A Mascote do Tirano - Capítulo 56

56: Ela quer ser um homem 56: Ela quer ser um homem “Amargo.” Aries fez uma careta com a amargura do remédio que Abel lhe deu.

“Abra a boca.”

“Hã?” Ela levantou as sobrancelhas, mas ainda assim abriu a boca por instinto. Antes que pudesse reagir, Abel colocou algo em sua boca.

“O quê…” Aries começou a falar, mas parou quando o gosto amargo foi substituído por algo doce, derretendo em sua boca.

“Eu disse para trazerem doce já que você não parava de reclamar do sabor amargo.” Abel deu de ombros, indiferente. “Feliz?”

O canto dos seus lábios se esticou em um sorriso, acenando como resposta. “Melhor.”

“Que bom.”

Abel balançou levemente a cabeça, com as mãos nos joelhos cruzados. Aries estava encostada na cabeceira enquanto Abel estava sentado na mesma cama, de frente para ela.

“Agora, volte a dormir.” Ele a ajudou a se deitar, aconchegando-a cuidadosamente.

“Você vai embora?” ela perguntou até o cobertor cobrir seus lábios.

“Você quer que eu vá?” Aries balançou a cabeça por instinto e um sorriso maroto apareceu nos lábios dele. “Então eu ficarei.”

“E suas obrigações oficiais?”

“Conan vai cobrir por mim.”

“Tudo bem?”

“Claro? Ontem foi ideia dele. Por isso, agora você está nesse estado. Ele está mais do que feliz em brincar de imperador por um dia do que receber um castigo diferente,” ele explicou, indiferente. “Agora, durma.”

Aries se encolheu com os olhos fixos no rosto dele. Olhando para ele agora, Abel não parecia tão assustador. Na verdade, ele parecia um pouco mais normal do que de costume. Ele só tinha que se abster de falar demais, já que isso arruinava sua imagem quase perfeita.

Ela o encarou em silêncio até o efeito do remédio começar a fazer efeito, fazendo suas pálpebras pesarem. Não houve troca de palavras enquanto ela piscava fracamente, olhos ainda fixos nele até sucumbir à escuridão. Quando isso aconteceu, Abel não pôde evitar de soltar uma risada abafada.

“Por que você me olha assim antes de dormir?” ele se perguntou, afastando alguns fios de cabelo de sua testa. “Você me faz desejar que não se recupere rápido.”

Um brilho cintilou em seus olhos naturalmente penetrantes. Ele não se lembrava da última vez que havia sentido essa paz. Abel era a pessoa que não conseguia parar de fazer algo, ou ficaria louco. Mas lentamente, ele estava começando a gostar de ficar ocioso na companhia dela.

Um descanso que ele nunca pensou que precisava. Era isso que Aries representava para ele. Com ela, todos os pensamentos loucos e ímpetos violentos desapareciam magicamente sem deixar rastro.

“Você é a minha calma, Aries…” ele sussurrou, pressionando um dedo em sua testa. “… mas, infelizmente, eu não preciso de tanta calma na minha vida.”

Abel acariciou a bochecha dela com o polegar, olhos gravando sua estrutura facial em sua cabeça. Um dia, ela iria embora. Ele teria certeza de que ela iria embora da próxima vez antes que ela descobrisse mais sobre ele e sobre este império. Porque se ela soubesse dele… Abel não teria razão para se conter de fazer o que quisesse.

Se ela o olhasse com nojo, como se visse um monstro… ele não queria pensar nisso agora. Apenas o pior aconteceria com Aries. Portanto, ele queria preservar sua imagem nos olhos dela; ela pode não olhar para ele com carinho e delicadeza. Pelo menos, ela não estava olhando para ele com desprezo absoluto.

“Fuja antes que isso aconteça, minha pequena querida.” Ele deslizou o dedo da testa dela pela ponte do nariz até a ponta. “Embora você possa não perecer, você morrerá enquanto ainda está viva.”

****
Algumas horas se passaram e Aries acordou novamente ao anoitecer. Ao contrário desta manhã, ela nem mesmo tinha a menor dor de cabeça e se sentia muito melhor; graças ao remédio.

