Capítulo 694: Carnificina
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[ FLASHBACK: CONTINENTE ]
“Haha! Meu amigo, pode pegar leve comigo?” Máximo riu, sorrindo de orelha a orelha enquanto olhava para Abel, que estava a metros dele. “Eu nem sequer disparei uma flecha, e já estão mudando meu alvo.”
Abel riu, colocando o arco e a flecha de lado. “Você é lento, Máximo.”
“Eu simplesmente não estou com raiva,” respondeu Máximo enquanto balançava a cabeça. “Eu não sabia que a decisão dos seus pais de entrar em sono eterno te deixaria com raiva.”
“Não é raiva, Máximo. É alegria.” Abel sorriu. “Estou chorando de emoção por eles finalmente entrarem em sono eterno.”
Máximo manteve o sorriso, observando o perfil de Abel, enquanto este tomava posição para disparar. Abel fechou um olho, aguardando as pessoas substituírem o alvo de palha.
“Você estava triste.” Abel fez uma pausa, olhando para Máximo após o comentário do outro.
“E por que eu sentiria tal emoção?”
“Eles eram seus pais.”
“Mesmo que fossem, não eram mais do que pessoas com quem fui enganado a viver.” Abel deu uma risada superficial. “Aquelas pessoas que eu deveria chamar de mãe e pai não eram minha mãe e meu pai.”
Abel desviou os olhos de Máximo para o novo alvo de palha à distância. “Carregar o sangue dos Grimsbanne… essa é a única coisa que nos conecta. Não somos família. Somos pessoas vivendo no mesmo lar, desejando apenas a morte uns aos outros.”
“Essa é a única coisa que todos naquela casa compartilham além dessa maldição,” ele continuou, lançando um olhar significativo para Máximo. “A morte é a única coisa boa para nós, porque nós não morremos. Os escolhidos, quero dizer. Aqueles dois esperavam não serem as sementes escolhidas, e por isso desejo o mesmo.”
“Eles cumpriram seu propósito e usaram seus corpos para continuar essa maldita linhagem,” Abel acrescentou, levantando o arco e a flecha, tomando posição para disparar. “Como eu queria que não tivessem feito isso.”
TAK!
A flecha perfurou perfeitamente a cabeça do alvo de palha, cortando alguns pedaços que caíram na grama. Abel lentamente se virou para encarar Máximo com um sorriso.
“Mesmo assim, eu desejo que a tentativa deles de entrar em sono eterno tenha sucesso. Com sua ajuda, é claro.” Seus lábios se esticaram sutilmente, seus olhos preenchidos por emoções que mal podiam ser vistas em seu estado atual. “Esse é meu único pedido e o propósito de minha visita.”
“Você sempre é tão gentil, Abel.” Máximo sorriu sutilmente de volta. “Eu também desejo que eles encontrem a paz que procuram em alguns dias.”
Não era segredo no continente que os Grimsbanne eram semelhantes a deuses. Embora não fossem adorados como um deus verdadeiro, eram tão poderosos que todos os respeitavam. O único motivo pelo qual sua existência não ameaçava as pessoas era que os Grimsbanne não eram gananciosos, nem buscavam outras coisas além de viverem pacificamente em sua casa.
Se havia uma coisa que os Grimsbanne desejavam, era a morte. Não poder, controle ou quaisquer materiais mundanos. Para eles, a morte era a única fuga do sangue que corria em suas veias. Abel já havia tentado buscá-la com a ajuda do rei, mas sem sucesso.
Ele havia nascido para ser um portador da profecia. Sua irmã mais nova, Mathilda, também tentou porque estava presa ao ombro de Abel naquele dia. Ambos não morreram — embora Mathilda não tenha consentido com o plano, pois era muito preguiçosa para ouvir, responder ou impedir Abel de empurrá-la para sua morte.
“Veremos.” Abel balançou a cabeça. “Minhas esperanças já foram pelo ralo, então tudo o que posso fazer é desejar sucesso para eles.”
“Você está lidando com isso melhor do que eu esperava. Embora eu esteja preocupado com sua irmã.” Máximo observava Abel disparar outra flecha antes de continuar. “Ela não pode entrar em sono eterno. Espero que ela esteja bem com isso.”
Abel olhou diretamente nos olhos dele. “Você realmente acha que ela se importa?”
“Haha! Só estou preocupado porque ela pode estar guardando seus sentimentos.”
“Não há nada para guardar.” Abel deu de ombros, pegando outra flecha. “Aquela irmã minha sempre me preocupa, não porque ela possa fazer algo. A raiz da minha preocupação na verdade é o oposto disso. Ela pode não fazer nada de modo que raízes começarão a crescer nela.”
