A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 468
Capítulo 468: O Jardim da Mami
Eve
Mas ele não é mau comigo!” Micah acrescentou rapidamente. “Ele é legal. Ele me mostrou seus soldados de brinquedo e me deixou organizá-los. Ele desenha bem também. E Sophie…” Ele fez uma pausa, um pequeno sorriso surgiu em sua boca. “Sophie não tem dentes pontudos, mas ela provoca muito.”
“Ei!” Sophie protestou da cama onde estava acomodada.
Thea riu—um som genuíno que parecia surpreender até ela mesma. “Parece que vocês estão cuidando uns dos outros.”
“Estamos,” Micah confirmou solenemente. “Como uma matilha.”
“Como uma matilha,” Thea repetiu, e eu vi ela engolir em seco. “Isso é bom, Mickey. Isso é muito bom.”
Eles conversaram por mais alguns minutos—Micah mostrando a ela os desenhos na parede, contando sobre o cavalo de balanço e os livros e todas as cores. Thea ouviu cada palavra, sua atenção totalmente focada no irmão, apesar de qualquer trabalho crucial que a aguardasse no laboratório.
Finalmente, Kael tocou gentilmente o ombro de Micah. “Sua irmã precisa voltar ao trabalho, cara. Mas ela vai te ver de manhã.”
Micah assentiu, relutante, mas compreensivo. “Boa noite, Thea Eu te amo.”
“Eu também te amo, Mickey. Muito.” Thea mandou-lhe um beijo através da tela. “Bons sonhos.”
A chamada terminou, e Micah devolveu o tablet para Kael. Por um momento, pensei que ele pudesse chorar, mas ao invés disso, ele endireitou os ombros e assentiu—tentando ser valente como Thea havia dito.
Kael permaneceu agachado ao nível dele. “Ela está trabalhando em algo que vai ajudar muitas pessoas,” ele disse baixinho. “Inclusive você. É por isso que ela não pode estar aqui agora.” Ele bagunçou seu cabelo, olhos gentis.
“Eu sei.” A voz de Micah estava pequena, mas firme. “Ela está sempre ajudando as pessoas. Como papai fazia.”
O maxilar de Kael se apertou, e eu vi algo passar sobre sua expressão, tristeza, reconhecimento. “Sim. Como seu pai fazia.”
Ele se levantou, encontrando meus olhos brevemente antes de acenar para Hades e para mim. Seus ombros caíram novamente, todo seu corpo pesando de tristeza. Hades deu-lhe um tapinha nos ombros. “Vá dormir. Amanhã é um longo dia.”
Ele não respondeu, apenas saiu andando.
“Certo,” eu disse, juntando as mãos gentilmente. “Está ficando tarde. Quem quer uma história antes de dormir?”
Para garantir, nunca mais teremos a chance.
“Eu!” Elliot e Sophie disseram em uníssono.
Micah assentiu silenciosamente.
“Todo mundo escolha uma cama,” eu instruí. “Estamos fazendo um ninho.”
Eles correram para pegar cobertores e almofadas, criando uma pilha enorme no centro do quarto entre as três camas. Hades ajudou, adicionando almofadas extras e ajeitando tudo até parecer uma verdadeira toca de lobos.
Eu me acomodei no meio do ninho, e as crianças se aconchegaram ao meu redor. Elliot à minha esquerda, Sophie à minha direita, e Micah encostado ao meu lado, ainda segurando o lobo de pelúcia que alguém tinha dado a ele.
Hades sentou na borda do ninho, de costas para a cama de Sophie, nos observando com uma expressão que eu não conseguia bem decifrar.
Freddie observou, mas sua expressão havia amolecido.
“Que história vocês querem ouvir?” eu perguntei.
“Conte-nos sobre a lua,” Sophie disse imediatamente. “Mas não a lua assustadora. A boa.”
Então, eu contei. Eu contei a eles sobre a lua prateada que vigiava todos os lobos, sobre como guiava filhotes perdidos de volta para casa e dava força aos fracos. Eu contei sobre festivais lunares e celebrações, sobre canções uivantes passadas entre gerações.
Eu não contei a eles sobre Luas de Sangue ou profecias ou guerras. Essa noite, eles podiam ter a versão gentil. O mundo onde luas eram benevolentes e lobos estavam seguros.
Um por um, eles adormeceram, Micah primeiro, exausto de seu dia emocional com Sophie, eu estava certo. Eu podia entender. Depois Elliot, lutando contra o sono até o fim como sempre. E finalmente Sophie, sua pequena mão ainda enrolada na manga de Hades.
Quando suas respirações se transformaram no ritmo profundo do sono, eu me retirei cuidadosamente do ninho. Hades me ajudou a colocar cobertores ao redor deles, garantindo que cada um estivesse quente e seguro.
Sophie se mexeu enquanto estávamos nos virando para sair, seus olhos piscando brevemente. “Tio Luci?”
Hades se ajoelhou ao lado de sua cama. “Estou aqui, pequena estrela.”
“Amanhã… nos túneis…” Sua voz estava sonolenta, arrastada pelo sono. “Você vai ver o jardim da Mami?”
Eu congelei. Ao meu lado, senti Hades paralisar também.
“Que jardim, Sophie?” ele perguntou suavemente.
Mas ela já havia voltado a dormir, sua respiração se estabilizando mais uma vez.
Hades e eu trocamos olhares sobre as crianças adormecidas. O jardim da Mami. Nos túneis.
Freddie, a estátua falante, falou finalmente. “Tudo ficará claro amanhã. Vocês têm que ver por si mesmos..
Eu e Hades trocamos um olhar longo antes de acenar com a cabeça, exaustos.
Lucinda apareceu. “Sr. Freddie, eu vou lhe mostrar seu quarto.”
Seu olhar demorou sobre Sophie em resposta antes que ele cedesse e se dirigisse para ela.
—–
Hades me puxou em seus braços, e eu me permiti inclinar para ele, tomando força de sua presença sólida. “Descobriremos amanhã,” ele murmurou em meu cabelo. “Os túneis, o jardim, seja o que for que Cain está escondendo.
“E então?”
“E então salvamos todos que pudermos.”
Era a mesma resposta de sempre. A única resposta que tínhamos.
Mordi meus lábios. “A guerra… as crianças também, nós vamos…”
“Não podemos deixá-los perder mais ninguém.” Ele leu minha mente.
Hades segurou meu rosto em suas mãos, seus polegares enxugando lágrimas que eu não havia percebido que estavam caindo. “Não vamos. Isso é uma promessa, Eve. Voltaremos para eles assim que tudo terminar. Não vamos a lugar nenhum.”
Assenti, querendo desesperadamente acreditar nele. Acreditar que poderíamos lutar esta guerra e vencer. Que poderíamos salvar oito mil pessoas de Silverpine. Que poderíamos proteger três crianças traumatizadas que já tinham perdido tanto.
Essa esperança era suficiente.
“Amanhã,” eu disse.
“Amanhã,” ele concordou. “Vemos quais segredos os túneis guardam.”
Ficamos ali por mais um momento, nos segurando no corredor fora de um quarto cheio de crianças adormecidas, antes de finalmente nos virarmos de volta para a sala de guerra.
Ainda havia planos a serem finalizados. Evacuações para coordenar. Uma guerra para preparar.
Mas esta noite, demos a três crianças um momento de paz. Uma história sobre luas gentis e lobos seguros. Uma promessa de que alguém lutaria por elas.
Teria que ser o suficiente.
Mesmo que parecesse muito pouco.