Capítulo 659: Pior

Era errado ferir os outros, e fazê-lo intencionalmente era ainda pior — terrível. Mas o pior era testemunhar isso e ainda assim não fazer nada. Abel não era Deus, não era Demônio, ele… era pior. No entanto, havia muitas pessoas que eram piores do que ele. De fato, este mundo estava cheio das piores pessoas e era engraçado porque, de certa forma, isso fazia de Abel um pouco melhor do que todos os outros.

“Sua Majestade! Por favor, tenha misericórdia de mim! Eu realmente não pretendia fazer isso. É que eles ameaçaram matar a mim e a minha esposa —” um homem de meia-idade se agarrou desesperadamente à coxa do imperador enquanto olhava para cima para Abel. “Salve — salve, salve-me, Sua Majestade! Eu realmente não queria fazer isso! Eu — eu — eu vou consertar isso! Por favor, apenas, Sua Majestade, não nos expulse de seu favor. Nossa família sempre o apoiou desde o início de seu reinado e eu —”

“Você está me dizendo que eu lhe devo algo porque você tem sido um dos apoiadores do imperador há muitos anos?” Abel interrompeu-o, arqueando delicadamente a sobrancelha. “Engraçado, de fato. Que seu apoio também signifique que eu deva fechar os olhos para suas ações.”

“Não foi isso que eu quis dizer, Sua Majestade! Eu errei! Eu estava —” o homem mais velho estremeceu quando Abel agarrou um punhado de seu cabelo.

“Eu provavelmente teria pena de você, se não fosse pelo fato de que a reputação que você estava manchando era a da minha esposa.” Abel puxou o pé onde o homem se agarrava, arrastando o homem pelos cabelos para levá-lo para longe dos documentos. Ele não queria refazê-los só porque alguma mancha de sangue sujasse.

“Sua Majestade!” a voz do homem explodiu ainda mais alto, com pânico aparente. “Só desta vez! Eu vou consertar —”

De repente, Abel e o homem pausaram quando uma voz alta do lado de fora acariciou seus ouvidos.

“Sua Majestade, a Imperatriz chegou!”

As duas portas da chancelaria do imperador se abriram cuidadosamente, revelando a imperatriz no centro. À medida que a brecha se alargava, Aries surpreendeu Abel agarrando um homem de meia-idade pelos cabelos enquanto este último se agarrava à perna do imperador.

Ambos os homens voltaram sua atenção para a porta; Abel parecia irritado enquanto os olhos do homem de meia-idade brilhavam como se estivesse olhando para a única esperança que tinha no momento. Ninguém poderia culpá-lo, pois Aries era conhecida por ter um coração de ouro.

Muitos amavam Aries e haviam aceitado que sua bondade era tão intensa quanto sua ira. Mas, no geral, ela era uma imperatriz perdoadora, especialmente para aqueles que mereciam. AQUELES QUE MERECEM. Obviamente, o nobre não pensou nisso, pois só pensava em sair vivo dali.

“Sua Majestade!” gritou o homem mais velho e se prostrou quando Abel o soltou.

Seus olhos caíram sobre as costas trêmulas do nobre antes de levantar o olhar para Abel. Este último apenas a encarava de volta com olhos afiados, sem afeto ou qualquer coisa do tipo neles. O mesmo acontecia com Aries. Seus olhos estavam frios e distantes, sua expressão era rígida.

“Levante a cabeça, Barão Clegg,” ordenou Aries suavemente, observando o homem erguer seu rosto pálido. “Eu soube que Sua Majestade o convocou depois que as alegações sobre a prostituição infantil se tornaram públicas.”

“Sua Majestade, por favor, acredite em mim. Eu não queria fazer isso. Aqueles no submundo simplesmente me ameaçaram para fazer o que eles diziam,” o homem explicou com voz trêmula através dos dentes cerrados. “Eu realmente… eu realmente não queria fazer isso, mas eles me forçaram! Por favor, Sua Majestade, eu também sou uma vítima aqui.”

Enquanto o homem explicava e implorava por misericórdia, Aries e Abel se encaravam silenciosamente.

“Ele não irá a julgamento, minha querida Imperatriz.” Após um minuto de silêncio entre o imperador e a imperatriz, Abel quebrou seu silêncio. Sua voz estava calma e baixa, e também perigosa e sombria. “Este homem… já confessou e, portanto, como imperador desta terra, eu o condeno à morte.”

A respiração do homem mais velho prendeu, quase se engasgando enquanto levantava a cabeça para Abel. Ele então lançou à imperatriz um olhar desesperado, silenciosamente rezando para conseguir sua ajuda.

“Aquelas crianças…” Abel olhou lentamente para baixo para o homem, seus olhos brilhando maliciosamente. “… nada do que você faça pode trazê-las de volta. Portanto, nada pode salvá-lo.”

“Sua Majestade!” o homem ajustou sua posição, de modo que estava de frente para Abel enquanto se ajoelhava. Ele esfregava as palmas das mãos enquanto implorava, “por favor, Sua Majestade! Tenha misericórdia de mim! Eu vou cooperar e contar tudo o que sei sobre o crescimento do mercado negro no império. Eu farei tudo o que você me mandar, apenas — apenas não me mate.”

O homem implorava e implorava, dizendo tudo para conseguir um pouco de simpatia do diabo insensível. Enquanto fazia isso, ele lançava constantemente um olhar para Aries e também a implorava. A única pessoa que poderia mudar a mente do imperador, e na verdade a única pessoa que poderia desafiar as ordens do imperador, era a Imperatriz.

O imperador e a imperatriz tinham status e autoridade iguais, então, sempre que surgia um problema e ambos os monarcas tinham opiniões opostas, seria uma longa discussão até que ambas as partes chegassem a um compromisso. Alguns achavam que isso era uma mudança terrível para Haimirich, mas muitos discordavam porque Aries não era tão implacável quanto Abel.

Um suspiro superficial escapou dos lábios de Aries, marchando lentamente para dentro até ela se sentar no divã.

“Eu disse… seria bom acompanhar e monitorar seus movimentos,” ela hesitou, os olhos no nobre que trouxe à tona um oceano de sal em seus olhos. “Barão Clegg, este império… é nosso. Sabemos de tudo o que acontece aqui, e como tal, estávamos cientes deste assunto mesmo antes de tudo desmoronar.”

Aries recostou-se. “Sua oferta de cooperar e nos ajudar… os cavaleiros reais já estavam prendendo aqueles que estavam envolvidos neste exato momento enquanto falamos. Portanto, Sua Majestade estava certo. Não há nada que possa salvá-lo.”

A expressão do homem mais velho congelou enquanto seu coração parava por um momento. Abel ergueu uma sobrancelha enquanto avaliava o homem antes de Aries acenar para Climaco e Gustav levarem o homem embora. No momento em que Climaco segurou os ombros do homem, este último começou a lutar e a implorar mais intensamente, mas tudo o que viu antes de a porta se fechar bem na sua frente foi a imperatriz olhando de volta para ele do divã, e o imperador de pé com as mãos nos quadris.

O imperador e a imperatriz ambos carregavam um ar de indiferença antes da porta ser fechada com força e ele enfrentar o julgamento.