A Luna Amaldiçoada de Hades - Capítulo 365
Capítulo 365: Mansão Montegue
Hades
A viagem até a Mansão Montegue foi brutal.
Não por seu ritmo—mas pelo que significava.
Dois flancos. Dois Alfas. Um propósito.
Meus Gammas viajavam em unidades coordenadas, veículos elegantes e silenciosos. Os operativos de Cain seguiam em formação mais solta, silenciosos e alertas—rebeldes em equipamentos personalizados, do tipo feito para contrabando, não política. No entanto, aqui estávamos, convergindo para a propriedade ancestral de uma das linhagens fundadoras de Obsidian.
A mansão surgia à frente. Não deteriorada ou abandonada como eu acreditava—mas impecável de forma deliberada. Restaurada em elegância vintage-moderna, com sistemas de segurança discretos sob os beirais cobertos de hera e pedras bem talhadas. Parecia intocada pelas guerras que lutamos. Oculta à vista.
Claro que estava.
Levei o satcom ao ouvido.
Não tocou.
Montegue atendeu no primeiro toque.
“Alfa Hades.”
“Presumo que você saiba sobre a explosão,” eu disse sem rodeios.
“Já está nas transmissões. Emiti declarações, trabalhei no controle de danos com a Guilda de Comunicações e três dos blocos civis. O Conselho está convocando uma sessão de emergência em trinta.”
Escaneei a propriedade enquanto nossas unidades se espalhavam, cercando-a com eficiência treinada.
“Sei que você foi com a implantação Gamma,” Montegue acrescentou baixinho. “Vimos seus registros de movimento. Imaginei que você seguiria o rastro por conta própria.”
Sua voz caiu nas últimas palavras—não por medo, mas vergonha. Montegue nunca foi um homem de carregar culpa, mas agora ela pendia de sua garganta como um laço.
Não ofereci conforto.
“Eles se foram,” eu disse. “Nenhum rastro. Nenhum cheiro. Nenhum deslocamento. Como se tivessem se dissolvido em fumaça.”
Um momento de silêncio passou entre nós, pesado e amargo.
“Tenho Cain comigo.”
Montegue exalou, o som agudo e descrente. “Você chamou os rebeldes?”
“Eu não o chamei. Ele veio. Estamos alinhados, por enquanto. Seus homens conhecem as veias sob Obsidian melhor do que qualquer pessoa viva.”
“E ainda nada?”
“Nenhuma pegada sequer.”
“Todas as mãos estão a bordo,” eu disse, voz baixa. “Mas é como se nunca estivessem aqui.”
Montegue não respondeu por um longo momento. Então:
“Ela planejou isso com eles.”
“Sim.”
“Ela teve tempo.”
“Sim.”
“Ela me usou.”
Não respondi a essa.
Porque ambos já sabíamos.
“Ela não está apenas fugindo,” eu disse. “Ela está mobilizando. Consolidando. Cada passo tem sido cirúrgico.”
A voz de Montegue surgiu novamente—desta vez rouca com fúria contida. “Então vou informar ao Conselho. Transparência total. Você terá meu apoio total.”
“Você vai me dar a maldita autorização, Montegue. Não apenas apoio.”
“Você a tem. Tudo o que precisar.”
“Preciso da sua mansão,” eu disse, com a voz firme. “Acesso total. Sem atrasos. Sem segredos.”
Uma pausa.
Então, “Meu—o quê?”
“Mansão Montegue,” repeti friamente. “É o lugar para o qual preciso de autorização.”
Eu podia ouvir a mudança em sua respiração. Não era choque. Nem indignação. Apenas aquela breve gaguejada de um homem conectando os últimos pontos—e odiando a imagem que se formava.
“Você acha que meu patrimônio fez parte disso?”
“Eu acho que é o único lugar perto o suficiente da Torre, fortificado o suficiente para abrigá-los, e antigo o suficiente para estar fora da vigilância moderna,” eu disse. “E é seu. O que significa que era o único lugar que Felícia poderia entrar sem levantar um único alarme.”
“Hades…” A voz de Montegue estava mais baixa agora. “Você realmente acredita que ela usou minha propriedade para isso?”
