A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 465
Capítulo 465: Confirmação
Eve
O laboratório ainda brilhava com uma luz branca fantasmagórica, energia residual da reação pairando no ar como estática antes de uma tempestade. Observei o cristal pulsar na mesa de contenção, firme, rítmico, vivo. Bonito e assustador em igual medida. Essa pequena coisa, não maior que meu punho, iria salvar duzentas mil vidas.
Se funcionasse.
A equipe da Dra. Maya se movia ao fundo, suas vozes sussurradas enquanto terminavam. Os homens já haviam saído, deixando apenas o pessoal essencial. Kael deu um passo à frente, segurando o console de comunicação de Hades, sua expressão grave.
“Conecte-me à Obsidian Dynamics,” disse Hades.
Meu peito apertou. Era isso. O momento em que a teoria se tornava ação.
Alguns batimentos cardíacos depois, a tela holográfica piscou acima da mesa, lançando luz azul sobre nossos rostos. A imagem se resolveu em um homem que eu só havia lido em arquivos de briefing, Arquiteto Vale, Grande Arquiteto da Obsidian Dynamics. Seu distintivo prateado reluzia contra seu uniforme escuro, e atrás dele, pude distinguir as formas embaçadas de máquinas gigantescas, o ar vivo com o zumbido de motores e o crepitar de campos magnéticos.
Ele inclinou a cabeça respeitosamente. “Alfa. Luna.” Seu olhar encontrou o meu por um breve momento, reconhecendo-me antes de voltar-se para Hades. “Recebemos a transmissão. O composto foi confirmado, então?”
“Confirmado,” disse Hades, sua voz carregando aquele tom de comando que fazia as pessoas ouvirem. “Está estável e pronto para integração. Prossiga com a produção, Arquiteto. Cada minuto conta agora.”
Vale exalou lentamente, e vi seus dedos se unirem diante dele—um gesto de controle mascarando a tensão. “Entendido. Vamos começar a infusão imediata nas reservas de Magno-Aço. As Matrizes precisarão funcionar continuamente.” Ele pausou, e algo passou por seu rosto composto. Hesitação. “Mas… estamos cortando perto. O consumo de energia para manter todas as cinco Matrizes Magneto-Térmicas ativas será… considerável.”
Estática estalou pela linha enquanto esquemas apareciam ao lado de sua imagem. Inclinei-me para frente, estudando-os. Cinco anéis enormes suspensos no ar sobre cúpulas de ferro, relâmpagos arqueando entre eles como trovões capturados. A escala era impressionante.
“Cada pulso de ativação requer mil e duzentos terawatts,” continuou Vale, seu tom medido, ainda assim pesado com um certo temor que ele não conseguia esconder. “Isso é suficiente para apagar metade da grade Obsidiana por horas. Vamos desviar energia de distritos secundários. Alguns setores ficarão no escuro—os civis, muito provavelmente.”
Meu estômago caiu. Escuridão significava medo. Pânico. As pessoas pensariam no pior.
Mas Hades não hesitou. “Antecipamos isso. As reservas solares que armazenamos por meses—transfira-as para as grades civis assim que as Matrizes entrarem em funcionamento.” Sua voz era firme, absoluta. “As pessoas podem aguentar algumas horas de luz fraca. Elas não podem sobreviver à radiação lunar. Nós comprometemos.”
Vale assentiu, e eu vi o alívio suavizar a tensão em seus ombros. “Eu esperava isso, Alfa.” Ele permitiu-se um sorriso tênue—em igual medida orgulho e apreensão. “Ainda assim… não vou mentir. A escala me inquieta. Cinco cúpulas, cada uma maior que um estádio, forjadas no ar sob carga magneto-térmica, tudo a ser feito no prazo de um mês.” Ele engoliu em seco, a pergunta em seu olhar era óbvia.
“Há algo em sua mente, Arquiteto?” perguntou Hades, com tom ameaçador.
O homem passou uma mão enluvada pelo cabelo, inseguro. Ainda assim, limpou a garganta e perguntou. “É verdade, Alfa? O prazo foi antecipado, vamos encontrar a Lua de Sangue em seis semanas?”
Eu entendi; ainda era um sonho horrível mesmo para nós. Ele tinha o direito de questionar como um ano foi comprimido para menos de dois meses mesmo que a informação tivesse sido entregue através de fontes verificadas da torre Obsidan.