Máximo riu, sabendo que essa irmã de Abel era preguiçosa demais para fazer qualquer coisa. Ainda era uma surpresa Mathilda sair da cama, mas Máximo assumiu que isso era porque seus irmãos a obrigavam a se levantar.
“Então não se preocupe com ela. A única vez que ela não está bem é quando tem que fazer algo ou falar mais de dez palavras.”
TAK!
Outra flecha perfurou o alvo de palha, mas desta vez, pousou no alvo de Máximo. Percebendo isso, o sorriso de Máximo desapareceu.
“É melhor pegar sua flecha, senão você vai pagar o jantar. Estou tão cansado de comer ovos todos os dias,” comentou Abel, disparando outra flecha, determinado a ter um jantar farto, já que os Grimsbanne eram muito pobres para realizar banquetes. Ou melhor, ninguém nos Grimsbanne sabia cozinhar, pois não tinham servos em casa.
Embora Máximo fosse o amigo mais querido de Abel, esta seria a quinta noite consecutiva em que Abel comeria em seu palácio se vencesse. Nesse ponto, toda a mesada de Máximo estaria acabada apenas para satisfazer o apetite de Abel.
Enquanto os dois tinham uma competição feroz por um motivo ‘infantil’, Conan estava assistindo os dois da janela no andar superior de outro palácio. Ele estava parado em frente à janela, sua mão machucada apoiada no vidro.
“Irmão…” ele chamou com um sussurro, seus lábios machucados e o rosto cheio de hematomas devido às pancadas da noite passada. Contudo, diferente de sua situação miserável, Máximo estava se divertindo com seu amigo.
“Por que pai te favorece tanto?” Conan se perguntou debilmente. “Será que aquele desgraçado dos Grimsbanne sabe o que você realmente é?”
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[ TEMPO PRESENTE ]
BOOOGSH!
Conan piscará delicadamente ao ouvir uma explosão no palácio interno, particularmente onde o banquete estava sendo realizado. Seus olhos permaneceram na pessoa que ele estava olhando, levantando o olhar apenas para ver inúmeras pessoas caídas na vasta extensão, com ele sendo a única pessoa de pé.
Sangue goteava da ponta de sua espada enquanto ele retirava lentamente seu capacete de metal. No momento em que o fez, a visão completa da vasta extensão dentro do palácio imperial ficou mais nítida.
Carnificina.
“Eu terminei aqui,” Conan disse em voz baixa, olhando para cima em uma direção apenas para ver Isaías em pé no topo de uma torre.
As cicatrizes elevadas nas costas da mão de Isaías estavam brilhando, seus dedos, que estavam abertos, tremiam. Quando ele fechou a mão, a barreira ao redor da área dissipou-se lentamente, revelando inúmeros cavaleiros reais correndo em todas as direções. Assim que a barreira desapareceu, o cheiro de sangue dessa massacrer permeou o ar.
“Senhor Conan!” Um cavaleiro captou a atenção de Conan longe de Isaías, correndo até Conan para relatar sobre a situação do Palácio Rose. “Nossos homens foram ao Palácio Rose, e Gustav foi ferido.”
Os olhos de Conan se estreitaram ao ouvir a menção do Palácio Rose. “O Marquês?”
“Ele desapareceu!” o cavaleiro gritou em pânico. “O Marquês desapareceu!”
No segundo em que essas palavras ecoaram nos ouvidos de Conan, ele desapareceu sem deixar vestígios. Quando o cavaleiro olhou para cima, Isaías também havia desaparecido do lugar onde estava.
“A formação foi distorcida,” sussurrou o cavaleiro, apenas para seus lábios se curvarem enquanto seu rosto lentamente mudava. Seus olhos tornaram-se prateados e seu cabelo mudou para uma cor castanha avermelhada.
Javier.
“Oh, Haimirich,” Javier comentou com uma risada sinistra, observando os cavaleiros ao redor que estavam ocupados demais para dar atenção a alguém que vestia o mesmo uniforme que eles. “Tanto sangue — uma noite divertida! Isso me lembra aquela noite em Maganti.”
Javier sorriu de orelha a orelha, levantando a mão. As costas de sua mão mostraram de repente um círculo mágico, quase semelhante à cicatriz na mão de Isaías.
“Levantar.”
E aqueles que Conan havia matado começaram lentamente a se mover, levantando-se do chão, enquanto uma sombra negra emergia de seus ferimentos.
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