Capítulo 698: Retorcido
[ PALÁCIO ROSE ]
Conan alcançou a mancha de sangue no lençol amassado, esfregando os dedos um contra o outro. Dexter não estava à vista e todos no Palácio Rose estavam espalhados, inconscientes.
“Ainda está fresco,” sussurrou Conan, desviando os olhos da cama vazia para a pessoa que acabara de chegar aos aposentos do marquês.
Isaiah.
“Ele não está aqui,” Conan anunciou o óbvio enquanto os olhos de Isaiah se fixavam na cama vazia. “Eles não foram tão longe.”
Isaiah manteve a boca fechada, levantando os olhos para o semblante de Conan. Os dois encararam-se solenemente. Logo, os cavaleiros vieram correndo por trás de Isaiah enquanto este permanecia à porta. Eles não disseram nada antes que Isaiah encarasse os cavaleiros, ostentando sua expressão habitual e plácida.
“Encontrem o marquês,” ele ordenou calmamente. “Alguém o capturou e verifiquem se há alguém da brigada de cavalaria da imperatriz vivo. Levem todos à enfermaria.”
“Sim, Vossa Graça!” Os dois cavaleiros que lideravam o grupo se entreolharam e assentiram, passando a ordem ao resto, e logo começaram a executá-la. O Palácio Rose estava mal — terrível, até.
“Hah…” Conan passou os dedos pelo cabelo cor de cobre, rindo sem motivo. “Viu? Eu te disse. Algo assim iria acontecer.”
Isaiah olhou por sobre o ombro, sua expressão ainda severa. “Recupere-se.”
“Eu estou… normal.”
“Você não está. Você nunca é normal,” foi tudo o que Isaiah disse enquanto dava um passo para longe dos aposentos. “Aquele cavaleiro também não está.”
O lado dos lábios de Conan curvou-se em um sorriso enquanto seus olhos se estreitavam até ficarem parcialmente fechados. Seus caninos lentamente cresceram mais.
“Claro que não está, mas quem se importa com os Imperiais quando há um Grimsbanne que é muito melhor para ter um confronto?”
Os passos de Isaiah vacilaram até pararem. Olhando de volta para dentro dos aposentos, Conan já tinha desaparecido da posição onde estava. Seus olhos lentamente se elevaram à janela aberta, observando como a cortina no lado se movia com o vento suave.
“Viu?” Um leve suspiro escapou de Isaiah. “Algo assim iria acontecer.”
Isaiah balançou a cabeça ligeiramente, desviando os olhos da janela, e retomou seu passo. Diferente dos passos apressados que ressoavam pelo palácio imperial, seus movimentos eram silenciosos. Sua postura era calma e sua expressão plácida.
“O rei,” saiu de seus lábios em tom baixo. “O Grimsbanne e Malévola.”
Quem ficaria vivo esta noite?
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Sunny nasceu e foi criada no continente. Sua vida por lá era tão normal quanto a dos outros; ela tinha pais amorosos, um lar pacífico e professores habilidosos em quem seus pais confiavam tanto. Aos olhos de seus pais, ela era sua princesa, sua luz do sol, e sua doce filha.
Mas Sunny nunca foi normal. Mesmo antes de aprender a falar, seus pensamentos já se desenvolviam. Um assunto que ela se interessava, além de bruxaria, que ela chamava de alquimia, eram os mistérios do continente — particularmente o rei.
Sunny sempre se perguntava por que o rei parecia um pouco estranho. O rei do continente era conhecido por ser gentil, generoso e justo. Mas, apesar disso, ao observar o palácio real de seu quarto em casa, Sunny pensava o contrário.
Aos seus olhos, o rei era implacável, especialmente com sua família. Ele era um rei sábio, mas um pai horrível. Sua avó, Mathilda, ocasionalmente visitava o rei, e quando Sunny perguntava sua opinião sobre ele, ela apenas respondia: “lamentável.”
