A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 57
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57: Tanto a Dizer 57: Tanto a Dizer Eve~
Minha barriga revirou quando li o identificador de chamadas.
Mãe.
Estendi a mão para pegar o telefone, mas me contive e recuei a mão. Cada vibração do telefone era uma lança no meu coração. Mas eu sabia que, se quisesse manter minha sanidade, seria melhor manter distância. Só a deusa sabia que palavras horríveis ela diria para mim, que coisa ela falaria que me faria desmoronar.
Eu ainda não tinha superado sua última ligação. O frio em seu tom tinha sido devastador. Será que ela tinha descoberto sobre a explosão e queria esfregar na minha cara, ou me repreender por ser descuidada? Eu não queria saber. O telefone finalmente parou de vibrar, e eu fechei meus olhos. Respirei fundo para acalmar meu coração acelerado.
Apenas para mais vibrações rasgarem o silêncio do quarto. Quando me sentei novamente, estava tremendo mais do que antes. O identificador de chamadas fez meu coração parar.
Mãe.
Eu encarei a tela, o nome piscando como um farol de pavor. Minha mão pairou sobre o telefone novamente. Parte de mim queria jogá-lo pela sala, qualquer coisa para parar o zumbido incessante. Mas a outra parte, ainda desesperada por algo familiar, me instigou a atender.
Inalei bruscamente, pressionei meu polegar trêmulo na tela e atendi.
Eu nem sequer consegui falar.
“Eve, meu bebê,” ela sussurrou, sua voz cheia de pânico e urgência.
Por um momento, não consegui falar. Minha boca ficou aberta enquanto ela continuava.
“Eve?” ela sussurrou novamente.
Por que ela estava sussurrando? Por que ela soava como minha mãe novamente e não a rainha fria que tinha assombrado meus pesadelos?
“Eve?” O pânico e o desespero em sua voz cresceram. “Por favor, fale comigo. Eu estou… implorando.” Sua voz falhou. Ela estava à beira de chorar.
Isso não era um sonho cruel ou uma encenação. Isso era real. “Mãe?” eu murmurei, um pouco entorpecida. “É você?”
Eu a ouvi tomar um fôlego trêmulo. “Sou eu, querida. Eu soube do incidente. Por favor, por favor, me diga que você está bem?”
“Estou…”
“Eu sei que depois de todos esses anos…” Sua voz falhou. “Eu não pude fazer nada além de… observar. Mãe está arrependida.” Ela estava soluçando. “Estou do seu lado. Sempre estive. Eu te amo tanto. Há tanto que eu tenho que dizer…”
“Lyra?”
Minha respiração falhou quando ouvi a voz do meu pai. Eu segurei o telefone mais firme, meu pulso falhando.
Houve uma breve pausa, e eu pude ouvi-la tentar estabilizar a respiração. Por um breve momento, acreditei nela—acreditei que talvez dessa vez, ela estivesse falando sério. Que talvez ela se importasse.
Mas então, sua voz mudou—aguda, quebradiça, e cheia de veneno.
“Lyra?” A voz do meu pai surgiu ao fundo, fraca, mas clara o suficiente para enviar um arrepio pela minha espinha.
O tom da minha mãe estalou. “Sim, Roberto, estou falando com ela. Espere,” ela murmurou, suas palavras cortadas e impacientes. Eu a ouvi cobrir o telefone, mas não o suficiente para bloquear o que ela disse a seguir. “Você sabe como ela é. Sempre precisando de atenção, causando problemas. Não consigo lidar com ela agora.”
Eu congelei, o calor de suas palavras anteriores se esvaindo de mim, deixando para trás uma dor vazia. Apertei o telefone enquanto tentava processar o que estava ouvindo.
Então ela descobriu o telefone, seu tom tão diferente agora que eu mal o reconhecia. “Você sempre causa uma bagunça, Eve,” ela rosnou, sua voz cheia de desprezo. “Você nunca para para pensar antes de se jogar em encrenca? Ou isso é mais um pedido patético de atenção?”
As palavras atingiram como um tapa, e eu não conseguia sequer falar. O que tinha acontecido com a mulher que acabara de soluçar, dizendo que me amava?
“Você é sempre tão inútil, tão necessitada,” ela continuou, o desprezo em sua voz crescendo aguçadamente com cada palavra. “Eu nem sei por que eu liguei. Você já deveria saber que você está sozinha.”
