A Mascote do Tirano - Capítulo 845

Capítulo 845: Preso em um furacão silencioso

Semanas depois…

Aries estava sentada no banco da única capela na capital com um véu sobre a cabeça. A capela estava levemente escura, com apenas a luz passando pela janela de vitral como fonte. Seus olhos estavam fixos na cruz atrás do altar. Ela manteve seu olhar mesmo quando viu alguém sentar no mesmo banco pela sua visão periférica.

“Estranho.” Ela quebrou o silêncio com sua voz suave. “Quando eu vim a esta terra e vi esta capela, pensei quão interessante. Nunca imaginei que uma casa de Deus estaria na terra dos vampiros.”

“A misericórdia de Deus não é limitada apenas aos humanos, Sua Majestade. Mesmo a raça que outros consideram como a semente do mal merece misericórdia e Sua graça.” a voz do homem soava gentil e atenciosa. “Rei Maximus III também pensou da mesma forma. Assim, ele permitiu o estabelecimento da igreja. Sua participação nos sermões incentivou outros a participar da missa. Alguns para agradá-lo; outros tinham a mesma intenção inicial até realmente aceitarem a santidade do Único.”

O canto da boca de Aries se ergueu em um sorriso, virando a cabeça para o lado. Lá, na outra extremidade do banco, estava um homem em sua roupa clerical. Ele a olhou lentamente, oferecendo um breve sorriso.

“Estou feliz que Sua Majestade veio hoje. Espero que a luz sagrada da divindade proteja Sua Majestade,” ele acrescentou educadamente.

“Que gentileza sua abençoar uma pessoa como eu?”

“Você é a soberana desta terra. A igreja deseja apenas que a pessoa sentada no trono receba a bênção divina para que possa liderar esta terra em paz.”

Aries avaliou o homem de meia-idade brevemente antes de desviar o olhar dele. Ela voltou seus olhos para a cruz atrás do altar, levantando o queixo.

“Deus era tão misericordioso, Sua Santidade?” ela indagou, sua expressão sem sorriso não mudando.

“Claro.”

“Ele perdoa todos os pecados?”

“Se você confessar seus pecados, Ele está sempre disposto a perdoar. O arrependimento pode ser um processo difícil, mas acredito que todos serão perdoados desde que seja genuíno,” disse o Bispo. “Somos todos iguais aos olhos do Único verdadeiro Deus, que nos amou incondicionalmente.”

“Entendo…” Aries balançou a cabeça em entendimento antes que seus lábios se abrissem novamente. “… então é a única coisa que ele faz?”

“Perdão?”

“Perdoar seus filhos.” Suas pálpebras se abaixaram lentamente. “Se seus filhos estivessem morrendo, chorando, implorando por Sua ajuda, ele fecharia os olhos para isso. Ele deixará seus amados filhos cuidarem das questões por si mesmos e, então, aguardará que venham até ele para pedir perdão.”

“Sua Majestade —”

“Eu costumava acreditar na divindade. Meu pai era um devoto firme, e cada lar na terra verde tinha uma conexão profunda com aquilo em que acreditavam.” Ela o interrompeu com a continuação de sua história. “Mas mesmo quando eles choravam enquanto nosso inimigo os massacravasse um por um, ninguém veio para resgatá-los.”

Aries lentamente fixou seus olhos no Bispo mais uma vez. “Não me entenda mal, Sua Santidade. Eu não estou culpando o divino; tudo o que estou dizendo é que tive uma iluminação de que Ele ouvirá seu arrependimento, mas seus ouvidos estão fechados quando é um grito por ajuda. Eu não o culpo pelo que aconteceu em meu solo.”

“Estou aliviada, no entanto.” Seus lábios se curvaram em um sorriso sutil. “Que serei perdoada quando chegar a hora… porque agora, não posso fazer isso.”

“Sua Majestade, entendo seus sentimentos.” O Bispo soltou um suspiro raso. “No entanto, a paz vem quando se está disposto.”

“O continente nunca esteve em guerra com ninguém. Portanto, Sua Santidade não tem ideia de que às vezes abrir seu coração para a paz pode levar à sua ruína.” Aries lentamente levantou as mãos, entrelaçando-as enquanto fechava os olhos, rezando. “Não o culpo por olhar para o lado mais brilhante da vida. Entendo que sua perspectiva difere da minha, que sustenta o peso de sua verdade.”

Houve um momento de silêncio após as observações de Aries, mantendo sua postura de oração enquanto o Bispo a encarava. O último lentamente fixou seu olhar preocupado na cruz atrás do altar, pressionando os lábios em uma linha fina que aprofundava as rugas visíveis em seu rosto.

Depois de algum tempo, Aries lentamente abriu os olhos. Ela levantou o olhar para a cruz enquanto abaixava lentamente suas mãos entrelaçadas.

“Você sabe pelo que eu rezei, Sua Santidade?” ela quebrou o silêncio. “Nada. Eu tentei, mas nada veio à mente. No entanto, percebi que tenho muitas coisas a dizer ao que reside atrás dos portões de pérola.”

“Que sua decisão o leve a um resultado do qual Sua Majestade não se arrependerá,” disse o Bispo um segundo depois, olhando de volta para Aries com genuína preocupação em seus olhos. “Sua Majestade, independentemente de qualquer coisa, você ainda é a soberana desta terra, e a igreja a apoiará. Acredito que você esteja aqui por uma razão. Seja qual for, espero que cumpra esse propósito.”

“Agradeço suas palavras gentis e seu apoio inabalável desde minha coroação, Sua Santidade. Digo isso do fundo do meu coração, então você tem minha gratidão…” Aries fez uma pausa deliberada, sorrindo vagamente. “… e sinto muito.”

O Bispo não sabia o motivo daquele pedido de desculpas, mas não se deteve nisso. Ele abaixou a cabeça e, após um momento, ajudou a rainha a deixar a igreja. Assim que ele abriu as portas da igreja, algumas carruagens e cavaleiros estavam do lado de fora.

“Liderar uma terra não é fácil. Se você precisar de consolo, as portas da igreja estarão sempre abertas para Sua Majestade,” disse o Bispo, enfrentando a rainha enquanto estavam no pórtico da igreja. “A igreja se sente honrada por ter sido agraciada com sua presença.”

“Agradeço a oferta, mas prefiro que você abra as portas da igreja para quem precisa de orientação divina.” Aries sorriu. “Eu não poderei visitar por um tempo, Sua Santidade.”

“Entendo. Que a Luz te proteja do mal em sua jornada.”

“E que a luz continue a usar você para espalhar a palavra.” Aries assentiu antes que uma figura se destacasse em sua visão periférica.

“Sua Majestade.” Ela virou a cabeça, apenas para encontrar os olhos de Gustav e sua mão estendida.

“Estou de partida,” ela desculpou-se com o Bispo, apertando a mão de Gustav para descer as escadas em direção à carruagem.

O Bispo ficou no pórtico, observando a rainha entrar na carruagem com a ajuda do camareiro da Rainha. Um suspiro raso escapou de seus lábios, vislumbrando o lado do rosto dela pela janela.

“Você estará sempre em minhas orações, Sua Majestade,” sussurrou o Bispo, observando o séquito da Rainha partir. “Que você perceba que seu propósito pode não ser tão sombrio quanto você pensa que é, mas sim, torne-se uma luz na terra onde o sol nunca nasce.”