A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 366
Capítulo 366: Teletransporte
Hades
Destruímos o quarto.
Cada painel, cada junção. Desparafusamos os pinos da estrutura do dossel, retiramos o carpete, pregamos as tábuas do chão com lâminas sônicas calibradas para encontrar até microfraturas.
Ainda nada.
Nenhuma emenda.
Nenhum alçapão.
Nenhum sinal de vida.
Apenas poeira e ar e o cheiro crescente de derrota.
Eu cerquei o perímetro novamente, mandíbula cerrada forte o suficiente para partir um osso. “Ela não está aqui,” murmurei. “Ela não está aqui, droga.”
“Hades—” Cain começou, mas o cortei com um aceno da mão.
Elliot chorou até ficar rouco esta manhã, seus dedos se cravando no meu casaco quando prometi que traria Kael de volta.
Eu disse que tudo ficaria bem.
Eu disse que iria consertar.
Eu disse mentiras.
Um menino de cinco anos que enterrou sua mãe há poucos dias foi forçado a ouvir através das paredes enquanto o homem que o salvou—foi levado. Arrastado. Machucado.
E tudo o que fiz foi falhar.
Eu me alinhei com Cain, de todas as pessoas. Um homem com ligações a todo mercado negro, a todos os grupos criminosos em Obsidian. Eu me humilhei diante dele—da sua rede, seus homens, seu ego.
E ainda assim.
Nada.
Felícia escapou por todas as redes como fumaça e Darius ia vencer esta rodada.
Ele teria Kael.
E nós não teríamos nada.
Uma pressão fantasmagórica se formou atrás dos meus olhos—apertada, aguda, crua. Virei-me para o espelho da cômoda. Minha reflexão me encarava como um fantasma.
Eu não me via.
Eu via fracasso.
“Hades,” Cain disse novamente, mais devagar agora. “Não faça.”
Mas já era tarde demais.
Eu recuei e bati meu punho contra o vidro.
O espelho se estilhaçou com um estalo violento, fragmentos explodindo como dentes fragmentados sobre a cômoda. Minha mão pulsou com um choque quente e ardente—seguido pelo fluxo lento e quente de sangue descendo pelos meus dedos.
Cain xingou baixinho e latiu uma ordem para um de seus homens, mas eu não estava ouvindo.
Observei o sangue pingar.
Uma gota.
Duas.
Três—
Então um grito perfurou o ar.
Afiado. Penetrante. Feminino.
Eu congelei.
Minha respiração engasgou.
“Você ouviu isso?” Eu disse abruptamente, virando. “Aquele grito—alguém mais—?”
Cain levantou uma sobrancelha. “Que grito?”
Olhei para ele. “Aquele grito, Cain. Estava bem aqui!”
Ele olhou para seus homens. Eles balançaram a cabeça.
Meus Gammas não se moveram.
Eles nem se mexeram.
Ninguém ouviu.
Exceto eu.
Então veio outra vez—mais alto, mais agudo, de ranger os dentes. Um grito que parecia penetrar direto na minha espinha e puxar.
Shrieeeeeeeeek—
Recuei cambaleando enquanto o som crescia, serpenteando como um fio elétrico vivo em meu crânio.
Então o sangue no chão começou a brilhar.
As gotas dos meus nós dos dedos—escarlate segundos atrás—agora pulsavam com uma estranha luz prateada, veias de energia à luz do luar tecendo através delas como rachaduras em vidro.
Cain deu um passo cauteloso à frente. “Que porra…”
E então, o ar mudou.
As paredes zumbiram.
Os fragmentos do espelho começaram a tremer onde haviam caído.
E em algum lugar abaixo de nós—abaixo deste quarto—algo respondeu.
Algo trancado.
Algo gritando.
Mas desta vez, não era só eu que o ouvi.
Porque todas as luzes na mansão piscavam.
E o chão sob meus pés começou a respirar.
O chão bebia o sangue.
Não o absorveu—bebeu-o.
Cada gota brilhante afundava lentamente, de maneira sobrenatural, nas tábuas como água puxada através de pedra ressecada. A madeira escurecia onde desaparecia, veias de prata irradiando para fora como congelamento.
Então parou.
A imobilidade sem fôlego retornou.
Até que—
Um símbolo brilhou sob minhas botas.
