Capítulo 700: Ameria Grimsbanne
[ FLASHBACK ]
Uma mulher estava encostada no corrimão do terraço. A Casa dos Grimsbanne estava cercada por árvores, estabelecida na vasta clareira. Não havia nenhuma vista boa para se observar, mas de alguma forma, a mulher estava sorrindo como se estivesse vendo mais do que a escuridão da noite.
“Você parece feliz.” A voz de seu irmão vinda de trás interrompeu sua paz. “Você bisbilhotou o futuro novamente?”
A mulher olhou para trás e deu uma risada, observando seu irmão mais velho, Abel, se juntar a ela no terraço.
“Adivinha o que eu vi.” Seus lábios se esticaram ainda mais enquanto Abel encostava de lado no corrimão.
“Mhm.” Ele murmurou, avaliando o brilho no sorriso em seu belo rosto. “Nenhuma ideia, mas esse sorriso despertou meu interesse. Quer compartilhar o que há no futuro?”
“Destruição.” Ameria, a dama de longos cabelos negros virginais, desviou o olhar dele e olhou adiante. “O Grimsbanne vai causar devastação. Você… vocês três em particular.”
“Você parece feliz com isso.”
“Isso não é o que me deixou feliz.” Uma risada fraca escapou de seus lábios cerrados. “Estou feliz por ter visto isso e conhecido a causa. Assim, há uma solução para impedir.”
Abel balançou a cabeça, fixando os olhos na escuridão espessa que cercava a floresta proibida. “Ameria, pare de olhar para o futuro por algo tão sem sentido. Saber o que vem a seguir elimina a diversão do amanhã.”
“Diversão não é a única coisa que o amanhã traz. Também há medo e incerteza.”
“Mas essa é a ordem do mundo, irmã.”
“Por isso eu espio, para manter essa ordem.” Ameria olhou para ele com um sorriso brincalhão. “Eu não quero que minha família esteja em perigo.”
“Não estamos em perigo.”
“No momento em que nascemos, já estamos em perigo, Abel. Quando este sangue passou a existir, o perigo nasceu. Pode ser para nós ou para este mundo. É apenas uma questão de tempo.”
“Você pensa demais,” foi o que ele disse, mas não podia negar suas alegações. O que Ameria disse era verdade. Sua existência era uma ameaça para este mundo, e este mundo era uma ameaça para eles porque todos queriam que seu sangue amaldiçoado desaparecesse.
Eles pensavam que sem o Grimsbanne, o mundo seria um lugar melhor. Que injusto.
“Abel, o que você acha de Marsella?” ela perguntou depois de um momento de silêncio, fazendo sua sobrancelha arquear. Ameria lentamente virou a cabeça e inclinou-a para o lado. “Hmm?”
“Nada.” Ele deu de ombros. “Eu acho que ela é lamentável por sequer existir. Assim como você e eu. Espero que ela morra.”
“Morte… não é a única saída, Abel.”
“Você não vai mudar minhas crenças.”
“Eu não estou tentando mudá-las. Você viveu mais do que eu e viu muitas coisas no continente. Estou apenas feliz que você gostou de Soran.” Ela deu uma risada e olhou para longe. “Eu gosto de Soran, embora eu desejasse que nunca tivéssemos o encontrado.”
“Hah… isso é novo.” Suas sobrancelhas se levantaram, e a curiosidade era evidente em seus olhos.
Todos gostavam de Soran, e Ameria era uma das que ficariam ao lado do homem todos os dias. Para Ameria dizer isso, significava apenas que ela viu algo no futuro que desejava que não acontecesse.
“O problema desta dádiva é que eu não posso mudar o passado. Só posso mudar o futuro se eu interferir no presente,” ela disse entre os dentes, amargura preenchendo seus olhos. “Eu gostaria de dizer como eu queria ter afastado Soran, mas ele é um homem muito bondoso. No fundo do meu coração, estou feliz por ser sua amiga.”
“Você é tão mutável, Ameria.”
“Haha. Eu gosto de todos.” Ameria encarou-o novamente, carregando o sorriso mais brilhante e bonito que Abel já havia visto. Ele nunca pensou que alguém pudesse sorrir assim, mas desde que ela nasceu, esta casa nunca foi mais a mesma entediante e monótona.
“Você é anormal.”
“Você continua dizendo isso só porque eu muitas vezes escolho a bondade.”
“Não, eu continuo dizendo isso porque você sempre escolhe os outros antes de si.”
Ameria balançou a cabeça enquanto seu sorriso estava fixo em seu rosto. “Talvez esse seja meu propósito.”
“Propósito, hein?” Abel pressionou os lábios em uma linha fina, refletindo sobre essa palavra, propósito. “Que palavra estranha.”
“Curiosidade divertida!” ela bateu palmas de repente enquanto seus lábios se esticavam ainda mais. “Adivinha quem eu vou casar.”
“Você vai casar? Não. Algum tolo vai se apaixonar por você?”
“Que tom é esse?” ela franziu a testa, enrugando o nariz. “Eu sou uma mulher — uma bela dama. Então não deveria surpreender você o fato de eu ter um marido algum dia.”
Ameria olhou para ele desapontada, balançando a cabeça mais uma vez. “Eu vou casar com o homem que eu gosto.”
“Você gosta de um homem?” Abel engasgou fracamente, em descrença com o que estava ouvindo de sua irmã mais nova.
“Mhm. O jovem Senhor do Clã Vonstein.” Ameria riu alegremente enquanto suas bochechas coravam. “No futuro, nós teríamos lindos filhos e viveríamos uma vida simples na floresta.”
“Hah… acho que você nunca vai deixar a floresta.”
“É bom saber onde minhas escolhas me levarão.” Ela abaixou a cabeça até que seu queixo descansasse em seus braços. “Mesmo que apenas um vislumbre, sei que se continuar fazendo o que estava fazendo, terei uma boa vida.”
“Uma boa vida com um Vonstein…” Abel murmurou uma melodia longa e monótona, avaliando o canto de seus olhos. “O que quer que te faça feliz, irmã.”
Seus olhos se suavizaram. “Eu não vou me casar com ele.”
“Hã?”
“Eu gosto de Jarvis, e estou feliz que ele irá me valorizar no futuro. Pelo menos, eu vi nós dois juntos.” Ameria manteve seus olhos suaves adiante, e desta vez, Abel finalmente percebeu algo estranho.
“Por que o Grimsbanne traria destruição, Ameria? O que há no futuro que você viu?”
Ameria não respondeu por um minuto antes de olhar para ele. Seus lábios se curvaram sutilmente, fitando-o com genuína afeição e respeito. Abel a conhecia, e conhecendo-a, Ameria era alguém que sacrificaria sua própria felicidade pelos outros.
Ela era altruísta, e isso era a única coisa que ele odiava nela. Um anjo perdido no inferno e considerado mal. Ameria não era malvada, mas o sangue correndo em suas veias dizia o contrário.
“Não odeie Marsella demais, Abel. Ela precisa de salvação, não de condenação. Tente entendê-la como seu irmão mais velho.”