Antes que Hades pudesse falar, ele continuou, sua voz medida, mas cada sílaba parecia tremer. “Eu tive que descobrir se os outros setores receberam a mesma diretiva.” Sua mandíbula se apertou. “Produção de munição, sustentabilidade agrícola, estoques médicos—todos estão se esforçando também? Ou somos apenas nós entre duzentos mil civis e a aniquilação com um mês para forjar o impossível?”
Ele encontrou o olhar de Hades diretamente, e eu vi o cansaço ali—a carga de saber que vidas dependiam de seus cálculos.
“E o que descobriu, Arquiteto?” perguntou Hades.
“Todos recebemos a mesma diretiva. O que significa que é realmente verdade—não é uma pegadinha elaborada.”
“Não é pegadinha, Arquiteto. Tivemos essas contingências em andamento por uma década antes mesmo de eu carregar o título de Alfa, quando eu ainda era Beta para Leon.” Sua voz era firme, absoluta. “Todo setor está trabalhando no mesmo cronograma. Cada mão está a postos. Nossas preparações vão resistir.”
Vale ficou quieto por um momento, processando. Então algo mudou em sua expressão, o peso levantando-se levemente. Seus ombros se endireitaram. “Então vamos garantir que estamos prontos.”
Seu sorriso piscou, algum alívio nascendo da garantia filtrando-se em suas feições, frágil como a luz de velas. “Vai resistir. Eu vou garantir isso.”
A voz de Hades baixou, e ouvi o cansaço por baixo de seu controle. Há quanto tempo ele carregava esse peso? “Estaremos lá amanhã à noite. Eve e eu. Quero ver as Matrizes eu mesmo antes de entrarem em operação.”
Amanhã. A palavra se instalou sobre mim como neve.
“Vou liberar o Quarteirão de Ferro para a sua chegada,” disse Vale. “Você vai precisar de equipamento de proteção, os campos magnéticos são voláteis durante a calibração.”
Confio em você, Arquiteto,” disse Hades calmamente.
Houve uma pausa medida, e a expressão de Vale tornou-se solene. Sua coluna endireitou-se. “Quando a lua ficar vermelha, Alfa, Obsidiana estará selada sob um céu inquebrável. Não falharemos.”
A transmissão piscou uma vez, duas, depois se dissolveu na escuridão.
O silêncio preencheu o laboratório novamente. O pulso do cristal era o único som — constante, persistente, esperançoso. Olhei para Hades e o encontrei já me observando, a luz holo desvanecendo ainda presa em seus olhos. Ele parecia cansado. Determinado. Humano.
“Amanhã,” murmurei.
“Amanhã,” ele concordou, e algo passou entre nós naquele momento. Não apenas palavras, mas entendimento. Medo e esperança entrelaçados como o relâmpago nessas Matrizes. “Vemos como a esperança parece em ferro.”
Eu queria acreditar nele. Deus, eu queria acreditar que poderíamos fazer isso, que ciência e teimosia e pura vontade poderiam enfrentar uma antiga maldição escrita em sangue e luz do luar.
Mas amanhã nos diria se a fé era suficiente.
Estendi a mão e ele a tomou sem hesitar. Seu aperto era quente, sólido, real.
“Vamos fazer isso funcionar,” eu disse. Não uma pergunta. Um voto.
Hades apertou minha mão uma vez. “Vamos.”
Atrás de nós, a equipe da Dra. Maya continuava seu trabalho, catalogando dados, fazendo verificações finais no cristal. Kael estava no console, já preparando a logística para a viagem de amanhã. A máquina de guerra estava em movimento agora, imparável.
Thea se soltou do exército de trabalhadores do laboratório, mancando, com as mãos nos bolsos do casaco. “Obrigado pela paciência,” notei que as sombras escuras ao redor de seus olhos haviam se aprofundado, mas ela não parecia nem um pouco cansada. “Luna Eve, ainda temos algumas reservas do seu sangue, mas precisaremos de mais até amanhã.”
Dei um sorriso cauteloso. “Claro, estarei pronta para doar amanhã à noite. Obrigado.”
Ela abaixou a cabeça, ainda incapaz de me olhar por muito tempo enquanto voltava para a equipe de trabalho.
Um braço envolveu meus ombros, puxando-me para um corpo quente. Eu me derreti contra ele.
Hades.
“Vamos ficar bem,” ele sussurrou.
Olhei para ele, buscando em seus olhos a dúvida que eu sabia que compartilhávamos, principalmente porque eu podia detectá-la através da corrente de Fenrir. Sorri. “Claro que vamos.”
E em algum lugar além destas paredes, a seis semanas de distância, a Lua de Sangue estava vindo.
Mas esta noite, neste laboratório, tínhamos esperança.
Pulsava como um batimento cardíaco.