Uma letra mas modificada e tão estranha quanto da primeira vez que a vi. Meu corpo havia se retraído então, mas desta vez foi a alma que se revoltou.
Antigo. Ancestral. Gravado em luz não deste mundo.
M.
Não Montegue.
O símbolo que estavam nos Ferais, aquele que Eve havia dito que Vassir se referiu como o símbolo de Malrik.
Cain amaldiçoou e tropeçou para trás. “Isso não é um brasão. Isso é um—”
O chão desabou.
Sem aviso.
Sem rachaduras.
Apenas um violento whoomph enquanto as tábuas sob nós cederam como papel, e o ar caiu debaixo das minhas costelas. Tive tempo suficiente para ver Cain e dois de seus homens desaparecerem na luz abaixo—então o resto de nós foi sugado para baixo como poeira em um ciclone.
Gritos.
Metal tocando.
Armas atingindo o ar, inúteis.
Caímos através do silêncio, através da escuridão, através dos ossos da mansão que ninguém se lembrava.
Então—
Batemos.
Não forte. Não esmagador de ossos.
Como se tivéssemos sido pegos.
A luz diminuiu, ajustando-se à nossa presença. Um brilho bioluminescente baixo traçou o quarto, mostrando paredes de obsidiana lisa alinhadas com veias refletidas. Não era terra ou pedra. Era feito. Projetado.
—
Meus olhos se abriram abruptamente.
Branco. Ofuscante.
Me levantei assustado, mão já alcançando minha arma, apenas para encontrar a empunhadura fria em meus dedos—funcional, mas desconhecida nesta luz.
A câmara em que caímos era vasta. Ampla. Branca. Sem emendas.
As paredes não eram de pedra, não eram metal—pelo menos não nenhuma liga que eu reconhecesse. Elas se curvavam com uma simetria sobrenatural, lisas e silenciosas, absorvendo som como um vácuo. Sem emendas. Sem rachaduras. Apenas um trecho interminável de arquitetura off-white sem marcas e sem céu.
Meus homens se moviam ao meu redor, tossindo, desorientados mas vivos. Os Gammas se levantaram primeiro, movendo-se em uma postura defensiva apenas com memória muscular. Os destemidos de Cain não estavam muito atrás, sacudindo a queda em olhares silenciosos e confusos. Até mesmo Cain parecia abalado—sua boca se fechando em uma linha sombria enquanto ele buscava o local com olhos estreitados.
“Que diabo é este lugar?” ele murmurou, andando em círculos lentos.
“Não é um laboratório que eu conheço,” eu respondi, voz baixa.
Mas era um laboratório.
De algum tipo.
O chão estava impecável. A fonte de luz não tinha origem—nenhuma lâmpada, nenhum suporte—apenas um brilho suave que parecia respirar conosco. Não havia janelas. Nenhuma sombra. Nenhuma interface tecnológica.
Alcancei meu comunicador e o trouxe ao ouvido.
Nada.
Silêncio mortal.
Cain tentou o dele também. Sua expressão escureceu. “Sem sinal. Sem pulsação. É como se este lugar comesse frequência.”
“Então estamos cegos,” eu disse. “E surdos.”
A tensão mudou.
Todo operador na sala sentiu isso—aquele lento e terrível enrolamento de percepção.
Não estávamos apenas no subsolo.
Estávamos em outro lugar.
“Espalhem-se,” ordenei, cortando o silêncio. “Scaneiem por qualquer coisa—respiros de ar, isolamento acústico, saídas. Este lugar foi construído. E quem quer que o tenha construído sabia o que estava fazendo.”
O movimento começou. Tenso. Controlado.
Mas até mesmo aquele controle se despedaçou um momento depois quando um dos homens de Cain escorregou.
Forte.
O homem caiu no chão com um grunhido e praguejou, segurando seu lado.
Já estava me movendo.
“Fique quieto,” eu disse, abaixando-me ao lado dele.
Minha mão encontrou o local escorregadio sob sua bota.
Morno.
Escuro.
Eu trouxe para o meu nariz.
Sangue.
Mas não qualquer sangue.
De Kael.
Levantei-me tão rápido que minha coluna estalou reta. Meu pulso disparou com uma fúria fria.
“É dele,” eu disse em voz alta. “Kael esteve aqui. Este é o sangue dele.”
Cain se ofegou. “Como pode ter certeza?”
