Capítulo 750: Pesadelos II
Pesadelos não eram novidade para Aries. Aqueles pesadelos a assombravam, forçando-a a acordar sem fôlego. Ela costumava odiá-los — ainda odeia — pois só a lembravam do inferno que passou após a queda de Rikhill, e depois um tipo diferente de inferno no Império Maganti.
Embora aqueles pesadelos tenham lentamente desaparecido à medida que ela seguia com a vida, Aries regrediu há dois anos. Mas seus pesadelos desta vez foram diferentes.
Toda noite, cada vez que ela fechava os olhos, sonhava em estar com Abel. Na maioria das vezes, seus sonhos eram simplesmente memórias que ela criou com ele. Eram belas memórias cheias de nada além de amor, carinho, sinceridade e bobagens.
Essas memórias maravilhosas a faziam feliz, levando-a ao céu, apenas para ela acordar para a realidade. Sua realidade onde ele não estava com ela.
Aries abriu os olhos lentamente no meio da noite, acordando para um pesadelo chamado realidade. Sua expressão estava fria, olhando para a varanda ligeiramente aberta onde o vento soprava, fazendo a cortina tremular.
“Um pesadelo?” Suas sobrancelhas se ergueram quando uma voz falou por trás dela.
Aries virou-se para o outro lado, apenas para ver Abel deitado de lado. Sua têmpora estava apoiada contra os dedos, lançando-lhe um sorriso curto.
“Sentiu minha falta?” ele perguntou com seu clássico sorriso torto.
Seus lábios tremeram ao se abrirem, mas sua voz ficou presa na garganta. Aries se sentiu congelada no lugar, encarando-o.
“Hah…” ela soltou uma risada curta e ofegante. “E você?”
“Muito.” Seus olhos suavizaram, estendendo a mão para acariciar a bochecha dela com as costas dos dedos. “E você?”
Aries sorriu enquanto seu corpo relaxava. “Muito é um eufemismo.”
“Eu senti sua falta…” ela sussurrou, segurando a mão dele que estava em sua bochecha. “… a ponto de eu acordar para outro sonho.”
Aries fechou os olhos, apertando a mão dele enquanto rangia os dentes para impedir-se de chorar. Fazia dois dias desde que teve aquele vislumbre do selo do imperador, e desde então, sempre o alucinava.
Assim como esta noite.
Quando Aries reabriu os olhos, o canto de seus lábios se curvou em um sorriso sutil. Ela não falou, sabendo que qualquer coisa que ele dissesse era apenas parte de seu pensamento. Esses poderes dela, sendo capaz de ver os diferentes caminhos da vida e até criar uma alucinação realista, eram semelhantes a uma maldição.
Se Aries não fosse cuidadosa o suficiente, perderia a mente, vivendo em um mundo onde ela estava… segura.
“Estou cansada, Abel,” ela confessou em um sopro, sabendo que só poderia mostrar vulnerabilidade na frente dele. Não importava se ele era real ou uma miragem — não importava o que fosse — ele sempre era seu porto seguro. “Estou… exausta. Me leve daqui.”
Passar mais um segundo neste lugar era um inferno. Máximo talvez não a tivesse torturado fisicamente como o que Joaquim e os Imperiais fizeram com ela, mas era a mesma coisa. Na verdade, era pior.
A cada passo que dava, Aries precisava ser extra cautelosa e conter a respiração. Cada vez que respirava, ainda se sentia sem ar. E a cada segundo que passava, as correntes que a prendiam pareciam mais pesadas. Não era algo a que alguém se acostumasse ou aumentasse sua tolerância. Era simplesmente algo que ela tinha que suportar além de encontrar maneiras de sobreviver diariamente.
Aries pode ser a portadora da Maléfica, a bruxa mais poderosa que já existiu. No entanto, ela ainda era humana e, portanto, podia se cansar.
“Isto não é viver, Abel,” ela sussurrou entre dentes cerrados. “Me leve daqui.”
“Em breve.” Seu sorriso tornou-se mais suave, segurando a mão dela e levando-a até os lábios. “Eu prometo.”
Aries sorriu, apesar de saber que aquela promessa era parte de seu pensamento otimista sobre o que ele diria.
“Então eu esperarei.” Ela se aproximou dele, apertando-se ao seu lado enquanto ele a mantinha segura em seu abraço. Aries apertou o peito dele, olhos baixos. Seu sorriso estava cheio de amargura, expirando a tensão em sua garganta.
“Eu esperarei,” ela repetiu em um sopro. “Você sabe onde me encontrar, certo?”
“Em meu coração?”
Aries riu fracamente. “Mhm. Em seu coração.”
“Você está segura lá,” ele brincou com uma voz profunda, acariciando suavemente suas costas. “Agora durma.”
“Mhm.” Ainda assim, ela não fechou os olhos enquanto tentava sentir o calor impossível dele. “Você também, Abel. Vamos dormir.”
“Estou dormindo há dois anos.”
“Não, você não está,” ela discutiu suavemente. “Estive te observando. Você não dormiu nada e só ficou olhando para o céu por dias.”
“Infelizmente, mesmo sendo meu mundo, ainda estou restrito a fazer o que me agrada. Você acredita nisso, Abel?” Aries soltou uma pequena risada amarga. “É meu mundo, e eu o criei, mas, infelizmente, só posso observar você de longe.”
“É isso que os deuses fazem?”
“Não tenho ideia, mas acho que é o mesmo caso?” Aries piscou até que seu olhar enfraqueceu. “Não é como se os deuses não estivessem ouvindo nossas orações. É só que eles só podem fazer tanto quanto nos dar pistas para transmitir sua ajuda e mensagem. Se ao menos alguém prestar bastante atenção, é claro.”
“Eu não prestei atenção.”
“Você não precisa.” Aries piscou uma vez antes de seus olhos fecharem lentamente. “Sua explosão violenta toda vez que eu me aproximava era o suficiente para você saber que eu estava por perto. Mas você não me quer por perto; você não suporta minha presença.”
“Porque você era Maléfica e eu sou um Grimsbanne. Portanto, naturalmente, eu te detesto,” foram as palavras que ela ouviu dele antes que Aries sucumbisse ao sono.
À medida que a noite se aprofundava, a pessoa que a abraçava lentamente desapareceu, deixando Aries dormindo na grande cama sozinha. Aries foi deixada abraçando a si mesma para dormir, e, sem saber, enquanto estava profundamente adormecida, uma lágrima rolou pela ponte de seu nariz.
Que pesadelo.
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Enquanto isso, no grande oceano, um barco a remo flutuava sobre as águas calmas. Dentro dele estava Abel, dormindo enquanto usava o braço como almofada para a cabeça, e o outro braço sobre os olhos. Quando ele levantou o braço para espiar com um dos olhos, um suspiro suave escapou de seus lábios.
“Você… parte meu coração, querida,” sussurrou Abel, arrastando seu corpo para se sentar ereto. “Sério. Ela me deixa triste.”