A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 385
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Capítulo 385: Quando Será Uma Criança?
Eve
Montegue não falou por um momento. Sua boca se abriu, depois fechou novamente. O tremor em sua mão se acalmou, mas algo novo apareceu em sua expressão. Não era medo. Não era ceticismo. Era algo muito mais pesado.
Ele se ajoelhou lentamente, abaixando-se ao nível de Elliot, olhos fixos no garoto como se estivesse tentando enxergar até a medula dele.
“Como você está vendo isso?” ele perguntou, a voz baixa. Não exigindo. Apenas… perdida. “Elliot, como você sabe de tudo isso?”
Elliot olhou para ele, piscando uma vez, depois novamente. Suas sobrancelhas se franziram, como se ele tivesse acabado de perceber o que tinha dito em voz alta.
“Eu não sei,” ele disse suavemente. “Vovô, eu não sei.”
As palavras eram tão inocentes, tão dolorosamente sinceras, que o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Os ombros de Montegue enrijeceram levemente. Seus olhos não saíram do rosto de Elliot.
Ele engoliu em seco, forte. “Mas o que você vê… é real? Você não está fingindo?”
Elliot balançou a cabeça. “Eu não estou fingindo. É real. Sempre foi real. Eu só… não queria dizer antes.”
“Por quê?” Eu perguntei gentilmente.
Ele hesitou, olhando na minha direção. Sua voz estava menor agora. “Porque ninguém acreditaria em mim. E porque se eu digo em voz alta… então talvez isso se torne verdade.”
Meu peito doeu.
Rhea se agitou novamente, de forma mais aguda desta vez.
“Esse tipo de ilusão não é do seu tipo. Nem Lycan nem lobisomem. Ilusão por glamour, compulsão por controle mental, curar e reordenar uma mente quebrada como foi feito com Morrison—isso não é o que seus tipos podem fazer. A única criatura capaz dessas habilidades são—”
“…Vampiros,” eu imaginei. Mas vampiros estão… extintos.”
“E ainda assim você quase teve sua mente embaralhada por um suposto Lycan.” Sua voz tinha um toque de humor apreensivo. “Foi preciso os restos de um vampiro para fazer exatamente isso—causar tal destruição. Usar essas habilidades. Agora, quem mais tem mais restos e é capaz disso, Evie? Diga-me.”
“Darius. E o chifre. Ele usou o chifre.”
Eu nem percebi que havia falado em voz alta até que Montegue respondeu.
“O chifre tem algo a ver com isso?”
“Rhea diz que sim. E isso aponta para isso também, você não acha?”
Montegue franziu as sobrancelhas, inspecionando o ambiente novamente.
Eu esclareci. “De acordo com a esposa de Morrison, a mente de seu marido foi misteriosamente curada após uma visita. Lucinda tentou morder a própria língua por compulsão—sinais claros de controle mental. E agora nos encontramos em uma sala que achamos que está limpa, mas Elliot pode ver através do glamour enquanto não podemos. Então isso pode ser uma ilusão. Elliot vê a sala da forma que acreditamos que deveria ser depois que Hades a vasculhou minuciosamente. Eu posso até dizer que Hades teria socado aquele espelho de frustração porque não conseguia encontrar Kael. As pistas de contexto são… muito perfeitas,” continuei, minha voz tremendo com o peso do que estávamos desvendando. “Sem móveis quebrados. Sem cadeira virada. Sem rastro de cheiro além de certo ponto. Sem sangue. Apenas… normalidade encenada. Está muito limpo—como se alguém tivesse reconstruído essa sala a partir da memória.”
Montegue ainda tinha dúvidas—eu podia ver isso em seus olhos. Um homem tão acostumado com lógica, com evidência e disciplina, ele se apegava à razão como se fosse uma espada mantendo o caos à distância.
Mas isso não era lógico.
Isso não era algo que ele poderia comandar para submissão ou dissecar com precisão militar.
“Mas como Elliot pode ver através do glamour?” ele perguntou. “A ilusão é tão perfeita que eu, o dono da casa, não posso ver através dela.” Ele estava sinceramente perplexo, agitação e apreensão crescendo com o tom cada vez mais apavorado de sua voz. “Como ele pode ver através dela?”
