A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 85
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85: Um Professor Disposto 85: Um Professor Disposto Eve~
Kael piscou, claramente surpreso com meu pedido. Por um momento, me preocupei em ter cruzado algum limite ou feito papel de tola. Meu coração batia enquanto eu corria para explicar, as palavras saindo em uma enxurrada.
“Eu só… Tenho me sentido impotente ultimamente, e eu odeio isso. Eu não posso continuar dependendo dos outros para me proteger. Jules tem sido incrível, mas—” Pausei, buscando as palavras certas, “—Eu preciso ser capaz de me manter por conta própria. Por mim. Por ela. Por—”
“Por ele?” Kael interrompeu, um leve sorriso de canto aparecendo em seus lábios.
Um calor subiu ao meu rosto, mas eu não neguei. “Talvez. Eu só preciso aprender a lutar. Sobreviver. E eu acho… Eu acho que você poderia me ajudar.”
A expressão de Kael suavizou, seu humor habitual temperado por algo mais gentil. Ele me estudou por um longo momento, e eu me remexi sob seu olhar, de repente incerta sobre mim mesma.
“Você não precisa justificar isso para mim, Sua Alteza,” ele disse finalmente, sua voz calma e firme. “Você está certa. Você deve ser capaz de ficar em pé sozinha. É uma força que poucos buscam até ser tarde demais.”
Eu pisquei para ele, surpresa por sua compreensão. “Então… você vai me ensinar?”
Ele assentiu uma vez, seu sorriso fácil retornando. “Claro. Mas não pense que irei pegar leve com você porque você é da realeza.”
Alívio inundou por mim, e eu ri, o som quase estranho depois de tudo o que havia acontecido. “Eu não esperaria isso.”
Os olhos de Kael brilhavam com divertimento. “Ótimo. Precisamos de um cronograma apertado.”
Ele era o beta, claro que estaria ocupado. Precisávamos de um horário e lugar precisos. “Não tenho nada para fazer o dia todo. Estou pronta quando você estiver.” Eu disse a ele com sinceridade.
Kael acariciou o queixo, sua expressão contemplativa. “O deck de treinamento da ala direita seria ideal. É tranquilo o suficiente nas tardes, especialmente depois da correria do dia. Poucas pessoas ficam por lá uma vez que o sol começa a se pôr.”
Assenti, ansiosa para solidificar o plano. “Que horas você está pensando?”
Ele olhou em direção ao horizonte, onde as luzes da cidade começavam a piscar. “Logo após o crepúsculo. Posso reservar uma hora antes de minhas obrigações da noite começarem. Três dias por semana para começar. Isso deve ser suficiente para você entrar no ritmo sem se esgotar.”
“Os horários da noite funcionam perfeitamente,” concordei.
Os lábios de Kael se curvaram em um sorriso malicioso. “Não espere que seja fácil. Vamos começar com o básico—força, coordenação e consciência situacional. Provavelmente vai me odiar na segunda sessão.”
“Estou pronta,” eu disse firmemente, encarando-o. “O que for preciso.”
Ele assentiu aprovadoramente. “Vamos precisar do equipamento certo—nada chamativo, apenas prático.”
“Vou providenciar isso.”
“Bom,” disse Kael, satisfeito. “Amanhã à noite, deck de treinamento da ala leste. Não se atrase.”
Hesitei por um momento, então perguntei cautelosamente, “O que você acha que Hades vai dizer sobre isso?”
O sorriso de Kael desvaneceu um pouco, sua expressão escurecendo. “Depende. Se ele estiver com um humor protetor, ele pode não levar isso muito bem. Treinar a si mesma implica que você se sente desprotegida, e ele pode ver isso como uma falha pessoal.”
Franzi o cenho, uma mistura de frustração e preocupação se formando em meu peito. “Isso não é justo. Não estou fazendo isso porque duvido dele. Eu só… Não quero ser uma responsabilidade.” Não era sempre sobre ele.
Kael se inclinou para trás, cruzando os braços. “Então deixe isso claro para ele. Hades é teimoso, mas ele respeita força e convicção. Você tem ambas—só mostre isso.”
