Capítulo 720: Chá e biscoitos
Império Haimirich. Uma terra outrora admirada com reverência e respeito à distância, agora um lugar para o qual as pessoas nem ousariam olhar. Tornou-se um lugar tratado silenciosamente como o ponto de origem de pragas e todos os desastres. Elas temiam que, ao contemplar os portões sem guarda do império, a má sorte se apegasse a elas como uma sanguessuga.
Apesar disso, uma mulher pequena, com longos cabelos desbotados presos na ponta para não varrer o chão seco, estava diante dos outrora gloriosos portões do Império Haimirich. Sua pele era pálida e sua expressão, neutra.
Seus cílios desbotados tremularam delicadamente. Uma brisa suave passou por ela, fazendo o pequeno sino amarrado em seus cabelos brancos soar suavemente.
“Que dilema enorme,” ela sussurrou, levantando os olhos opacos em direção à torre dos portões.
“Tilly!” Um menino jovem que também tinha o mesmo cabelo prateado e sedoso acenou para ela da janela da torre. “Os portões estão abertos! Mas são pesados! Apenas pule por cima dos portões — não tem ninguém aqui!”
“Pular?” a mulher pequena, que mais parecia um fantasma, examinou a parede imponente. “Era alto.”
Sua voz mal alcançou seus próprios ouvidos, mas o menino a ouviu nitidamente.
“Vamos lá!” instou o menino, gritando com entusiasmo. “Ah! Eu encontrei uma cadeira incrível aqui. Dá pra sentar nela por dias sem ficar com dormência!”
“Uma cadeira?” a mulher piscou, e com um estalar de dedos, apareceu ao lado do menino. “Havia chá e biscoitos?”
O rosto do menino se contorceu ao ver a pura curiosidade no rosto dela. “Bem…” ele coçou a parte de trás da cabeça.
“Talvez se formos até lá.” Ele apontou para o castelo à distância. “Eu só encontrei uma cadeira aqui, mas aquele lugar parece luxuoso.”
A mulher, Tilly, lentamente seguiu a direção que o menino apontava. Ela piscou e piscou, olhando para o castelo que permanecia silencioso, mas ainda exalava uma energia mágica intensa.
“Você acha que tem alguém lá?” perguntou o menino, fixando os olhos no castelo. “Este lugar inteiro está cercado por uma barreira mágica. Se eu pisar em outro caminho, o lugar simplesmente parece diferente.”
“Alguém está protegendo este lugar,” disse Tilly, mantendo os olhos no castelo. “Um, dois, três… são muitas pessoas.”
“Eles estavam vivendo lá?”
“Dormindo.” Ela examinou toda a terra até o lugar mais distante que seus olhos podiam alcançar. “Todos estão apenas dormindo.”
“Dormindo?” o menino franziu a testa, arqueando as sobrancelhas. “Eu não acho que esta terra abrigava apenas vampiros. Eu ouvi dizer que era principalmente habitada por humanos.”
“E a pessoa aqui está mantendo os corpos deles vivos,” explicou Tilly ao menino, colocando a mão no topo da cabeça dele. “Quem quer que esteja mantendo tudo neste lugar deve saber muitas coisas.”
“Você acha que ele sabe onde Sunny está?”
“Eu espero que ele tenha chá e biscoitos.” O menino olhou para ela com desânimo diante do comentário. “Tilly está com fome.”
“Certo, certo. Nós não comemos nada, não é?” O menino soltou um suspiro profundo, já acostumado com sua curta atenção. “Tilly, que tal voarmos até aquele lugar? Eu não quero continuar correndo. Claude continuou me provocando dizendo que eu não cresço por causa de nossa interminável viagem.”
Tilly olhou para o jovem menino cuja face de repente ficou vermelha de raiva. Quando um suspiro superficial escapou de seus lábios, ela arrastou os pés até o banco de madeira e se sentou.
“Tilly está cansada,” ela anunciou suavemente, os olhos fixos no menino, que agora tinha a mesma altura que ela depois de sentar. “Law, desde quando você cresceu?”
O jovem menino chamado Law inclinou a cabeça para o lado. “Eu cresci?” ele perguntou, apontando para si mesmo.
Tilly assentiu, mas não explicou porque achou isso trabalhoso. Antes, sempre que ela se sentava, ainda olhava para baixo ao vê-lo. Mas agora, seu pescoço estava levemente inclinado para trás com os olhos voltados para cima.
“Aquele ladrão de mãe obcecado!” o menino, que tinha cerca de quatorze anos, rangeu os dentes enquanto se lembrava de um ser insuportável. “Ele ficava pressionando meus nervos sempre que meu irmão mais velho me carregava, dizendo que dois anos se passaram desde que deixamos o continente e eu não cresci um centímetro.”
“Eu vou matá-lo antes que minha mãe chegue e ele tente seduzi-la por diversão.” O jovem menino girou sobre os calcanhares, encarando o castelo com determinação. Então ele subiu no deque e, ao se erguer, olhou para Tilly que ainda estava sentada graciosamente.
“Tilly, se você precisar de mim, eu estarei dentro daquele castelo.” Ele apontou novamente para o castelo, com os olhos em Tilly. “Ou apenas grite, certo? Vou caçar Claude, já que ele está por aí fazendo turismo. Eu preciso salvar minha mãe desse pervertido.”
Tilly piscou e no momento em que reabriu os olhos, tudo o que viu foi o jovem menino pulando daquela altura sem medo. Ela inclinou a cabeça para o lado, sem traço de preocupação que o menino pudesse não aterrissar com segurança.
“Se ele quer salvar a mãe dele de um pervertido, não deveria começar com o pai dele primeiro??” ela ponderou, mas sua pergunta se dispersou com o vento.
Tilly soltou um profundo suspiro, virando-se na direção do castelo. Ela não moveu um músculo, sem conseguir detectar se era por preguiça ou simplesmente exaustão. Embora ela não soubesse realmente o que era sentir-se exausta porque até mesmo respirar já era cansativo para ela.
“Abel,” ela sussurrou, mantendo o olhar no castelo silencioso que parecia tão distante para seus olhos. Não literalmente, mas mais como um lugar intocável e difícil de invadir. “Levei dois anos para entrar neste lugar, mas por que… você permitiu-se dormir por tanto tempo?”
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[ Palácio Imperial Haimirich ]
“Vossa Graça!” A voz de uma garotinha ecoou pelas paredes finas do palácio. “Vossa Graça~! Onde você está?”
A garotinha de cabelos prateados com mechas cor de avelã corria pelo corredor vazio, procurando por uma pessoa específica que esteve com ela nos últimos dois anos.
“Vossa Graça!” ela abriu uma das portas com um chute, ofegando no momento em que avistou uma figura parada em frente à janela. “Temos visitantes, Vossa Graça!”
O homem virou lentamente em seus calcanhares, encarando a garotinha. Lá estava Sunny, agora com cinco anos, parada na porta com um enorme sorriso no rosto.
“Eu sei,” disse Isaiah calmamente, segurando as mãos atrás de si. “Mathilda Grimsbanne e sua comitiva finalmente colocaram os pés nesta terra.”
Isaiah lentamente voltou seus olhos para a janela, sem demonstrar alívio ou qualquer emoção em particular. “Embora eu tema o que acontecerá quando os acordarmos.” Ele então direcionou sua atenção à cama onde o imperador estava dormindo tranquilamente pelos últimos dois anos desde aquela noite.