Capítulo 711: Não o deixarei novamente
“Sunny… está com medo.”
SPLASH!
Sunny fechou os olhos, antecipando a dor que não veio. No entanto, ela sentiu o respingo de sangue nela e seu cheiro, o que a fez espiar cautelosamente. Sunny ergueu os olhos devagar, apenas para ver as costas de Aries de pé ao lado da cama.
Thud!
Sunny tremeu ligeiramente, olhando para o corpo entre Terceiro e Aries. Era uma das pessoas que Aries havia escolhido para usar como escudo, apenas para descartá-la sem pestanejar. Aries estava manchada de sangue, mas não pelo ataque do Terceiro.
“Vovó…” chamou Sunny com uma voz trêmula, mordendo o lábio inferior enquanto sentia um medo genuíno pela primeira vez em sua vida. Não era que Sunny não tivesse outros planos, mas ela sabia que se machucaria. Afinal, Sunny tinha medo da dor.
“Sua Majestade, como pode atacar uma criança inocente sem hesitar?” A voz de Aries era suave e fraca, mas não soava menos confiável. “Isso é bastante decepcionante. Eu pensava que você era melhor do que isso.”
Seus olhos semicerraram, analisando o homem que ela ocasionalmente visitava quando ele estava em coma. O homem parecia diferente de quando seus olhos estavam fechados e agora que ele olhava para ela. Olhos tão maliciosos. Quem imaginaria? Mas eles não eram desconhecidos. Aries já havia visto aqueles olhos.
Os olhos dele eram os mesmos de Maximus IV. Não em aparência, mas no que se escondia profundamente neles.
O homem sorriu de canto, analisando Aries da cabeça aos pés. Sua expressão era apática, exausta. Mas, apesar de sua aparência frágil, ela permaneceu firme. Considerando que ela fazia a ponte entre dois mundos, seria tolice julgá-la superficialmente.
“Maléfica,” ele chamou. Sua voz era áspera e sombria o suficiente para causar arrepios em qualquer um.
Quão perverso.
“Eu finalmente conheci você,” ele continuou, olhos cheios de malícia. Ele levantou a mão e a estendeu para ela. “Venha, minha querida. Vamos.”
Aries soltou uma risada seca. “Vá? Com você? Para onde?”
“Você sente, não sente?” Terceiro inclinou a cabeça para o lado. “Nós. Eu e você.”
“Sentir…” Aries respirou fundo, tentando entender suas palavras, mas sem sucesso. “Não, Sua Majestade. Eu não sinto nós—”
Seu fôlego parou quando todo o seu corpo congelou, olhando para o homem a poucos centímetros dela. Ela não sabia o que aconteceu ou como ele se aproximou tanto, mas ele era rápido.
O homem inclinou a cabeça, torcendo-a para o lado. “Você mudou.”
“Eu não.” Aries fez o máximo para controlar sua surpresa, erguendo o queixo. “Eu não sou Maléfica, Sua Majestade. Eu não mudei. Este é o jeito que eu sou, sempre.”
“Você está certa…” seus olhos semicerraram, levantando as mãos para tocar o rosto dela, mas pararam no meio do caminho. “Você não é Maléfica. Aries. Esse é o seu nome.”
Seu sorriso se contraiu de irritação, revelando seus longos e afiados dentes. Seus olhos brilharam em vermelho intenso, com a ira queimando por dentro.
“O Grimsbanne…” ele exalou, mudando seu olhar para Sunny, que ainda estava atrás de Aries.
“Vovó… Sunny está com medo…” Sunny recuou lentamente, querendo se esconder atrás de Aries, mas com medo de que o homem apenas a arrancasse de lá.
“Esses ladrões… sempre atrapalham o meu caminho, não é?” Terceiro olhou de volta para Aries, rangendo os dentes com raiva. “Eles simplesmente não morrem e me deixam em paz de uma vez.”
Não era o contrário?
Abel e todos viviam pacificamente até que as pessoas do continente pisaram no Império Haimirich. Aries e Abel não queriam nada com eles. Abel havia mudado drasticamente; embora ele ainda fosse cruel, ele se comportava desde que recebesse os elogios e beijos de sua esposa no fim do dia.
