643: Você pode me culpar? 643: Você pode me culpar? Dois dias antes da coroação…

Princesa Agnes foi agraciada com misericórdia e seria apenas banida do império com a condição de nunca mais pisar aqui. Após o julgamento, ela se tornou uma figura de zombaria e desprezo. Com o que ela tinha feito ao distrito leste, e a admissão do seu plano maligno de até envolver o distrito oeste, as pessoas não estavam felizes com a sentença recebida.

Elas achavam que era leve demais, mas sabendo que o império estava prestes a receber uma imperatriz, ninguém apelou. Assim, a princesa e o reino de onde ela veio foram considerados ‘sortudos’.

Ainda assim, o povo não permitiria que ela deixasse este império e levasse consigo a possibilidade de um sentimento de retorno. Eles podem não ter planejado matá-la por diversas razões, mas o povo ainda se reuniu fora do palácio imperial para jogar o que pudesse na carruagem em que ela estaria.

Os gritos cruéis das pessoas permeavam o ar e a rua, atirando pedras na carruagem fechada. Alguns até trouxeram baldes de fezes e urina, mostrando zero respeito à outrora estimada princesa.

“Que medo,” Aries cantarolou, assistindo à carruagem na rua da varanda de um estabelecimento situado no coração da capital.

A carruagem não conseguia se mover direito porque as pessoas a cercavam, gritando críticas ásperas, chamando a princesa de nomes e não poupando palavrões cuidadosamente selecionados. O número de pessoas furiosas que veio era inacreditável. Alguns nem estavam zangados e apenas se juntavam para atirar coisas. Certamente, essas pessoas não perderiam a oportunidade de ridicularizar alguém que nasceu privilegiada.

“Meu pai enviou uma carta me dizendo que se eu colocasse os pés em sua casa, ele me decapitaria no ato pela vergonha que eu trouxe à nossa terra.” Aries desviou o olhar da rua abaixo da varanda para a mulher sentada à sua frente. “Não tenho para onde ir.”

Princesa Agnes levantou lentamente os olhos para Aries. Sua pele estava pálida apenas um dia após o julgamento por causa da quantidade de estresse. Se não fosse por Aries ordenar que seus homens a ajudassem a sair sorrateiramente e usassem iscas, ela estaria dentro daquela carruagem para viver um pesadelo. Ela estaria grata, se não fosse pelo fato de que foi Aries quem causou sua desonra.

“Eu… não pretendia te prejudicar, Lady Daniella.” Sua voz tremia, quase engasgando em sua própria respiração. “Por que você iria tão longe?”

“Eu te disse, Princesa. Você queria ter liberdade, e eu estou te concedendo isso.”

“Isso… não é a liberdade que eu desejava!” Princesa Agnes elevou a voz pela primeira vez para Aries, mas logo se acalmou com seus próximos comentários. “Você me envergonhou.”

“Você vai me culpar novamente?” Aries inclinou a cabeça para o lado, alcançando a xícara de chá à sua frente. “Eu lembro claramente de lhe pedir para comparecer ao julgamento, mas eu não lhe disse para admitir. Você acha que eu sentiria a menor culpa se você fizesse isso?”

A mandíbula da Princesa Agnes se apertou, agarrando sua saia com força. A essa altura, ela já sabia que Aries era definitivamente alguém muito cruel. Embora a última tivesse um ponto, Aries não sentia vergonha de torcer as palavras de alguém para sua própria vantagem.

“Eu pensei que você fosse diferente,” ela murmurou, mantendo seus olhos exaustos em Aries. “Mas você é tão cruel e vil quanto todos os outros. Eu não acho que sobreviver a sua doença tenha tornado este mundo um lugar melhor.”

“Eu sei, né?” Aries riu com seus lábios cerrados, colocando a xícara de volta no píres. Quando ela endireitou as costas, seus olhos se apertaram com diversão.

“Assim como todos os outros, você e eu não tornamos este mundo um lugar melhor. No entanto, assim como todos os outros, todos nós queremos sobreviver,” ela continuou, cruzando os braços sob o peito enquanto se recostava. “Você pode me culpar? Você pode culpá-los? Se você nem consegue se culpar por tentar sobreviver, como pode culpar os outros quando suas ações são movidas pelo desejo ardente de persistir?”

“Eu não era sua inimiga.”

“Você não era.”

“Você… já havia garantido o trono,” Princesa Agnes enfatizou firmemente. “Você não precisava ir tão longe.”

“Mas você a conhece.” O fôlego da princesa ficou preso ao ouvir a resposta rápida e sem emoção de Aries. “A mulher que você está procurando. Você a conhecia e quer encontrá-la. Eu não iria tão longe se você tivesse se aproximado de mim com uma intenção diferente.”

Princesa Agnes abriu e fechou a boca, mas a língua continuava recuando em sua garganta.

“Eu… não tinha uma má intenção,” ela disse pesadamente quando recuperou a voz. “Tudo o que quero saber é se ela está salva agora ou se perdeu a vida.”

“Ela perdeu a vida todos os dias após a queda de Rikhill, Princesa.” O tom de Aries se tornou gelado. “Todos os dias, ela lutava pela vida, mas morria repetidas vezes — você nem pode imaginar como era torturante abrir os olhos no dia seguinte, sabendo que morreria outra morte cruel.”

“Quer ela tenha sobrevivido ou perdido a vida… não é algo que você deveria estar bisbilhotando, Princesa.” Ela balançou a cabeça, seus olhos ardentes fixos na princesa. “Ninguém mais fala dela; todos esqueceram desta princesa caída e escravizada de Rikhill. Por que você, alguém que nada sabia sobre ela e nunca fez nada por ela, ousaria reabrir as cicatrizes e trazer de volta o trauma que ela penosamente consertou?”

O fôlego da Princesa Agnes ficou preso, encarando a fúria crescente nos olhos de Aries. Era como se Aries estivesse falando de suas próprias cicatrizes, angústia e experiência.

“Você…” ela parou ao ter uma realização. O tempo em que a senhora da Casa Vandran se recuperou era quase o mesmo em que Aries ainda estava no império. Seria possível que Aries, a princesa caída e escravizada, que de repente desapareceu neste império fosse…
Aries piscou, e a fúria em seus olhos lentamente desapareceu, levando a xícara de chá aos lábios. Quando a colocou de volta e lambeu os lábios, ela encarou a Princesa Agnes novamente.

“Davien era um bom homem, Princesa. Havia momentos em que ele era bastante travesso — tolo,” Aries rompeu o silêncio momentâneo que se formava entre elas. “Ele sempre me disse que se casaria com sua correspondente.”

“Você era essa pessoa, certo?” ela inclinou a cabeça, e nesse segundo, o rosto da princesa se enrijeceu. “E também, a pessoa que partiu seu coração depois de dar-lhe falsas esperanças.”