Capítulo 760: Segundo e Terceiro destinatário
[ Ao mestre da lança escura,
Por mais que gostaria de lhe escrever uma carta formal, esta carta exigiu urgência. Muitas coisas ficaram não ditas há dois anos, e peço por sua compreensão prolongada por não ter lhe enviado uma carta apropriada.
Para ser sincero, também não tenho certeza em qual lado você está. No entanto, uma parte de minha alma teve fé na jovem princesa da terra que prometi servir. Ela confia em você, e portanto, após anos de dúvida, darei um salto de fé e acreditarei em seu espírito.
Por favor, nos ajude.
Isaiah. ]
Na mesma noite em que a carta de Abel para Máximo chegou e a carta de Isaiah alcançou as mãos de Ismael, o segundo destinatário foi entregue com sucesso. Assim como a primeira carta, a segunda era curta, mas ligeiramente mais vaga que a primeira.
Parado no meio do jardim da rainha com uma carta na mão e um regador na outra, Fabian desviou os olhos para o corvo pousado no banco. No momento em que fixou os olhos no pássaro, seu olhar estreitou enquanto um sorriso surgia em seu rosto.
“É você de novo,” disse Fabian ao corvo. “Você já comeu algo?”
Fabian cuidadosamente colocou o regador no chão e então dobrou a carta, deslizando-a para dentro de seu colete. Sua mão entrou no bolso, tirando de lá um lenço. Fabian lentamente desdobrou as camadas do lenço, revelando um pequeno doce redondo.
“Aqui,” ele se inclinou, oferecendo o doce ao pássaro. “Pegue.”
O corvo examinou o sorriso do mordomo que alcançava seus olhos estreitados. Mesmo com Fabian sorrindo, havia algo de perigoso e suspeito irradiando de suas costas.
“Diga ahh…” Fabian murmurou enquanto o pássaro abriu as asas e voou para longe. “Meu…”
Um suspiro profundo escapou de seus lábios enquanto ele ergueu o olhar, seguindo o voo do corvo que se camuflou na escuridão. Ele balançou a cabeça levemente antes de olhar para o doce entre seu dedo indicador e polegar.
“Que criatura interessante,” murmurou Fabian, colocando o doce de volta no lenço antes de guardá-lo novamente no bolso. “Seria interessante abri-lo e ver como foi feito. Não que eu planeje assá-lo. Eu costuraria tudo de volta após dar uma espiada no que há dentro desse corpo.”
Fabian soltou um suspiro enquanto olhava para o céu novamente. O silêncio seguiu seu murmúrio antes de ele cuidadosamente desviar os olhos para o castelo próximo. Ali, ele podia ver Aries parada na sacada. Ela estava olhando para o céu com tamanha melancolia em seus olhos, escondida naquele xale fino enquanto o vento soprava o cabelo para trás.
“Que coisa magnífica,” ele murmurou, admirando a beleza não tão distante. Contudo, além de admiração, não havia desejo em seus olhos. Tudo o que havia era honestidade.
Aries era de fato uma mulher de beleza incomparável, mas com poderes tão destrutivos. Ela era como uma deusa que caiu da graça dos céus e agora estava perdida neste inferno.
“Que pena,” ele acrescentou em voz baixa. “Parece que ela não tem ideia do que está acontecendo e do que acontecerá nos próximos dias. Infelizmente… acho que isso seria melhor já que todos os olhos estão sobre ela.”
A carta que Fabian recebeu momentos atrás era francamente vaga. Se ele fosse outra pessoa ou um pouco menos perspicaz, ele não a compreenderia.
[ Por favor, nos ajude. ]
Isso foi a única coisa em que ele se concentrou na carta que recebeu; o resto eram apenas rabiscos inúteis.
“Ajudá-los, hein?” ele virou lentamente sobre os calcanhares, esfregando o queixo com um dedo. O canto de seus lábios se curvou em um sorriso enquanto seus olhos levemente estreitos se entreabriram. “Ainda bem que o encontrei uma vez e conversei com ele, mesmo que por um curto momento.” — essa breve interação com Abel duas noites atrás deu-lhe uma ideia de como funcionam as engrenagens na cabeça do imperador.