Abel estava tentando.
Mas essas pessoas… Este homem em particular… simplesmente apareceu do nada, trazendo quaisquer problemas que tinham e os envolvendo.
Pensar nisso trouxe uma fúria indescritível ao coração dela.
“O que você quer?” ela perguntou, exalando pelos lábios. “O que você quer para vir até aqui e se intrometer com Marsella?”
“A morte deles.” Sua resposta foi rápida, sem hesitação. “E a sua.”
O canto de seus lábios se curvou para cima, parecendo o sorriso do diabo. Ele pode não ter aquelas asas assustadoramente belas ou os chifres que Abel tinha, mas a repugnância crescente no coração dela aumentou significativamente ao olhá-lo.
“Se os Grimsbannes morrerem, eu posso viver em paz. Eu posso governar este mundo, e você… Eu posso trazê-la de volta.” Terceiro bufou baixo, e sem aviso prévio, ele enfiou sua mão no pescoço dela. A barreira transparente que protegia Aries se despedaçou facilmente, com ela sendo jogada na cama, causando Sunny a se afastar instintivamente.
Aries segurou o pulso dele por instinto, cravando suas unhas na pele dele, com os olhos ficando vermelhos. Seu rosto imediatamente ficou rubro devido ao aperto em seu pescoço, mas sua expressão permaneceu séria.
‘Ele vai me matar,’ foi o que passou por sua mente, pensando em formas de se libertar dele. As veias na parte branca de seus olhos ficaram lentamente vermelhas, e logo ela sentiu a cabeça pesar.
“Afaste-se dela.” Ela ouviu a voz de Sunny acima de sua cabeça e viu a pequena pular em cima do Terceiro. Porém, antes que ela pudesse fazer contato, Terceiro arremessou os braços. Sunny bateu contra a parede.
Sunny soltou um gemido.
“Sunny!” O fôlego de Aries parou, olhando para o homem que a estrangulava. Ela apertou mais forte o pulso dele, rangendo os dentes. Sem opções para se libertar, Aries começou a murmurar um cântico. Enquanto fazia isso, lágrimas de sangue escorreram de sua têmpora.
“Ra ka sha la ma sa…” Apesar da falta de ar, sua voz se tornou mais alta e firme. Sangue continuou a escorrer de suas têmporas e logo também saiu de seu nariz, e ela tossiu sangue. “… la ma… cof—”
“Vovó…” Aries ouviu a pequena voz de Sunny ao seu lado. A garotinha se esforçou para se sentar com grande dificuldade, fixando os olhos no homem que prendia Aries na cama enquanto a estrangulava. “… pare com isso.”
Ninguém sabia qual tipo de feitiço Aries estava cantando repetidamente. Contudo, uma grande parte do coração de Sunny sabia que Aries deveria parar.
“Ra ka —”
Boosh!
Aries suspirou profundamente quando o aperto dele subitamente afrouxou, tossindo e rolando para o lado. Cada uma de suas tosses era dolorosa, como se uma lâmina estivesse cortando sua garganta. Quando se recuperou, Aries imediatamente se virou na direção de Sunny. Um alívio encheu seu peito ao ver que Sunny parecia bem, apenas um pouco suja.
“Maldito seja,” Aries cuspiu entre os dentes cerrados, encarando o homem, que foi jogado contra a parede com força. Ela apalpou o pescoço, esticando-o, tentando não sentir a sensação do aperto dele. Enquanto fazia isso, assistia Terceiro se esticar enquanto resmungava, levantando-se novamente.
Terceiro olhou para Aries, com uma névoa se formando na frente de seus lábios. “Maléfica,” ele chamou, cerrando o punho. “Você está me irritando.”
Assim que a última sílaba de suas palavras escapou de seus lábios, Aries sentiu essa forte e sombria aura que ela nunca havia sentido antes. Eles precisavam fugir. A primeira coisa que veio à sua mente foi Sunny. Ela tinha que tirar Sunny dali. Mas no momento em que esse pensamento cruzou sua mente, Aries congelou quando uma figura de repente apareceu ao seu lado.
“Você… não vai me deixar novamente,” foi tudo o que ela ouviu antes de sentir uma sombra escura a envolver.