Aquela palavra sempre deixava um ponto de interrogação na cabeça da pequena garota. Mesmo assim, sabendo que o rei era amigo de sua avó, Sunny saiu de sua zona de conforto para salvá-lo da revolta no continente. Inicialmente, ela fez isso por sua avó, mas quanto mais tempo passava em Haimirich e conversava com Abel, sua curiosidade ficava aguçada.
O que Abel sabia que ninguém mais sabia? Abel nunca lhe contava tudo diretamente. Ele não era do tipo que fazia isso. Embora fosse verbal ao admitir que tudo em sua mente era simplesmente especulação sem confirmação. Então, Sunny teve que descobrir por si mesma e chegou a uma forte conclusão.
O rei do continente… nunca mudou.
O primeiro rei também foi o segundo, o terceiro e o quarto.
Não havia conhecimento ou vontade que fosse transmitido. Era a alma do primeiro rei que tomava o corpo de seus descendentes para que pudesse viver. Em outras palavras, a família real era apenas sacrifícios, pessoas que essa alma podia escolher para ter o melhor anfitrião.
Sem dúvida, os membros da família real eram treinados de forma tão rigorosa. Eles precisavam estar em boa forma para que essa alma pudesse liberar seu potencial máximo.
Mas o que Sunny não esperava era que alguém dos Grimsbanne parecia ter descoberto isso antes dela. De todos os membros dos Grimsbanne a possuir essa informação, por que tinha que ser Marsella?
“Isso não é nada gentil, criança.” Sunny segurou a respiração assim que encontrou os olhos de Marsella. “Você não irá interferir nos meus planos.”
“Onde está minha linda avó?” Sunny perguntou, incapaz de detectar a bruxa que inicialmente ocupava aquele corpo.
“Isso é rude, pequena demônia. Você não deveria estar fazendo isso com ele.”
Sunny olhou brevemente para suas mãos ensanguentadas que estavam dentro do peito aberto do homem. “Você veio me deter?”
“Não,” foi a resposta de Marsella, mas Sunny já completara o resto dessa frase.
Marsella não veio para detê-la, mas para matá-la. Aqueles olhos carmesim brilhando tão ferozmente diziam a Sunny para correr, mas a pequena garota permaneceu onde estava. Correr era inútil, pensou ela, Marsella era uma Grimsbanne Original, e não havia lugar no inferno onde Sunny pudesse correr para se proteger.
“Estou faminta, criança. Mas não vou parar você. Eu… vou matar você. Você entende o motivo, certo? Por ajudar aquela miserável Vera a me machucar.”
“Você vai irritar muitas pessoas, Marsella,” sussurrou Sunny, observando Marsella voar em sua direção com intenção assassina. Sunny não piscou e permaneceu calma. “Vovô me disse para ficar onde eu estava se o perigo viesse…”
BOOGSH!
Sunny piscou com extrema delicadeza enquanto um som estrondoso ecoava em seus ouvidos, desviando seu olhar para a espessa fumaça do buraco na parede.
“… Estou feliz que vovô sempre cumpra sua promessa.” Ela soltou um suspiro de alívio, olhando para o buraco que apareceu na parede onde Marsella e outra figura colidiram.
Do lado de fora da mansão proibida, Marsella rolou sobre a expansão verde até parar sobre um joelho, com uma palma contra o chão. Ela lentamente levantou sua cabeça, e o lado de seus lábios curvou-se em um sorriso.
“Conan,” ela chamou maliciosamente enquanto Conan ergueu o queixo, olhos baixos.
“Marsella Grimsbanne.” Conan sorriu. “Diga àquela bruxa dentro de você que não dou garantia alguma de que ela irá redimir esse corpo inteiro.”
Marsella sorriu com desdém. “Que empolgante!”
Ambos se encararam por um segundo antes de uma poderosa rajada de vento explodir ao colidirem no meio.