No momento em que ele perguntou, tudo veio à tona tão rápido que eu engasguei, meu coração já acelerado entrando em disparada.
“Por causa da mesma ressonância.”
“Ressonância? Como o que aconteceu quando Elliot conseguiu se comunicar com Hades, mesmo quando Vassir tentou tomar o controle? Mas isso não é Hades.”
“Elliot tem o Fluxo. E Hades também tem. É assim que a ressonância foi possível. De onde vem o Fluxo, Monte?”
Ele não precisou pensar. “Veia do Vassir.”
“De?” Eu instiguei.
“Restos preservados do Vassir,” ele respondeu—assim que seus olhos se arregalaram com a revelação.
“E o que é o chifre?”
“Também é um dos restos de Vassir.”
Eu pressionei mais. Precisávamos estar na mesma página com algo tão complicado, mas de certa forma tão simples.
“O que significa?”
Os olhos de Montegue piscaram para Elliot, depois voltaram para mim, as peças finalmente se encaixando por trás da tempestade em seu olhar.
“Significa…” ele respirou, “…ele é imune ao glamour porque ele é um deles.”
“Não como eles,” corrigi gentilmente. “De eles.”
Ele olhou para Elliot novamente. O garoto estava quieto, sua expressão calma, os olhos piscando pela sala como se estivesse vendo duas versões dela ao mesmo tempo.
“Como apenas um vampiro poderia ver através da ilusão de outro,” Montegue disse lentamente. “E os vampiros estão extintos. Mas Elliot—” ele pausou, sua garganta apertando, “—Elliot nasceu com o Fluxo já dentro dele. De Hades.”
“E Hades conseguiu da Veia do Vassir,” acrescentei. “Que veio do próprio corpo de Vassir.”
Montegue virou-se bruscamente. “E o chifre—”
“—É o corpo de Vassir,” terminei. “Ou o que sobrou dele.”
O silêncio depois disso foi sufocante.
Elliot moveu-se ligeiramente e disse, muito suavemente, “Então eu posso encontrar Papai e Tio Kael?”
Meu coração encolheu com a apreensão esperançosa em sua voz. Ele estava sendo puxado para isso novamente. Primeiro, os jogos insidiosos de Felícia, depois o Rito de Fenrir, e agora isto. Quando isso iria acabar? Quando ele poderia ser uma criança?
Elliot pegou minha mão, enrolando seus pequenos dedos na minha com uma determinação silenciosa. Sua voz, embora suave, carregava uma força que fez minha garganta apertar.
“Eu posso ajudar, Mamãe,” ele disse, olhos firmes nos meus. “Você não precisa se preocupar.”
“Elliot—”
“Eu quero trazer Papai e Tio Kael para casa,” ele disse firmemente, o peito se elevando com uma respiração profunda demais para alguém tão pequeno. “Eles estão perdidos. Mas eu não estou. Eu posso ver através disso. Eu posso seguir de volta para onde eles estão.”
Montegue parecia como se alguém tivesse tirado o ar dele. Seus lábios se abriram, mas nenhum som saiu.
E eu—meu coração quebrou novamente.
“Você é uma criança,” eu sussurrei. “Você não deveria ter que carregar isso.”
Ele deu de ombros. “Mas eu já estou.”
E lá estava. A verdade, exposta na voz mais silenciosa da sala.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, o comunicador de Montegue crepitou, cortando o silêncio espesso como uma lâmina.
“Senhor, aqui é a Ala Médica na Torre Obsidiana—entre.”
Montegue ligou. “Continue.”
“Houve… houve uma complicação. É a Sra. Montegue. Não podemos movê-la.”
Meu corpo tensionou instantaneamente.
“Por que não?” Montegue exigiu.
“Ela está acordada, senhor. Mas ela—ela não está respondendo ao nome dela. Ela está falando como—”
A voz se cortou, interrompida por uma voz masculina baixa e estranha—gutural e não natural.
“Eu devo pegar o garoto. Eles têm Ellen. Nós pegamos seus filhos.”
Elliot engasgou acentuadamente.
Eu me virei para ele, alarmado, apenas para encontrá-lo branco como um fantasma.
“Essa é a voz do homem,” ele sussurrou, tremendo. “Aquele que machucou o Tio Kael.”