Capítulo 706: O verdadeiro poder da Maléfica

Meio ano não era pouco tempo para Aries. Durante esses meses, ela não apenas estava ocupada agindo como a imperatriz e mãe da nação. Ela nunca deixou de estudar e praticar seu poder com Isaiah. Inicialmente, eles não tinham ideia do que Maléfica podia fazer; ninguém sabia.

Com o tempo, Aries foi lentamente descobrindo ao ir e voltar entre aquela visão e aquele homem, que a chamava de alma gêmea. Com a ajuda daquele homem estranho e das bruxas do conselho noturno, Aries conseguiu compreender bem o seu poder.

Alma.

O que fazia Maléfica ser a mais perigosa era que ela tinha o poder de aprisionar pessoas em um mundo que ela podia criar. Não importava se eram humanos, vampiros, lobos ou qualquer outra criatura. Desde que uma pessoa ou qualquer coisa tivesse uma alma, ela podia capturá-los e deixar seus corpos no mundo real.

Maléfica podia brincar de deus, se fosse isso que ela quisesse fazer. Por isso, ela foi banida e seu perigoso poder foi selado.

A única razão para o poder de Maléfica ainda existir era porque a primeira Maléfica tinha seguidores. Eram pessoas que ela ajudou e que a seguiram. Esse poder foi passado de geração em geração, até que muitos anos atrás, foi roubado. E com isso, a pobre garota que carregava esse poder selado foi sequestrada, nunca mais foi ouvida, apenas para esse poder aparecer agora — dentro de Aries.

Ainda assim, Aries não conseguia controlar completamente Maléfica. Para fazer esse feitiço em larga escala que abrangia o império, ela precisava da ajuda do conselho noturno, de Isaiah, e dos Grimsbanne.

Enquanto os convidados do banquete real desta noite entoavam cânticos continuamente, emprestando seus poderes para que Aries pudesse manter o mundo que ela criou, Aries lentamente sentou-se em sua cadeira. Ela lançou um olhar para Suzanne, a única pessoa que ela não levou para o mundo de Maléfica.

“Sua Majestade.” Os olhos de Suzanne estavam cheios de preocupação enquanto encarava a tez pálida de Aries. Aries apenas sorriu levemente para ela, de forma tranquilizadora.

Aries queria dizer que estava bem e que não havia necessidade de Suzanne se preocupar. Mas, no fundo do coração, ela sabia que estava ficando fraca. Apesar da ajuda do conselho noturno, esse feitiço estava consumindo muita de sua energia.

‘Não…’ ela sussurrou, piscando, apenas para voltar ao mundo de Maléfica. Havia uma sombra imponente sobre ela, fazendo-a erguer os olhos. ‘… ainda não.’

Lá, do outro lado, estava um homem muito familiar. Aqueles olhos estreitos, o rosto refinado, e o comportamento moderado enquanto permanecia diante dela, era alguém que ela já tinha visto algumas vezes.

“Por que você está aqui?” ela perguntou, olhando por trás dele, apenas para ver os convidados inconscientes no chão. Suzanne também não estava neste mundo. Portanto, ela sabia que aquilo não era a realidade.

“Este é o meu mundo também,” disse o homem tranquilamente, sorrindo com os lábios fechados, mas com o sorriso ainda alcançando seus olhos semicerrados. “Eu não acho que poderia me aproximar de você com essas pessoas ao fundo.”

O canto de seus lábios curvou-se fracamente. “É verdade.”

“Você é cruel,” ele brincou, alcançando seu lábio superior. “Você está sangrando demais.”

O homem gentilmente limpou o sangue em seu lábio superior com o polegar enquanto ela não se mexia. Quando ele retirou a mão, seus olhos semicerrados se abriram um pouco mais.

“Você realmente tem os olhos mais perspicazes,” ela comentou suavemente. “É por isso que você sempre sorri?”

“Eu sorrio porque posso. Sem significado mais profundo.”

“É mesmo?”

Ele não respondeu mais, encarando-a silenciosamente. Ela também sustentou o olhar dele, respirando calmamente, guardando cada fragmento de energia.

“Eu nunca disse isso antes, mas você tem minha gratidão.” Sua voz suave perfurou o longo silêncio entre eles. “Por sua causa, meu irmão está vivo.”

“Agradeça a ela, não a mim.” O homem mostrou-lhe o anel em seu indicador.

“Ele não faria nada se você não quisesse.”

“Maléfica é minha amante,” ele divertiu-se. “Claro que eu atenderia seus desejos. Não todos, porém.”

Outro momento de silêncio caiu entre eles antes que Aries perguntasse. “Você veio para finalmente me exterminar?”

“Ainda estou refletindo sobre isso.” Sua resposta foi rápida e certa. “Mas parece que você tem desejado muito me ver pessoalmente.”

“Tenho, e acho que você já sabe o motivo disso.”

“Sei.” Ele balançou a cabeça, lambendo o sangue em seu polegar. “Parece que estou fazendo um voto de casamento.”

“Você é hilário.”

“É a primeira vez que alguém me diz isso, embora eu saiba que sou.” Ele lentamente moveu a mão para o lado, abrindo a palma. Sombras escuras envolveram sua mão, vindas do anel de caveira, formando algo longo e enorme, até aparecer como uma lança escura e afiada.

“Então, essa é a Maléfica,” ela sussurrou, observando como aquele anel de caveira se transformava em uma lança escura capaz de aniquilar qualquer um. “Parece deslumbrante.”

“Ela é deslumbrante.”

Aries lentamente ergueu os olhos de volta para ele, apenas para vê-lo olhando para ela enquanto dizia essas palavras. “Você é habilidoso com as palavras.”

“Não me diga que esse foi o primeiro elogio que você recebeu.”

“Não, embora eu tenha que admitir que pareceu… estranho ouvi-lo de você.”

“E por quê?” Seu sorriso era malicioso, como se já soubesse a resposta, mas ainda quisesse ouvi-la dela. Sua intenção com a pergunta era óbvia, fazendo-a rir secamente.

“Você está empunhando ela na minha frente,” ela apontou, ignorando a pergunta anterior. “Não acho que você seja do tipo que a empunharia apenas para exibir sua beleza.”

O canto dos lábios dele se ergueu em um curto sorriso. “Isso é correto.”

“Você vai me matar… com ela.”

“Ela vai te matar, de qualquer forma.” Suas pálpebras caíram até ficarem parcialmente cerradas, mas isso não foi suficiente para esconder a malícia em seus olhos. “Posso muito bem fazer isso por nós dois.”

Houve um momento de silêncio entre os dois, sustentando o olhar um do outro. O homem lentamente fechou a mão no cabo de sua lança escura, fazendo sua mão tremer com o entusiasmo indescritível vindo da lança.

“Você não gosta disso, não é?” ela murmurou. “Você detestava conquistar sentimentos e desejos que sabia que não eram seus. Talvez isso seja a única coisa que temos em comum, além de empunhar Maléfica.”

Aries estava calma, apesar de saber que aquele homem estava ali para exterminá-la para o bem de sua própria paz de espírito. “No entanto, se existe um portador de Maléfica que precisa morrer para que o outro possa empunhá-la… definitivamente não sou eu.”

Ela observou o homem erguer a lança escura na direção dela e, enquanto o tempo desacelerava, ela acrescentou suavemente: “Abel.”

SLASH!