“Mãe,” eu sussurrei, minha garganta apertada, coração acelerado. “Por que você está dizendo isso?”
Sua risada foi fria, cruel, uma zombaria da ternura que ela tinha mostrado poucos minutos antes. “Por quê? Porque é a verdade, Eve. Você não é nada além de um fardo. Sempre foi. Você acha que eu tenho tempo para lidar com suas bagunças, seus fracassos? Você acha que eu gosto de limpar o seu caminho? Você é patética.”
Eu pisquei, o corte de suas palavras me atingindo profundamente. Era como se um interruptor tivesse sido virado. A mãe que tinha estado chorando, implorando para eu falar, tinha desaparecido. No lugar dela estava a que eu sempre temi—aquela que só me via como uma decepção.
“O que você quer de mim?” eu consegui engasgar, minha voz pequena, desesperada.
“O que eu quero?” ela cuspiu. “Eu quero que você pare de ser uma desgraça. Toda vez que ouço seu nome, está ligado a algum desastre. Você sabe como é embaraçoso ter uma filha como você? Você sabe quanto eu tive que sacrificar por causa de seus fracassos?”
Eu não consegui falar. As lágrimas que eu estava segurando derramaram, quentes e rápidas, borrando minha visão.
“Eu deveria saber que você estragaria isso também,” ela continuou, sua voz pingando veneno. “Você estraga tudo que toca.”
Eu senti o mundo girar, suas palavras me rasgando como facas. Meu coração se despedaçou em pedaços, cada palavra afundando mais em meu peito. Eu já tinha ouvido esse tom antes, mas nunca assim. Nunca tão cru, tão cheio de ódio.
“Você—” Minha voz falhou, mal um sussurro. “Você não acredita nisso.”
“Oh, mas eu acredito,” ela rosnou. “Você é, afinal, a amaldiçoada. Eu só queria que você soubesse que, se você morrer antes de fazer algo útil para essa matilha, você morrerá em vão. Então use seus malditos olhos.”
O ar saiu dos meus pulmões num sopro doloroso. Suas palavras pairaram no ar, venenosas, queimando. O silêncio que seguiu foi ensurdecedor, esmagador.
“Mãe…” eu sussurrei, quebrada.
“Não me chame assim,” ela sibilou, sua voz agora desprovida de qualquer calor, qualquer afeto. “Nunca mais me chame assim.”
Com isso, a linha caiu.
O silêncio era sufocante, o telefone escorregando da minha mão e caindo no chão. Eu fiquei lá, encarando a tela, o mundo girando ao meu redor.
Ela tinha ido embora.
O que estava acontecendo? Eu pensei enquanto as lágrimas escorriam pelas minhas pálpebras. Meu coração doía novamente, mas dessa vez, parecia que nunca iria parar.
Eu encarei o telefone, a tela vazia refletindo minha confusão, meu coração partido. Como alguém pode mudar tão facilmente do amor para o ódio? Como ela pode me erguer, apenas para me derrubar com tanta crueldade? Meus dedos tremiam enquanto eu enxugava as lágrimas, embora elas continuassem vindo, implacáveis, como o frio em sua voz que ecoava em minha mente.
Por anos, eu tinha esperado, apesar de tudo, que em algum lugar no fundo dela, existisse a mãe que eu conhecia. Eu recebo um vislumbre dela, e então é arrancado de mim.
A bondade anterior dela era uma pegadinha cruel, apenas para me mostrar o quanto eu tinha caído?
A porta se abriu, e eu enxuguei minhas lágrimas o mais rápido que pude. Hades entrou, um cigarro na mão, olhos cinzentos penetrantes como sempre. Nossos olhos se encontraram, e por um momento, eu poderia jurar que uma emoção semelhante à simpatia cruzou seu rosto. Num piscar de olhos, isso desapareceu.
Eu desviei o olhar. Hades era outra pessoa que tinha mostrado um vislumbre da bondade que eu tanto desejava que doesse. Só para retirá-la, como minha mãe.
“Olhe para mim, Ellen,” ele ordenou.
Eu não respondi e tentei me deitar na cama novamente. Mas na velocidade do relâmpago, ele estava sobre mim, sua mão beliscando meu queixo.
Ele me forçou a olhar para cima, e ele tinha meu bloco de desenho na mão, segurando-o para que eu pudesse ver. Na página estava a mulher estranha que eu tinha desenhado. A que eu não conseguia lembrar.
“Quem é esta, Vermelho?” ele falou.