A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 437
Capítulo 437: Primeira Prova: Culpa
🌙 𝐋𝐢𝐥𝐢𝐭𝐡
Ela tinha os braços em volta de mim, quentes, firmes, reais. Minha garganta fechou enquanto a agarrava de volta, desesperada para me enterrar nela como se ainda fosse uma criança—mas meus braços não se encaixavam. Eles eram curtos demais, pequenos demais, tencionando inutilmente contra seus lados.
O pânico piscou. Meu fôlego engasgou. Por que eu não conseguia abraçá-la?
Sua mão segurou a parte de trás da minha cabeça, pressionando-me contra seu ombro. Eu senti então—a umidade. Não eram minhas lágrimas, mas as dela, escorregando pela minha têmpora. Minha mente buscava respostas, por sentido, mas então—
Crack.
O som rasgou o ar estrelado. Um chicote. Um cinto.
Atingiu suas costas. Ela encolheu-se, seu aperto se apertando em mim.
Eu congelei, meu pulso mergulhando em terror.
E então eu o vi.
Landon.
Seu rosto contorcido na familiar máscara de raiva, cada veia e tendão ressaltados, o ódio emanando dele tão intenso que fazia o ar se enrolar nos meus pulmões.
“Sua prostituta desgraçada!” Sua voz trovejou, ecoando contra o céu impossível. “Se você pode proteger a pirralha daquele monstro, deve ter querido o que ele fez com você! Quem acreditaria na sua história quando você ama tanto a filha do bastardo que aceitaria uma surra por ela?”
As palavras cortaram-me como lâminas, mais afiadas que o estalo do cinto.
Eu encarei minha mãe, mas ela apenas inclinou meu queixo para cima, seus olhos cor de avelã repletos de lágrimas e amor. Sua palma acariciava minha bochecha como sempre fazia.
“Não ouça Papai,” ela sussurrou, sua voz quebrando, mas gentil. “Ele está com raiva. Ele não pensa assim.”
Mas Landon rugiu novamente, e as próprias estrelas pareceram tremer.
“Eu não sou o pai dela!” Cuspe voou de seus lábios enquanto ele levantava o cinto de novo, sua fúria apagando a luz. “Que mundo distorcido acreditaria nisso? Ela tem os olhos dele! Ela é a escória dele! E você—” o cinto rachou, arrancando outro grito da noite—”você deve estar doente para amar isso!”
“Não!” Eu me lancei, tentando protegê-la com meu corpo pequeno, meus braços infantis muito pequenos, muito fracos. “Pare! Por favor!”
Mas sua sombra caiu sobre mim, massiva e assustadora. Meus olhos arregalaram enquanto eu tremia. Sua mão apertou meu meio com força brutal.
Eu gritei.
E então eu olhei para baixo—
Minhas pernas. Meus braços. Meu corpo todo, encolhido, frágil, errado.
Eu tinha quatro anos de novo.
Ele me levantou como uma boneca, meus membros debatendo-se, minha voz rachando de terror.
“Veja?” ele berrou, sua raiva me queimando viva. “É isso que você protege. Esta coisa que nunca deveria ter nascido!”
E com um rugido, ele me arremessou.
Meu corpo voou pela escuridão estrelada, sem peso por um batimento nauseante antes que a parede batesse em mim.
O impacto destruiu o ar dos meus pulmões, a dor florescendo abrasante enquanto as estrelas piscavam acima de mim, impiedosas e distantes.
Minha visão oscilava, a dor sacudindo meus ossos enquanto eu me empurrava para longe da parede. Minhas pequenas mãos tremiam, meus joelhos balançando sob mim. E então—eu a vi.
Não apenas ele. Não apenas minha mãe.
Ela.
Tia Agnes.
Ela estava no canto como se estivesse lá o tempo todo, sombras grudadas em sua figura. Seus olhos, fundos e com bordas de fumaça, seguiam cada movimento com frieza. Um cigarro pendia de seus lábios, sua brasa brilhando como um olho observador.
Ela não havia se movido uma vez. Ela apenas ficou lá. Observando.