Com esse pensamento em mente, Fabian caminhou tranquilo para oferecer um pouco de sua ‘ajuda’. Seguindo pelo único caminho que um ‘simples’ como Abel tomaria, um largo sorriso dominou o rosto de Fabian como se ele estivesse ansioso por dar boas-vindas ao seu novo amigo em casa.
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Enquanto isso, em uma das residências privadas situadas no coração do continente…
Uma mulher abriu a janela do lado de dentro da chancelaria, esticando o braço enquanto um corvo pousava na lateral de sua mão. Seus lábios finos se curvaram em um sorriso, admirando o corvo assombrosamente belo que tinha penas sedosas e negras.
“Faz tempo, Morro.” Sua voz soava agradável aos ouvidos com um toque de domínio. “Eu nunca pensei que conseguiria vê-lo nesta vida novamente. Ou melhor, eu nunca pensei que ouviria dele nesta vida.”
Um leve riso escapou de seus lábios finos enquanto ela acariciava gentilmente o pescoço do corvo. Seu longo cabelo platinado caiu ao lado de seu rosto enquanto ela abaixava a cabeça, tirando o envelope do bico do pássaro. A mulher o segurou entre os dedos, olhando para o simples envelope de um lado para o outro sem abri-lo.
“Que criança,” ela riu, fixando os olhos novamente no corvo. “Está perigoso neste lugar no momento, meu querido Morro. Descanse se precisar. Minha residência estará sempre aberta para você.”
A mulher ergueu levemente a mão, fazendo o pássaro voar para dentro da chancelaria. Seu sorriso permaneceu enquanto observava o corvo voar diretamente para o pote sobre o suporte que tinha um globo ocular dentro.
“Já volto, querido. Embora eu não precise ler a carta que aquela criança deixou, tenho certeza de que alguém está interessado em dar uma olhada nela,” disse a mulher, caminhando enquanto o corvo bicava o globo ocular no jarro.
A mulher percorreu pelo corredor escuro e vazio da residência até alcançar uma sala específica. Ela bateu uma vez e esperou por uma resposta, mas quando um minuto passou em silêncio, abriu a porta bem devagar.
No momento em que a porta se abriu, seus olhos caíram sobre o homem que fazia flexões no espaço generoso no centro do quarto. Ele estava sem vestimenta superior e sua pele brilhava devido à camada de suor em seu corpo.
“Olhe o que eu consegui, Marquês.” A mulher cruzou os braços sob o peito, apoiando o lado contra o batente da porta. “Parece que você poderá sair daqui em breve.”
O homem, Dexter, pausou. Ele virou a cabeça em direção a ela, apenas para vê-la balançando um envelope que tinha o selo de Isaiah. Dexter se afastou suavemente do chão, levantando-se e não perdendo tempo enquanto marchava em direção a ela.
“Me dê isso.” Ele estendeu a mão para o envelope, apenas para a mulher afastá-lo levemente. Seus lábios curvaram-se para baixo, franzindo. “London Levítico, entregue-me.”
“Eu prometi à sua irmã, Sua Majestade, a Rainha, que manteria seu irmão seguro. Entendo que seu ego foi ferido, mas espero que entenda que foi um acordo mútuo com benefícios mútuos.”
Dexter avaliou o rosto astuto da mulher; ela tinha uma ligeira semelhança com Isaiah, mas era muito mais irritante. Ele estalou a língua, arrancando a carta dela.
“Entendo o motivo pelo qual ela se desfez das pessoas de quem cuidava para que não nos usassem como coleira contra ela,” ele disse enquanto abria calmamente o envelope. “Independentemente do que penso, tudo o que quero saber é se aquele maldito marido dela finalmente acordou para compreender.”
Os olhos de Dexter brilhavam em desdém enquanto ele examinava a carta. Um brilho cintilou neles ao final da leitura, seus lábios curvando-se em um sorriso.
“Finalmente…” ele exalou, amassando o papel em sua mão. “Logo poderemos acertar todas as contas.”