Suspirei, olhando para o lado da cama de Hades. “Vou falar com ele hoje à noite. Ele merece saber.”
O sorriso zombeteiro de Kael retornou. “Boa sorte com isso. Se ele decidir ficar todo sombrio e dramático, não diga que eu não avisei.”
Não pude evitar um sorriso apesar do nervosismo que agitava meu estômago. “Obrigada, Kael. Por concordar com isso. Significa muito.”
Ele se afastou da porta e começou em direção ao corredor que levava aos elevadores. “Não me agradeça ainda, Sua Alteza. Guarde isso para quando você realmente puder me acompanhar. Amanhã à noite, ala direita. Esteja pronta.”
Enquanto Kael desaparecia nas sombras do corredor, eu me voltei para a ala direita. Uma conversa mais estava entre mim e o treinamento de amanhã, e eu não deixaria isso me parar.
—
Hades~
Girei o copo de Sangue Eterno, observando o líquido carmesim profundo grudar nas laterais como veludo líquido. O nome, italiano para sangue eterno, era uma promessa de refinamento atemporal e sabor inigualável. Este era um vintage reverenciado por conhecedores, criado com precisão e séculos de tradição. E ainda assim, ao levá-lo aos lábios e tomar um gole, mal contive uma careta.
O gosto estava errado—plano, metálico e sem profundidade. Era como se o vinho tivesse perdido sua alma. Coloquei o copo na mesa com um clique agudo, minha paciência diminuindo a cada tentativa falha de encontrar satisfação.
Era a marca de Lucinda. Os Montague vinham produzindo vinho por gerações. Não era culpa do vinho. Sangue Eterno era impecável em seu artesanato—envelhecido à perfeição, com camadas de cereja negra, ferro e sussurros sutis de carvalho. Pelo menos, era o que eu costumava pensar. Antes dela.
Me inclinei para trás na cadeira, fechando os olhos, mas a memória se recusava a ser afastada. A primeira vez que provei o sangue de Ellen havia sido um erro—ou pelo menos foi o que eu disse a mim mesmo. A atração era inegável, sua presença acendendo algo antigo e selvagem dentro de mim. Quando finalmente cedi, estava completamente despreparado para a experiência.
Seu sangue foi uma revelação. Não era apenas sustento—era a vida em si. Quente e imensamente vibrante, carregava a essência de tudo que eu desejava, mas nunca poderia reivindicar. Havia uma doçura ardente, como mel selvagem, sublinhada por uma complexidade que era ao mesmo tempo intoxicante e assombradora. Era elétrico, vivo e devastadoramente íntimo, permanecendo em minha língua muito depois da última gota.
Desde então, nada mais se aproximou. Cada gole de vinho sanguíneo era vazio e decepcionante, uma pálida sombra daquela primeira, perfeita degustação. Levantei o copo novamente, encarando o líquido como se de alguma forma pudesse se redimir.
Nada.
Coloquei o copo novamente e me inclinei para frente, apoiando os cotovelos na mesa. Eu havia provado a perfeição, e agora estava amaldiçoado com o conhecimento de que nunca poderia voltar. O sangue dela havia me arruinado de maneiras que eu não poderia admitir completamente—nem mesmo para mim mesmo.
Não era apenas o sabor que me atormentava. Era o que representava. Ela não era apenas um sustento; ela era algo que eu não podia me permitir ter. Desde ontem, cada vislumbre de sua pele corada na banheira me fazia endurecer. Eu queria nada mais do que me enterrar nela e sentir as paredes de veludo de seu núcleo estrangulando meu pênis como um torno.
O sexo não era uma mera indulgência para os Lycans; era uma necessidade biológica. Uma necessidade. O vínculo entre companheiros não era apenas emocional—era físico, uma conexão forjada pelo toque, respiração compartilhada e, em última análise, liberação.
Nossa espécie evoluiu com certas verdades, e uma das mais implacáveis era a necessidade de liberação. Sem isso, a energia feral dentro de nós se acumulava, crescendo incontrolável. Nossos sentidos aguçados e poder bruto exigiam equilíbrio, e o sexo era essa âncora. Não se tratava apenas de prazer—era sobrevivência.
E então havia o nó.
