A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 388
Capítulo 388: Maera
Hades
Cain voltou para trás, respirando com dificuldade enquanto nos encarávamos.
Seu peito subia e descia em rajadas nítidas, sobrancelhas franzidas, como se confirmar que eu era real exigisse mais esforço do que deveria. Então, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele avançou.
“Ei—o que diabos—”
Não consegui terminar a frase completa.
Cain me agarrou em um abraço esmagador, braços se prendendo ao redor do meu torso como faixas de aço, e me levantou do chão.
Meus pés deixaram o chão de pedra. Assim, de repente.
Por um instante, eu me endureci—genuinamente surpreso. Meus braços estavam presos ao meu lado, minhas costas arqueadas de maneira estranha, e eu tentei me contorcer para sair do aperto dele como uma criança carrancuda pega em uma demonstração pública de afeto.
“Me coloca no chão, Cain.”
Ele não fez isso.
Ele simplesmente soltou uma risada profunda, meio sufocada e carregada com algo que soava quase como alívio. Ou talvez descrença. Então ele bateu duas vezes a mão nas minhas costas como se precisasse confirmar que eu era sólido.
Desisti de lutar e apenas suspirei.
“Bom te ver também, irmão.”
Cain resmungou. “Não tinha certeza se teria a chance.”
Mais um instante passou antes que ele me colocasse no chão suavemente e desse um pequeno passo para trás.
Seus olhos, ainda com bordas vermelhas devido à transformação, me estudavam com algo próximo de desejo—provavelmente pela irmandade que já tivemos, quando me abraçar assim não teria sido tão… estranho.
Ele parecia alguém que tinha rasgado o caminho pela morte apenas para encontrar a única pessoa que ele achou que tinha perdido ali, orgulhosa demais para admitir o quão próximo tudo tinha chegado.
Eu o examinei. “Você está bem?” perguntei, voz baixa.
Cain sorriu de lado. “Agora que você está aqui? Sim. Estou.”
Maera nos lançou um olhar de lado—impenetrável e silencioso. Sage, parada entre ela e a parede do beliche, cruzou os braços e assentiu como se tivesse de alguma forma orquestrado essa reunião sozinha.
Cain voltou seu olhar para ela. “Quem é a amendoim?”
“Eu não sou uma amendoim,” Sage bufou, levantando o queixo. “Eu sou quem alimentou seu Alfa e impediu ele de morrer de fome.”
Cain piscou. Então olhou para mim. “Você deixou uma criança te alimentar?”
“Ela não me deu muita escolha.”
Sage assentiu com firmeza, como se isso provasse sua eficiência.
Cain riu novamente, então seu tom ficou sério. “Onde está Kael?”
“Enfermaria,” respondi. “Ele está estável.”
Um lampejo de dor cruzou o rosto dele, mas ele rapidamente o mascarou com uma respiração afiada. “Então ainda temos uma chance.”
Olhei ao redor da sala novamente, examinando cada corpo que ainda dormia—cada respiração que ainda não havia cessado.
Então me virei para Cain.
“Cain,” eu disse, acenando com a cabeça em direção a Maera, “esta é a Comandante Maera. Ela é quem está comandando este lugar. Ela também é a comandante da Rebelião Eclipse.”
A postura de Cain mudou instantaneamente.
Sua coluna se endireitou. O humor que tinha permanecido em seus olhos desapareceu como fumaça dispersa pelo vento. Ele olhou para Maera novamente.
“Você é a que eles chamavam de General Fantasma,” Cain disse lentamente. “Aquela que Darius não conseguiu matar, não importa quantos grupos de recompensas ele enviasse.”
O lábio de Maera estremeceu, embora não em um sorriso. “Ele tentou o suficiente.” Ela passou os dedos sobre sua própria cicatriz. “Embora ele estivesse perto. Muito perto.”
Cain cruzou os braços, apertando a mandíbula. “Você liderou a emboscada no Riacho de Xisto. Resgatou mais de cem em uma noite. Disseram que suas forças desapareceram como névoa antes do amanhecer.”
“Eles exageram,” respondeu Maera. “Eram apenas oitenta e três. E não desaparecemos—corremos até que nossos pés sangrassem.”
Sage sorriu como se já tivesse ouvido a história antes. “Maera é a melhor. Ela tem mapas na cabeça.”
Cain soltou um assobio baixo, seu olhar se aguçou. “Então é real. A rebelião existe.”
“Você está de pé nela,” disse Maera simplesmente. “Meu marido construiu a fundação. Eu assumi a espinha dorsal.”
Tristeza permaneceu em seus olhos.
Eu a observei.
Apenas por um segundo.
A tristeza em seus olhos era acentuada, mas contida. Bem conhecida. Como se ainda não tivesse cicatrizado. Como se o luto ainda fosse recente.
O silêncio se estendeu, apenas o suficiente para começar a puxar o ar, tornando-o apertado.
Então eu o quebrei.
“Como você sabe de tudo isso?” perguntei a Cain, virando-me ligeiramente. “Riacho de Xisto. O General Fantasma. Uma rebelião que eu não sabia que existia?”
Mais como se eu não me desse ao trabalho de investigar. Houve outras no passado, sussurradas—tumultuadas, exigiram mudanças, resistiram à conscrição. Mas o resultado sempre foi o mesmo.
Elas sempre desapareciam, até que outra viesse para substituí-las. E então o ciclo continuava.
Cain olhou para mim, as sobrancelhas erguidas como se a pergunta o divertisse mais do que deveria.
“Da mesma forma que você provavelmente sabe o que está acontecendo no Mercado Selvagem antes que chegue aos registros de comércio,” ele disse, voz equilibrada. “O subterrâneo sempre sabe primeiro. Podemos não usar coroas, mas ouvimos melhor do que quem as usa.”
Eu inclinei a cabeça, esperando.
Cain deu de ombros. “Eu mantenho meus ouvidos abertos. Sempre mantive. Negócios como o meu… informações vazam de todas as direções. Contrabandistas, antigos comerciantes, exilados fugindo da conscrição. Silverpine e Obsidian podem ter séculos de sangue ruim, mas tudo o que é preciso é uma fronteira e um tolo para falar em volta da fogueira errada.”
Ele olhou de volta para Maera. “E a Rebelião Eclipse? Não era apenas um boato. Era mais como… um mito de ninar para pessoas na periferia.”
Maera nada disse, mas Sage sorriu com orgulho, seus pequenos braços cruzados como um soldado em prontidão.
“Metade das coisas que ouvi parecia inventada,” continuou Cain. “Túneis correndo com sangue sob a Cordilheira Raiz de Presa. Rebeldes com armaduras espelhadas. Santuários que desaparecem ao amanhecer. Mas eu já vi o suficiente nesta vida para saber… quando a história continua sendo passada, geralmente há um fragmento de verdade enterrado no meio.”
Ele me olhou novamente. Olhos firmes.
“Acho que este lugar é esse fragmento.”
Eu assenti, lentamente. “Acho que sim.”
“É sim,” Sage disse, sorrindo.
Mas Maera estava quieta. Quase quieta demais.
“Algum problema?” perguntei.
Sua boca se contorceu como se tivesse provado limão antes de tomar um fôlego para se acalmar.
“O relacionamento que eu esperava formar está tomando forma,” ela revelou.
Eu troquei olhares com Cain.
“Mas antes que isso continue, há algo que você deve saber.”
Um momento de hesitação.
“Sou a mãe de Beta James de Pinheiro Prateado, a mão direita de Darius.”