“Porque eu conheço o cheiro dele. Eu o treinei. Ele era um dos meus antes de se tornar meu Beta.”
Cain olhava para o sangue como se fosse uma linha de vida—ou uma maldição.
Segui os respingos com meu olhar.
Não era aleatório.
Um trilho.
Fraco. Mas presente.
Desapareceu na direção de uma seção sem emendas da parede que subitamente fez um ruído, depois abriu com um sussurro mecânico.
Uma porta automática.
Um corredor se estendia além.
Branco.
Infinito.
Vazio.
Exceto pelo sangue.
Agora manchas. Depois gotas. Então mais pesado novamente.
Como se ele tivesse cambaleado. Sido arrastado. Ou pior—corrido e caído.
Virei-me para meus homens.
“Tudo isso,” eu disse, voz escura com urgência, “significa que passaram pelo quarto de Felícia. Era um limiar. Um portal. Uma armadilha.”
Cain assentiu uma vez. “E Kael não foi embora.”
“Ainda não,” eu rosnei. “Ele está sangrando. Isso significa que ele está vivo.”
Por enquanto.
Nos movemos.
O corredor nos engoliu em fileiras—Gamma e rebelde, lado a lado. Sem mais discussões. Sem mais tensão. Estávamos caçando algo agora.
A luz à frente mudou enquanto marchávamos.
O branco ficou mais profundo. Mais aguçado. Mais frio.
E o trilho de sangue continuava.
Kael estava deixando pedaços de si para trás.
Continuamos nos movendo.
O trilho de sangue serpenteava à frente, fino e desesperado. A cada poucos passos, ele se aprofundava—Kael havia cambaleado mais de uma vez. Ou sido arrastado. O chão branco o absorvia como tinta na neve, mas o cheiro nunca mentia.
Ele ainda estava perto.
Mas o tempo estava se estreitando ao seu redor.
Ao nosso redor.
Então o vimos.
Um fim—mas não uma porta.
Não exatamente.
Apenas mais corredor.
Até que um dos meus Gammas bateu em algo no meio do passo e recuou como se tivesse colidido com uma parede de aço.
“Que diabos—?” ele sibilou, segurando o rosto.
Ele não tinha visto. Nenhum de nós tinha.
Cain deu um passo à frente, olhos se estreitando. “Uma barreira?”
Aproximei-me e estendi a mão, lentamente.
Minha palma parou no ar.
Nada visível.
Mas algo ali.
Havia um zumbido fraco sob minha pele, como eletricidade provando o ar.
Então—
Estalo.
Um choque percorreu minha mão, afiado e invasivo—como agulhas perfurando o osso.
O campo de força iluminou-se.
Veias de luz vermelha deslizaram pelo ar, formando glifos na forma de runas irregulares—uma linguagem não nascida em nosso mundo. O corredor atrás de nós selou com um sibilo.
Então veio a voz.
Mecânica. Inumana.
“IDENTIDADES NÃO CONFIRMADAS. PRESENÇA NÃO AUTORIZADA. INICIANDO ESCANEAMENTO DE SEQUÊNCIA DE DNA.”
Todos os Gamma ergueram suas armas.
Os rebeldes assumiram posições de flanco, formando uma parede defensiva ao redor de Cain.
Linhas vermelhas de luz chicoteavam da barreira—lasers finos como fios escaneando nossas retinas, pulsando sobre nossos corpos, lendo tudo, desde a estrutura óssea até os batimentos cardíacos.
“LYCAN. HÍBRIDO. REBELDE. HOSTIL.”
O corredor se tornou carmesim.
“ENGAJAR.”
Portas que nem havíamos percebido ao longo das paredes bateram abertas com gritos hidráulicos.
E então eles vieram.
Os Ferais.
Arranhando, raivosos, disformes.
Bocas muito largas, olhos muito pálidos, membros deformados pela exposição ao Fluxo. Seus gritos afogavam o ar enquanto avançavam em uma onda coordenada.
Dezenas.
Não—centenas.
“Mudem!” eu rugi, já sentido meus ossos estalarem e se alongarem, pelos rasgando minha pele enquanto meu corpo explodia em sua forma de besta.
Meus Gammas seguiram o exemplo instantaneamente—uivos cortando o ar enquanto garras encontravam aço, presas encontravam carne.