“Por favor…” Minha voz quebrou o silêncio. Meus pequenos pés cambalearam em direção a ela, minha camisola se enroscando em torno de minhas pernas. Eu desmoronei contra ela, puxando o tecido fino, minhas mãos se agarrando desesperadamente. “Pare Papai. Por favor. Faça-o parar.”
Por um momento, ela apenas olhou para mim, soltando uma corrente de fumaça que se enrolava como um laço entre nós. Então ela se agachou, seu rosto abaixando até o meu, o cheiro de tabaco me envolvendo.
“Você sabe que é sua culpa,” ela sussurrou, e suas palavras caíram mais pesadas que o chicote de qualquer cinto.
Meu fôlego engasgou. “O-o quê?”
Ela bateu no cigarro uma vez, cinzas caindo no chão polido. Então, sem aviso, ela pressionou a ponta incandescente contra a minha pele. Eu gritei, recuando, mas a mão dela me segurou firme. A queimadura chiou em minha carne, aguda e quente, minhas lágrimas escorrendo mais rápido enquanto ela se inclinava.
“Toda vez que ela sofre,” Agnes murmurou, sua voz quase tenra, “é por sua causa. Eles se amam, seus pais. Mas então você veio. E você… você estragou tudo.” Seus olhos escuros brilhavam com certeza cruel. “Você o estressou. Você trouxe à tona o monstro nele. Ele merece seu alívio, não merece? Especialmente em uma mulher doente demais para ver você pelo que é.”
As palavras dela não faziam sentido. Nada fazia. Minha mente infantil se retorcia, buscando por significado onde não havia nenhum. Quem era esse homem de quem elas continuavam falando? O que ela queria dizer?
Mas então outro estalo rasgou o ar. O grito da minha mãe seguiu, alto e cru, ecoando como se pudesse partir as estrelas acima de nós.
Eu me virei, congelada de horror, enquanto Landon trazia o cinto novamente. E novamente. Sua saliva voava com cada palavra. “Prostituta! Imundície! Protegendo essa coisa—” Ele apontou para mim, o rosto vermelho de ódio. “Ela tem os olhos dele! Os olhos dele!”
Quando finalmente ele terminou, ele cuspiu nela. Um som úmido, degradante, que ecoou mais alto do que o cinto jamais fizera.
E então ele se foi. Assim, do nada. Tempestuoso nas sombras, deixando a destruição para trás.
Minhas pernas se moveram sem pensar. Eu tropecei, as lágrimas me cegando, até que caí contra a forma amassada de minha mãe. Seu corpo estava encolhido no chão, sangue manchando seus lábios, sua respiração fraca.
“Mamãe…” Minha voz era de uma criança novamente, quebrada e aguda. Eu me apertei contra ela, pressionando-me ao seu lado, como se pudesse protegê-la da mesma forma que ela sempre me protegeu. Meus dedos pequenos levantaram sua mão, arrastando-a sobre mim, arrumando-a como um cobertor para que ela pudesse me abraçar.
Seu único olho bom se abriu, avelã e infinito, inchado, mas ainda cheio de amor. Sangue manchava seus dentes quando ela sorriu, e ainda assim—ela sorriu.
“Querida,” ela sussurrou, fraca, mas certa.
Sua mão se contraiu sobre mim, segurando-me perto.
E por um momento frágil e fugaz, eu acreditei que se eu apenas ficasse quieta o suficiente, se eu apenas fingisse com força suficiente, tudo poderia ser normal novamente.
Que o cinto, os gritos, o fogo na minha pele—nada disso havia acontecido.
Apenas eu. E ela.
O sorriso dela.
O amor dela.
Mesmo quando as estrelas acima de nós pulsavam, cruéis e observando, como se soubessem a verdade que eu não estava pronta para enfrentar.
Essa era uma memória, uma que estava distante e agora eu me lembrava.
E então—algo mudou.
Eu não era mais pequena. Meus braços não eram curtos, meu corpo não era frágil. Eu era eu de novo. Crescida. Em tamanho real. Meus membros fortes o suficiente para envolvê-la, para puxá-la para perto como eu sempre quis.
