Capítulo 697: Corra

[ Minutos antes do momento atual ]

“Eu vou matar aquele desgraçado amaldiçoado,” Marsella resmungou entre dentes cerrados, mal conseguindo abrir um espaço entre a terra e seu rosto. Abel a enterrou com um caixão aberto, e ela havia sufocado até a morte três vezes!

Sim, três vezes! Ele tinha alguma ideia das consequências de cada uma de suas mortes?

“Heh. Vamos apenas matar todos eles,” Marsella acrescentou de repente, mas com um tom de zombaria diferente.

“Cale a boca, quer!?” ela gritou consigo mesma, ou para o outro ocupante deste corpo. “Tudo isso é culpa sua. Se você não o provocasse ou se comportasse – ugh! Esqueça! Um dia eu vou te matar e ter toneladas de sexo com meu lindo marido.”

Marsella franziu a testa enquanto olhava para a terra a centímetros de seu rosto. Tristeza e saudade preencheram um olho, mas o outro olho revirava.

“Escolha apenas entre minha família,” Marsella disse a si mesma. “Eles vão alegremente se deitar com você.”

“Cale-se!” Marsella fechou os olhos, forçando o outro que estava sendo controlado pela verdadeira Marsella a fechar. “O quê há nesse homem para você ser tão obcecada por ele? Quero dizer, aquele homem só desejava sua morte.”

‘As expressões dele são boas. Especialmente toda vez que eu mato sua esposa e filhos,’ uma voz respondeu em sua cabeça, mas ela já estava tão acostumada com isso que não ficou surpresa.

Vera, a mulher que havia estado lutando contra Marsella por este corpo, só desejava que Aries despertasse seus verdadeiros poderes. Aries era sua única esperança de derrotar esta Marsella Grimsbanne. Esta mulher era apenas persistente e irritante. Acima de tudo, a verdadeira Marsella não tinha noção de emoções.

A única coisa com que Marsella se importava eram as coisas que a divertiam. Ela até mataria Abel se isso a divertisse o bastante.

‘Eu não posso deixá-la sair daqui,’ Vera pensou, apenas para ouvir a resposta sarcástica de Marsella.

“Eu posso ouvir você, querida. Nós compartilhamos o mesmo corpo.”

‘Que esta mulher morra de uma morte cruel.’

‘Eu não acho que minha morte será tão cruel quanto a sua,’ disse Marsella em um tom consciente. ‘Se eu morrer, morrerei apenas uma vez. Mas você já morreu várias vezes. Se isso não é cruel, talvez exista uma morte ainda mais cruel, então. Embora eu não consiga pensar em nada pior do que isso. Quer compartilhar alguma ideia para expandir meu conhecimento sobre essa palavra cruel de que estamos falando?’

Vera manteve os olhos fechados, respirando cuidadosamente. Neste ponto, sua saúde mental já estava insensibilizada pelas contínuas reclamações e divagações de Marsella. Certamente alguém se acostumaria com este tipo de conversa depois de viver no mesmo corpo com uma psicopata como ela por tanto tempo. Ou talvez isso levaria alguém à loucura.

Que bom que ambas eram loucas.

“Marsella.” Vera abriu os olhos lentamente. “O que você faria se ganhasse controle sobre este corpo?”

“Você está sério me perguntando isso?” a voz em sua cabeça respondeu. “Eu mataria Malévola. Afinal, ela é a única que pode matar uma Grimsbanne.”

“E como você a mataria?”

“Hmm… se eu lhe contar, você me impediria, não é?”

“Então esqueça que eu perguntei.”

“Ahh… por que você desiste tão facilmente?” Embora Vera não pudesse ver a voz em sua cabeça, ela conseguia imaginar Marsella franzindo a testa. “Você não tem graça mais, Vera.”

“Cale a boca.”

Marsella suspirou. “Tudo bem. Eu vou lhe contar.”

“Eu não quero ouvir.”

“Eu te odeio!”

“E eu não me importo.”

“Eu vou te matar.”

“Espero que você consiga antes que eu me mate.”

“Tch.” Marsella estalou a língua. Desta vez, ela conseguiu controlar o corpo e empurrar Vera para trás. Elas vinham trocando o controle deste corpo desde que Abel a enterrou. Portanto, Vera não ligava. Elas estavam enterradas e seladas, nada poderia dar errado enquanto esse corpo estivesse dentro deste caixão.