Assim que sua mente começou a funcionar, ela virou a cabeça para o lado, apenas para ver que estava vazio. Abel não estava mais lá.

“Ele disse que ficaria,” ela murmurou, soltando um suspiro profundo. Aries encarou o teto, piscando muito lentamente, deixando sua mente em branco. ‘Acho que, como passei muito tempo com ele, estou me acostumando com sua presença.’
Não que essa fosse uma boa constatação, mas também não era ruim. Por um lado, Aries se sentia um pouco conflituosa. Ela estava se aproximando dele? Ou era apenas sua imaginação? Mas o que era certo é que ela não precisava medir suas palavras ou ações ao redor de Abel; a menos que soubesse que suas palavras ultrapassariam seus limites.

Em outras palavras, ela poderia agir como Conan. Alguém que também temia Abel, mas ao mesmo tempo não.

‘Devo perdoar Sir Conan agora?’ ela se perguntou, pensando que Abel disse que ele o cobriu. ‘Isso significa que Abel o fez trabalhar até o osso, certo?’
Ela não era tão insensível a ponto de não ter consciência. Não era como se o encontro deles ontem tivesse sido totalmente ruim. Na verdade, aquela foi a primeira vez que ela saiu depois de muito tempo. Quando Rikhill caiu em desgraça, o príncipe herdeiro do Império Maganti tornou Aries cativa.

Desde então, ela não saía para se divertir. Mas ontem foi algo que ela não esperava. Apesar de ter ficado doente como resultado, ela se divertiu no geral.

“Estou com fome,” ela murmurou, olhos ainda no teto. Aries estremeceu e seu coração quase saiu da caixa torácica quando ouviu a voz de Abel do outro lado do quarto.

“Posso te dar uma entrada se estiver com fome.” Aries virou lentamente a cabeça para o lado — o lado oposto de onde Abel normalmente se deitava — com horror estampado no rosto. “Posso oferecer meu corpo enquanto eles preparam a comida.”

Abel parou ao lado da cama, vindo da estante. Quando Aries acordou, ele estava colocando um livro de volta em seu lugar.

“Você esteve aí o tempo todo?” ela perguntou ofegante, repassando tudo o que disse em voz alta, pensando que ele já tivesse ido embora.

“Hmm. Eu prometi ficar, não foi?” ele deu de ombros e sorriu maliciosamente, sentando-se na beira do colchão. “Eu estava prestes a falar, mas então ouvi sua decepção quando pensou que eu tinha saído. Isso me fez querer ouvir mais.”

“…” Aries mordeu a língua, prometendo a si mesma que nunca mais falaria seus diálogos internos em voz alta. Mas seus pensamentos mudaram enquanto franzia a testa, vendo-o lentamente desabotoar as calças.

“O que você está fazendo?” ela perguntou, observando-o parar e olhar para ela sem entender.

“Você disse que está com fome. Apenas me coma.” ele inclinou a cabeça para o lado, morto de seriedade sobre ‘alimentá-la’. “Sou a melhor entrada, prato principal e sobremesa que você terá! Devo me apresentar em uma bandeja de prata?”

Sua respiração ficou presa ao ouvir a oferta dele. Ela não respondeu mais e se virou de lado, de costas para ele.

“Coma você mesmo,” ela murmurou, franzindo a testa quando sentiu ele atrás dela. “Abel, eu quero ser um homem.”

“Hmm? Isso é tão aleatório.” Abel envolveu o braço em sua cintura. “Então, seja um homem.”

“Posso?” dessa vez, ela se virou corajosamente para encará-lo. “Eu estou falando sério.”

“Mhm. Vamos mudar seu guarda-roupa?”

Ela não estava brincando por completo, mas ele tampouco. Ela examinou o homem que se deitou ao seu lado, imaginando se ser um homem mudaria a perspectiva dele.

“Não. Mas quero tentar testar se o problema é meu gênero.” Ela lhe disse honestamente. Como de costume, ele sorriu brincalhão e a incentivou.

“Então, boa sorte com isso.”