquanto a preocupação enchia seus olhos. Ele se inclinou, apoiando o braço na borda da mesa. “Como você está se sentindo agora, Aries? Você tem bebido?”
Aries riu ao ver o pânico dominar o rosto de Dexter.
“Estou bem, irmão.” Ela balançou a cabeça suavemente. “Foi apenas que me senti mal nos últimos dias.”
Seus olhos se abaixaram, recaindo sobre o chá e os lanches luxuosos na mesa. “Parecia que meu estômago estava constantemente revirado, me fazendo querer vomitar. No entanto, mesmo quando eu corria para o banheiro, nada saía.”
Enquanto Aries detalhava o que tinha passado nos últimos dias, não podia deixar de se lembrar de tudo. Nos últimos dias, Aries às vezes tossia tão alto e continuamente que desmaiava no chão. Mas mesmo quando se contorcia de dor no chão, lágrimas escorriam de seus olhos.
A dor que ela estava passando era tão severa que nem conseguia começar a descrevê-la.
Abel estava certo quando disse que sua teoria poderia deixá-la com raiva a ponto de surpreendê-la também. Aries nunca pensou que se sentiria tão doente de raiva que vomitaria sangue.
“Mas estou bem agora.” Ela voltou os olhos para Dexter, oferecendo-lhe um sorriso gentil.
“Você tem certeza?” Dexter franziu a testa, duvidando de sua segurança. Afinal, Aries tinha esse hábito de suportar algo apenas para não preocupar as pessoas ao seu redor. “Aries, você sabe a razão de eu estar aqui, certo? Se algo está errado ou se você ainda está com dor, eu a ajudarei em tudo o que puder.”
“Isso inclui oferecer seu sangue para mim?”
A respiração de Dexter falhou quando todas as palavras que ainda tinha para dizer rolaram de volta para dentro de sua garganta. “Aries, isso não é uma boa piada.”
“Eu não estou brincando.”
Dexter avaliou sua expressão séria e suspirou quando o canto dos lábios dela se curvou em um sorriso.
“Não é engraçado,” ele repetiu, inclinando-se para trás enquanto ela ria. “Eu te daria meu sangue — todo ele, se você precisasse. Mas acho que não te daria nem uma gota agora.”
“Por quê?” Aries inclinou a cabeça para o lado. “Porque compartilhar sangue é um ato sensual?”
“Não.” A expressão de Dexter se endureceu, mantendo o olhar fixo em Aries. “Se eu acabar te dando meu sangue, isso só significa uma coisa, e isso foi que Abel está morto.”
Não havia jeito no inferno de Abel permitir Aries beber o sangue de outra pessoa, por razões óbvias. O mesmo valia para ele. O sangue de Aries era o único sangue que ele vinha bebendo desde que ela se transformou em vampiro.
Para Aries beber o sangue de outro vampiro ou até mesmo de um humano, isso só significaria que Abel estava morto. Esse seria o único momento em que Aries poderia beber de outro, afinal.
“Você odeia Abel até a alma.” Aries soltou uma risadinha curta, abaixando seu olhar suave. “Ainda assim, sempre achei que você confia mais nele do que em si mesmo.”
“Bem.” Dexter simplesmente deu de ombros. “Seu marido tem uma personalidade horrível. Mas porque ele é um imbecil, ele seria a última pessoa a conspirar pelas suas costas. Se ele quisesse te matar, anunciaria de maneira mais dramática que conseguisse pensar no momento.”
Ele estalou os lábios, voltando seus olhos para ela. “Então, sim. Eu odeio Abel com todo meu coração, mas ao mesmo tempo, confio nele mais do que poderia confiar em alguém. Confio nele mais do que confio em mim mesmo. Irônico, não é?”
“É estranho, mas eu entendo seu ponto.” Aries balançou a cabeça em compreensão. “No entanto, você deveria dar uma chance a ele. Eu educadamente discordo que meu marido tem uma personalidade horrível. Para mim, você simplesmente não dá uma chance para ele mostrar o quão gentil ele pode ser.”
“Estamos juntos há séculos, irmã. Não acha que ele não teve tantas chances quanto poderia?”
Aries e Dexter continuaram com sua habitual troca de farpas sobre seu marido, Abel. Aos poucos, a conversa deles se transformou em algo mais leve. Essa era a razão pela qual Aries chamava seu irmão toda vez que as coisas não estavam indo do jeito que ela queria.
Dexter tinha uma coisa que mais ninguém tinha, e isso era fazê-la sentir-se motivada. Abel era um aglomerado de caos, e toda a motivação que ele lhe dava era centrada em seu boudoir.
Dexter sempre foi um grande suporte, então passar a tarde toda com ele valia a pena.
*
*
*
“Sua Majestade.”
Aries estava parada em frente à janela, olhando para a exuberante vegetação ao redor do palácio da rainha. Dexter já tinha partido há meia hora. O silêncio na sala imediatamente o substituiu, como se o riso compartilhado e o clima leve que criaram quando ele estava lá nem tivesse acontecido.
“Deixe o Conde entrar, Suzanne.” Pouco antes de Suzanne poder chamar Aries novamente, esta última falou sem olhar para trás. “Já espero que ele solicite uma audiência privada hoje.”
Um brilho passou pelos olhos de Aries, mantendo os olhos fixos na janela até que seu próprio reflexo se tornou claro.