“O rei!” Marsella respondeu docemente. “Ele vai me ajudar a matá-la. Nós fizemos uma promessa no passado, você sabe. Se você apenas buscasse minhas memórias, entenderia todas as coisas que eu fiz.”

“Não estou interessada.” Desta vez, a voz em sua cabeça tinha a voz de Vera. “Eu já vasculhei suas memórias, e só me deu ânsia de vômito. É realmente nojento.”

“Você é tão rude, sabia?”

“Que pena. Você tem que viver comigo enquanto eu viver.” Vera bocejou. Apesar de ser uma alma dentro deste corpo, ela ainda podia sentir exaustão porque a outra alma dentro deste corpo era um monstro poderoso. Ninguém deveria subestimar a verdadeira Marsella. Ela era uma louca de verdade. E se Vera baixasse a guarda mesmo por um segundo, Marsella simplesmente devoraria sua alma.

Marsella encarou a terra em frente a ela, e Vera assumiu o controle do corpo quando ela piscou.

‘Sabe, Vera, você não deveria se esforçar tanto para tomar o controle deste corpo. Este corpo é originalmente meu.’

“Mas ele não está me expulsando,” ela respondeu preguiçosamente.

‘Verdade…’ Marsella balançou a cabeça, e quando piscou novamente, Marsella assumiu o controle.

Vera, a outra alma dentro, abriu os olhos. Ela tentou tomar controle, mas não conseguiu. Ela se sentia presa na escuridão dentro deste corpo. As defesas e o controle de Marsella estavam mais fortes do que antes. Ou talvez, Vera apenas tivesse enfraquecido depois de morrer várias vezes.

“Vera, Vera. Este corpo não está te expulsando porque é apenas uma casca,” explicou Marsella, percebendo uma rachadura na terra a centímetros de seu rosto. “Eu aprendi que descanso é produtivo. Não é essa a razão pela qual estamos nesta situação? Não importa o quão forte você seja, chega um momento em que você precisa descansar.”

O canto dos lábios dela se curvou em um sorriso sinistro à medida que a terra sobre ela foi empurrada para longe. “Eu vou assumir o controle deste corpo por enquanto. Você pode assistir o que eu farei através desses mesmos olhos ou aproveitar se distraindo lendo as memórias que tanto te dão nojo. Afinal, eu sempre tive planos para reveses, sabendo que meus irmãos existem e este sangue continua.”

Assim que essas palavras saíram da língua de Marsella, um par de olhos prateados encontrou os dela. A pessoa olhando para ela sorriu, e em um movimento rápido, a pessoa arrancou a tampa do caixão.

“É bom ver você novamente, Marsella.” O homem ofereceu sua mão para ela. “Já faz um tempo.”

“Sim, Javier Imperial.” Marsella alcançou a mão dele, permitindo que ele a puxasse do caixão e quebrasse as correntes lançadas sobre ela. “Você fez um bom trabalho encontrando um hospedeiro para Maléfica.”

Javier inclinou ligeiramente a cabeça para baixo. “Ela é perfeita. Embora tenhamos um problema —”

Javier parou quando Marsella repentinamente ergueu uma mão para impedi-lo de falar. Ela lentamente ergueu o olhar e sorriu maliciosamente.

&”Isso não é legal, criança,” murmurou Marsella e depois de um segundo, ela desapareceu de seu ponto de observação, apenas para as janelas da Mansão Proibida estilhaçarem. “Você não vai interferir nos meus planos.”

Quando os olhos de Marsella encontraram os de Sunny, esta última perguntou, “onde está minha linda avó?”

O canto dos lábios de Marsella se curvou em um sorriso sinistro. Encarando a criança, era possível dizer que Marsella iria machucar a menininha.

‘Sunny!’ Vera, que estava vendo Sunny de dentro de Marsella, gritou, ‘CORRA!’

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NOTA: SE ALGUÉM ESTAVA CONFUSO, O CORPO DE MARSELLA TEM 2 ALMAS DIFERENTES. ELAS NÃO ERAM AS MESMAS PESSOAS. EU USUALMENTE USO “MARSELLA” NA NARRAÇÃO DESDE O INÍCIO PARA DEIXAR MENOS CONFUSO. MAS EM UMA CONVERSAÇÃO ENTRE AS DUAS ALMAS, DECIDI USAR OS NOMES REAIS DELAS.

Vera = a pessoa que treinou Aries.

Marsella = é a verdadeira irmã de Abel.