Capítulo 702: De nada
Enquanto isso…
Isaiah caminhava despreocupadamente pelo corredor vazio e silencioso. Seus passos pararam lentamente, enquanto ele virava a cabeça em direção à janela à sua esquerda. O lugar fora do palácio estava quieto; não havia cavaleiros lutando até a morte nem o cheiro pesado de sangue no ar.
Estava simplesmente quieto — de maneira antinatural.
Um suspiro superficial escapou de Isaiah, enquanto ele retomava seus passos sem nenhum traço de pressa. Ele chegaria ao seu destino, de qualquer forma. Ainda assim, Isaiah prestava atenção em cada som que podia ouvir através das paredes finas, caso precisasse tomar uma decisão importante.
Enquanto Isaiah caminhava pelo corredor, seus passos novamente pararam. Suas sobrancelhas se elevaram ligeiramente e linhas profundas apareceram entre elas.
“Eu sabia disso,” ele sussurrou, olhando novamente para outra janela na parede. “Então foi assim que foi feito.”
Dessa vez, Isaiah ficou parado, de frente para a janela. Ele segurou o próprio pulso nas costas, batendo nele levemente, com os olhos voltados na direção do salão de banquetes.
“Ele não está lá, porém…” ele pressionou os lábios em uma linha fina, imaginando onde poderia estar a pessoa que ele estava procurando. “Ele poderia ter sido um grande necromante… se apenas escolhesse as pessoas certas para se cercar e crescer adequadamente.”
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[ SALÃO DE BANQUETE ]
Aries estava sentada na cadeira em que originalmente se sentara, compartilhando a mesa com Abel e Máximo. Sua respiração estava ficando mais lenta e pesada, mal conseguindo manter os olhos abertos.
“Hah…” ela exalou pesadamente, o sangue do nariz pingando continuamente em seu colo. “Ainda não…”
Aries parou de falar ao ouvir o barulho alto da porta à sua frente. Ela levantou o olhar lentamente e, apesar de sua visão turva, conseguiu ver uma figura parada na porta.
“Você…” murmurou, notando o cabelo ruivo vivo do homem. Ela não conseguia vê-lo claramente devido à visão embaçada, mas com base na estatura, físico e aquele longo cabelo ruivo, Aries o reconheceu quase imediatamente.
Joaquim.
Seus passos leves acariciavam seus ouvidos, e a cada vez, pareciam mais claros e distintos. Ela levantou a cabeça lentamente quando a sombra dele se estendeu sobre ela, parado diante da mesa de banquete que os separava.
“O que…” Aries piscou com extrema fraqueza, ofegante, segurando o braço da cadeira. “O que você está fazendo aqui?”
Joaquim manteve-se em silêncio, olhando para sua aparência pálida. Seu nariz estava sangrando profusamente, e mesmo que ele a atacasse agora, ela não teria forças para revidar.
“Você… parece patética,” ele apontou, fechando a mão em um punho apertado. “Você entende que eu posso matá-la agora sem esforço algum?”
“Por que você não faz isso?” ela provocou num sussurro, fazendo-o rir secamente.
“Você acha que eu não faria?” ele perguntou, levantando a mão em direção ao pescoço dela. “Todo santo dia, Aries. Todo santo dia eu amaldiçoo seu nome e desejo que você sofra mil vezes mais.”
A mão de Joaquim tremia enquanto se aproximava do pescoço dela, enquanto ela permanecia imóvel, mantendo o queixo erguido. Quando ele envolveu seus dedos ao redor do pescoço esguio dela, seu aperto não se intensificou. Em vez disso, ele simplesmente segurou seu pescoço enquanto seus lábios tremiam.
“É essa… a vida que você está vivendo?” sua voz abafada enquanto seus olhos ficavam vermelhos de raiva, mas ele não fazia nada além de falar. “O que você estava fazendo esse tempo todo enquanto eu sofria?”
Com raiva, Joaquim agarrou seus ombros e a puxou com toda a força.
“Como isso é melhor do que Maganti ou Rikhill, Aries?!” ele rugiu, segurando seus ombros enquanto rangia os dentes. “Eles estão te matando lentamente!”
“O que você está dizendo?” Aries murmurou com fraqueza, piscando, até sua visão ficar mais clara. “O que você está fazendo?”
Seu fôlego parou até seu pescoço ficar rígido. “O que eu estou fazendo?”
“Você não veio aqui para me matar?” Aries piscou fraca. “Por que você soa como se estivesse prestes a chorar?”
“Eu —” Joaquim abriu a boca, mas sua voz ficou presa na garganta.
Isso era verdade. Ele veio aqui para matá-la. Ele veio para fazê-la sofrer. Mas, infelizmente, no segundo em que ele pousou os olhos nela, o rancor e a raiva que ele havia engarrafado cada segundo dentro daquele calabouço desapareceram sem deixar vestígios. Tudo o que sentiu foi saudade de segurá-la, abraçá-la e o desejo de levá-la embora dali.
“Eu… senti sua falta,” ele sussurrou, afrouxando o aperto em seus ombros. “Vamos para longe daqui, Aries. Vamos esquecer o passado e viver em algum lugar longe de toda esta confusão, longe desses tronos e regras, e longe de tudo.”
Suas sobrancelhas se ergueram, forçando um sorriso. “Não viva mais assim, meu amor. Isso já basta, e você precisa descansar.”
Aries estudou seus olhos, que estavam cobertos por uma fina camada de lágrimas, pedindo sinceramente que ela fosse embora com ele. Havia uma parte dela que se perguntava o que fazia Joaquim pensar que ela aceitaria. Depois de tudo que ele havia feito a ela, o que o fazia imaginar que ela confiaria nele?
Mas a parte dominante de seu cérebro, no entanto, o entendia de certa forma. Joaquim era um homem que acreditava só no que ele queria acreditar, e se agarrava a isso, independentemente de estar certo ou errado. Para alguém como ele, odiá-la era muito mais difícil do que se iludir e acreditar neste amor que causou sua ruína. Porque, se Joaquim admitisse que este amor era simplesmente sua própria ganância, isso também significaria que sua queda havia sido causada por ele mesmo, não por ela.
Uma pessoa para culpar e um motivo. Isso era o que Aries representava para ele. Essa era sua concepção de amor.
“Neste ponto, eu já não me sinto mal com isso,” ela murmurou, afastando as mãos dele de seus ombros com debilidade. “Eu sempre soube que tenho lugar no inferno, e esse lugar é o trono. Se eu fosse você, sairia daqui antes que eles retornem. Eu não consigo te impedir agora, mas eu vou te caçar até os confins do mundo para te colocar de volta naquele calabouço com minhas próprias mãos. Você tem um tempo de vantagem, vá.”
Seu rosto se contorceu enquanto seu coração se apertava de amargura, vendo-a apoiar as mãos na mesa para não cair.
“Você diz isso nesse estado…” sua voz era baixa e trêmula, fazendo-a levantar a cabeça. “Eu não vou a lugar nenhum sem você, Aries Aime Heathcliffe.”
“Aries Grimsbanne. Esse é meu nome agora.”
Seu coração se encheu com uma raiva indescritível que ele sentia por Abel; um homem pior do que ele. Consumido por uma súbita inveja de como ela pronunciava o nome de seu marido, que agora carregava, Joaquim agarrou seus braços novamente.
“Você vai vir comigo, querendo ou não,” ele declarou entre os dentes cerrados. “Me agradeça depois. De nada.”