Eu a segurei propriamente desta vez. Apertei-a contra mim, enterrando meu rosto em seu cabelo, respirando-a como se pudesse costurar o cheiro dela em meus pulmões e nunca deixá-la ir.
Mas mesmo enquanto me agarrava, a verdade se pressionava contra mim. Isso não era real. Não podia ser. Ela se foi. Ela estava se foi havia anos.
E ainda assim—eu sussurrei isso de qualquer maneira.
“Sinto muito, mãe.”
As palavras caíram, quebradas, ásperas, cada uma me abrindo ainda mais.
“Sinto muito. Sinto muito. Sinto muito. Eu nunca deveria ter nascido. Eu nunca deveria ter ficado. Eu gostaria que você me odiasse. Eu gostaria que me desprezasse.”
Seu cabelo estava úmido sob meus lábios, seu sangue ainda quente contra minhas mãos. Meu peito doía com um pesar pesado demais para carregar.
“Eu não mereço seu amor. Eu nunca mereci. Eu vou expiar a dor que causei. Por tudo isso.”
Minha voz falhou. Apertei os olhos fechados, agarrando-a mais forte. “Eu juro que vou consertar isso. De alguma forma. Mesmo que isso me mate.”
Seus dedos se mexeram, roçando fracamente contra minha bochecha. E então, mesmo com os dentes vermelhos e o corpo quebrado, ela sorriu. Aquele mesmo sorriso. Aquele que me fazia doer porque era demais. Muito perdoador.
E isso me destruiu mais do que o cinto jamais poderia.
E então—ela se foi.
Em um momento, o sorriso ensanguentado de minha mãe estava pressionado contra mim, sua mão se contraindo levemente contra minha bochecha, sua calor se infiltrando nos meus ossos—e no momento seguinte, nada.
Meus braços agarraram o ar.
Eu me projetei para frente, meu peito se esvaziando instantaneamente, meus gritos ecoando alto demais na câmara repleta de estrelas. “Mãe?” Minha voz falhou. Eu girei, tropeçando pelo chão polido, as mãos se arranhando na escuridão como se eu pudesse trazê-la de volta à existência. “Mãe!”
Mas as estrelas acima apenas pulsavam, indiferentes, sua luz fria pinicando minha pele.
Um sussurro deslizou através do silêncio.
“Culpa.”
Eu congelei.
A palavra não foi gritada. Não precisava ser. Ela atravessou o ar, baixa e sábia, afundando em mim como um anzol.
Quando me virei, ela estava lá.
Uma velha, envolta em mantos pretos e prateados que se acumulavam ao redor de sua forma frágil. Seu cabelo estava escondido sob um capuz, mas seu rosto—a parte que eu podia ver—estava marcado e cego. Seus olhos, brancos e sem visão, ainda me perfuraram mais profundamente do que qualquer olhar que eu já tenha suportado.
Ela estava parada como pedra, sua presença mais pesada do que sua figura mirrada deveria permitir.
“Culpa,” ela repetiu, e a palavra pareceu ecoar das próprias paredes do Sanctum. “Ela te impulsiona para frente. E ainda assim te amarra, te mantém rastejando em círculos dos quais você não pode escapar.”
Eu cambaleei um passo para trás, minha garganta seca, minhas palmas úmidas. “Quem—quem é você?”
Seus lábios se curvaram, não em gentileza, mas em reconhecimento, como se minha pergunta tivesse sido feita milhares de vezes antes.
“Seu primeiro teste para a Ascensão.” ela disse simplesmente.
O ar se espessou, pressionando contra meus pulmões até cada respiração queimar. Meu coração batia violentamente contra minhas costelas, frenético, porque eu não entendia. Não queria entender.
“Não,” eu sussurrei, balançando a cabeça. “Isso não era real. Não pode ser. Minha mãe se foi.”
“A memória dela permanece,” a mulher retrucou, sua voz suave, mas impiedosa. “E sua culpa fere. Você a carrega como uma relíquia, a polindo como uma joia. Você diz a si mesmo que merece isso—que a dor é o preço que você deve pagar pelo amor que não conseguiu proteger.”
Seus olhos brancos se levantaram, sem piscar. “E assim será sua corrente, a menos que você escolha quebrá-la.”