O nó era o ápice do vínculo do acasalamento, o ato que solidificava a conexão de um par. Quando um Lycan colocava o nó em seu companheiro, não se tratava apenas de acasalamento—era uma reivindicação inquebrável. O processo era profundamente instintivo, primal e inegavelmente vinculativo. O nó, uma vez inchado e trancado dentro do companheiro, servia como garantia biológica de que o vínculo estava selado.
Mas eu estava abstinent por tanto tempo, usando qualquer outra coisa como saída. Eu era diferente de meus subordinados Lycans, por isso havia algumas exceções para mim. No entanto, exceções só iam até certo ponto.
Não havia nada como companheiros interespécies. Portanto, Ellen não tinha o direito de me enlouquecer com essa quantidade de desejo. Era sem precedentes. Só havia piorado desde que provei aquele maldito vinho.
Mas havia algo mais. Algo que eu estava evitando.
A tentação estava trancada, escondida atrás das imponentes portas de mogno do meu armário. Estava lá há semanas, intocada mas nunca esquecida. Uma única garrafa—a chamada desculpa de Lucinda. Não era apenas qualquer vintage; era especial. Eu sabia exatamente o que era, mesmo antes que seu bilhete o confirmasse.
“Para os velhos tempos e novas alianças, Hades. Um presente nascido do meu melhor artesanato e seu maior inimigo. Aproveite com responsabilidade.”
Lucinda sempre foi uma criatura manipuladora, cada uma de suas ações repleta de segundas intenções. Este presente não era apenas um ramo de oliveira—era uma jogada calculada. E eu odiava como ela me conhecia bem.
Eu me levantei, minha cadeira raspando contra o chão enquanto a empurrava para trás. Meus passos eram deliberados, a distância até o armário parecendo mais longa do que deveria. Minha mão hesitou na alça de latão polido, minha reflexão distorcida em seu brilho.
Isso era um erro.
E mesmo assim, eu o abri.
O interior do armário estava imaculado, as prateleiras alinhadas com garrafas ao longo dos séculos. Cada uma contava uma história, um fragmento da história capturado em vidro. Mas meus olhos foram atraídos para a garrafa solitária separada das outras. Seu pescoço escuro e delgado não tinha rótulo, apenas a impressão quase desbotada do brasão da família Montegue gravado no vidro.
Alcancei, meus dedos roçavam na superfície fria. O peso era familiar, mas insuportável. Parecia viva em minha mão, como se carregasse mais do que apenas vinho dentro.
Desta vez, eu não me incomodei com um copo. Puxando o lacre, levei a garrafa aos lábios e dei um gole hesitante.
O efeito foi imediato.
Um calor se espalhou por mim, rico e envolvente. O gosto era… divino. Uma onda de doçura selvagem inundou meus sentidos, seguida por uma dança intricada de sabores que eu não conseguia compreender totalmente. Era ela. Cada parte dela—feroz, vibrante e completamente intransigente. Era a força ardente em seus olhos, a suavidade em sua voz quando ela baixava a guarda, o desafio não dito que me desafiava a confrontá-la.
Fechei os olhos, saboreando o momento mesmo enquanto a culpa se enroscava em meu peito. Isso não era apenas indulgência; era algo muito mais sombrio. Cada gota era uma traição ao meu melhor julgamento, uma concessão à parte de mim que se recusava a deixá-la ir.
O ar mudou, pesado com verdades não ditas. A garrafa em minha mão parecia ao mesmo tempo preciosa e condenatória, um símbolo de tudo que eu não podia ter, mas não resistia.
Coloquei-a sobre a mesa, minha respiração irregular enquanto lutava com o conflito que rugia dentro de mim. Ela era mais do que uma distração. Mais do que uma obsessão. E isso—isto era um lembrete de quão longe eu havia caído. Eu só precisava reivindicá-la uma vez, tê-la contorcendo-se sob mim e eu seria capaz de pensar com clareza. Essa obsessão se desfaria como correntes.
Mas mesmo enquanto tentava me afastar, eu sabia que tomaria outro gole.
E outro.
Porque o gosto dela não era algo que eu poderia desistir. Não agora. Não até que eu estivesse satisfeito e ela não significasse nada.