Capítulo 690: Isso vai machucá-la?
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[ PENITENCIÁRIA MÁXIMA ]
Um homem arfava após passar por dias de tortura. Suas mãos e pés estavam presos por correntes pesadas fixadas na parede de concreto, jogado no chão manchado de sangue velho e fresco. Seu cabelo estava despenteado, pendendo sobre seu rosto sujo e abatido.
O homem grunhiu entre os dentes cerrados ao ouvir o som dos metais das barras à frente rangendo enquanto as correntes afrouxavam. O som havia começado a lhe dar pesadelos, sabendo que apenas duas pessoas podiam entrar e sair daquela cela: Abel e, então, seu neto, Sunny.
Ele só podia imaginar que tipo de tortura doentia aqueles dois tinham reservado para ele. Colocá-lo no inferno havia se tornado o passatempo deles agora. E esse pensamento sozinho… já era suficiente para fazê-lo perder a sanidade de raiva.
“O que… você quer agora?” ele murmurou, levantando os olhos, esperando ver Abel ou Sunny. Mas, para sua surpresa, a pessoa em pé junto à cela aberta não era nenhuma das que ele esperava.
O visitante estava com um grande manto e capuz sobre a cabeça. Embora ele não conseguisse ver o rosto da pessoa devido à falta de luz, podia sentir o olhar penetrante do visitante.
“Que patético.” Quando o visitante falou, os olhos prateados do prisioneiro dilataram surpresos.
“Javier?” seus lábios tremeram, o coração batendo tanto de surpresa quanto de excitação.
O visitante lentamente deslizou o capuz para trás, confirmando o palpite do prisioneiro. “Faz tempo, Joaquim. Estou feliz por vê-lo vivo, embora não tão bem quanto eu esperava.”
“Javier.” A mandíbula de Joaquim se apertou, e seus olhos, que inicialmente mostravam apenas desamparo, foram substituídos por fogo. “Como você conseguiu entrar aqui? Não. Não me importa isso! Me tire daqui, desse maldito lugar!”
Joaquim puxou agressivamente suas correntes enquanto mantinha os olhos fixos no irmão. Mas, infelizmente, diferente do que ele esperava, Javier simplesmente permaneceu parado no mesmo lugar.
“Javier! Qual é o seu problema?” outro grito saiu da boca de Joaquim. “Venha, rápido! Me ajuda.”
“Por que eu precisaria te ajudar, irmão?” As ações de Joaquim congelaram imediatamente após a pergunta de Javier, observando o outro inclinar a cabeça para o lado. “Você provou ser inútil e agora está preso a estas… correntes. Imagino que se tornar um vampiro não é lá grande coisa, mas eu não te culpo. Acontece que o homem que você desafiou é um Grimsbanne. Todo mundo sabe sobre os Grimsbanne; até mesmo o rei do continente ficava cauteloso com eles. Mas você é uma exceção, já que é como uma criança prestes a descobrir que o mundo não é feito só de arco-íris e borboletas.”
Ouvindo os comentários de Javier e seu tom preguiçoso, o coração de Joaquim começou a bater forte contra o peito. Tudo o que Joaquim podia fazer era encarar o irmão em silêncio. Ele conhecia Javier, e antigamente, Javier Imperial era submisso e brincalhão. Mas sempre havia falado com Joaquim com respeito. Era muito fácil distinguir que Javier não considerava mais Joaquim em uma posição superior, nem o via como igual.
“Você!” Joaquim cerrou os dentes de raiva enquanto suas mágoas acumuladas ascendiam. “O que você acha que está fazendo agora, Javier? Você conseguiu tudo o que queria porque eu te dei permissão para fazer o que bem entendesse!”
“Sim, irmão, você deu.”
Joaquim abriu a boca novamente para rosnar para ele, mas sua voz não saiu. A postura e o tratamento de Javier o deixaram sem palavras. Isso apenas lembrou Joaquim de como sua vida havia mudado desde o dia em que perdeu tudo.
A honra, o respeito, a vida luxuosa, e tudo.
Joaquim costumava ter tudo, e, cegado por tanta elegância, como sua circunstância poderia ser algo que não fosse deplorável? Até mesmo Javier estava falando com desdém para ele. Na verdade, até mesmo uma criança de três anos falava com ele como se ele não tivesse valor algum.
“Ah, Joaquim. Você é tão tolo.” Javier riu, vendo que Joaquim finalmente se calara ao perceber a posição em que se encontrava. Ele entrou na cela, agachando-se em um ponto onde Joaquim não conseguiria alcançá-lo.
“Sim, Joaquim. Eu não sou mais seu cão” Javier enfatizou cada palavra, mantendo seus olhos fixos no mesmo par de olhos que costumavam olhar para tudo de cima. “Eu me libertei desde que aquela mulher me cortou pelo peito. Então é bom pedir com gentileza, se você quiser que esse pesadelo termine.”
O coração de Joaquim tremeu de raiva, mas ele cerrou os dentes para não dizer mais insultos.
“Bom garoto.” Javier sorriu, assentindo satisfeito. “Isso é o que eu sempre gostei em você, Joaquim. Você se adapta rápido. Depois de tudo que você passou, ainda terminou sem nada.”
“Se você está disposto a me deixar sair daqui, apenas me diga o que você quer de mim?” A voz de Joaquim tremia enquanto ele tentava suprimir sua fúria crescente. “Você não viria aqui, depois de tanto tempo, se não precisasse de mim.”
Javier soltou uma risada curta, balançando levemente um dedo. “Sério. Você nunca deixa de me divertir.”
Joaquim não interrompeu a risada de Javier enquanto um brilho passava por seus olhos. Ele esperou pacientemente, dizendo a si mesmo para não atacar e rasgar a vida daquele filho da mãe. Ainda não. Não até estar fora deste lugar e fazer todos — cada um deles pagar.
“Certo. Vou direto ao ponto.” Javier limpou a garganta enquanto seu sorriso desaparecia ligeiramente. “Alguém quer te ajudar, mas apenas se você estiver disposto.”
“O que é isso?”
Javier deu um sorriso malicioso enquanto seus olhos brilhavam. “Você quer vingança, irmão?”
“A resposta para isso é óbvia,” disse Joaquim entre os dentes cerrados. “A única razão pela qual ainda estou vivo é que vou fazer todos eles pagarem um dia.”
“Não. A única razão pela qual você ainda está vivo é que aquele monstro… deixou você viver para brincar com você pelos próximos cem anos.” Javier corrigiu, mas desta vez, Joaquim não reagiu porque isso era um fato. “Ele está louco, e porque ele está louco, ele não percebe que está dando a muitos de seus inimigos oportunidades para mexer com ele.”
“Homens como ele, homens como você, estão sempre destinados a cair”, ele continuou de forma divertida. “Essa pessoa de quem estou falando está bastante ocupada no momento, então vou transmitir suas palavras.”
Joaquim escutou silenciosamente e, enquanto ouvia, suas pupilas dilataram enquanto ele encarava Javier. O último deu um sorriso arrogante, inclinando a cabeça para o lado.
“Você consegue fazer isso?” Javier perguntou. “Terminar o trabalho inacabado de silenciar o marquês? Aquele homem que ela chamou de irmão tão afetuosamente. Você já decapitou o irmão querido dela uma vez. Pode fazer isso de novo?”
Os lábios de Joaquim se abriram antes que um quieto “hah…” escapasse deles. “Isso iria machucá-la?”
“Ela quase enlouqueceu quando ouviu a notícia.” Javier deu de ombros, brincalhão.
“Então vou matá-lo. Mil vezes.”
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