“Eu não acredito, Montegue. Eu sei.”
Fiz sinal para meu Gamma Beta enquanto nosso comboio parava no pátio de cascalho. Os veículos de Cain estacionaram ao lado dos nossos—silhuetas pretas elegantes contra a fachada pálida da mansão. Minhas botas tocaram a terra justo quando a primeira rede defensiva acendeu fracamente ao longo do perímetro da propriedade.
“Ela tinha acesso,” continuei, caminhando em direção aos portões de ferro forjado. “Ela tinha história. Ela tinha todo motivo para acreditar que ninguém olharia aqui—porque até você esqueceu disso. Ou quis esquecer.”
“Ela quis ver seu quarto de infância quando eu a ajudei a fugir. Eu não sabia por quê,” admitiu Montegue na linha, com a voz rouca.
“Claro que não sabia,” eu retruquei. “Esse é o ponto. Este lugar era sua segurança. Silencioso. Fora dos registros. Perto o bastante de Obsidian para uma retirada, mas longe o suficiente para se reagrupar. Você mesmo disse—ela está se consolidando.”
Parei diante da porta e olhei para o brasão acima da entrada arqueada.
Montegues.
Ainda orgulhosos. Ainda gravados na pedra.
“Então leve,” disse Montegue finalmente. “Tudo que é meu—considere seu até que isso termine. Estou enviando meus códigos de substituição. Você terá acesso completo. Cada sala. Cada cofre.”
Um suave ping soou no meu fone de ouvido—acesso confirmado.
“Bom,” eu disse.
Terminei a chamada.
Cain saiu de seu carro, estalando o pescoço enquanto observava a mansão com um assobio baixo. “É uma beleza.”
“Foque na missão,” eu sibilei, já sinalizando as unidades de invasão para avançarem.
Em segundos, os portões principais se abriram com um chiado. Luzes piscaram na varanda de entrada—arandelas de vidro vintage, fiação moderna. Cada toque estético era intencional. Cada ponto cego, agora suspeito.
“Avancem,” ordenei, com voz de cascalho. “Varram os setores esquerdo e direito. Cain, pegue o ala oeste.”
“Meus homens já têm os esquemas,” Cain disse com um sorriso, batendo no seu com. “Vamos limpar tudo. Se Felícia está escondendo ratos nas paredes, vamos arrastá-los pra fora.”
As equipes avançaram—armas e armaduras pretas e prateadas, botas em sincronia. Renegados e Gammas, trabalhando como se tivessem feito isso mil vezes, mesmo que sua aliança uns aos outros fosse mantida por um fio e uma ameaça.
Mas por agora, estávamos unificados.
Porque Felícia havia feito seu movimento.
E era nossa vez de desvendá-lo.
A mansão se abriu para nós como uma casa que queria ser encontrada—mas apenas isso.
A elegância vintage encontrava a inteligência fria em cada corredor. As paredes estavam revestidas com painéis restaurados à mão, ornados com a herança Montegue, mas entrelaçado sob esse charme havia uma fera diferente—sensores inteligentes, relés ópticos, paredes falsas em dobradiças magnéticas.
Era uma casa construída por orgulho.
E para segredos.
Varríamos a ala leste em formação apertada. Meus Gammas operavam com precisão silenciosa, capacetes interagindo com scanners sônicos calibrados para detectar ressonâncias ocas—subpisos, fundos falsos, escadas ocultas.
Não estávamos admirando arquitetura.
Estávamos com o tempo contado.
Kael estava desaparecido.
Felícia estava fugindo.
E se não os encontrássemos rápido, o próximo corpo que recuperássemos poderia ser o dele.
Atrás do velho porta-vinhos—um duto de queda, disfarçado como um monta-cargas fora de serviço.
Debaixo de uma chaise de veludo—um alçapão, levando a um bunker de arquivo selado atrás de criptografia biométrica.
Cada descoberta não era apenas prova de engano.
Era prova de planejamento.
Felícia havia mapeado essa fuga.
Isso não era um esconderijo.
Era uma plataforma de lançamento.
E estávamos sempre cinco passos atrás.
Quando liberamos o último andar, descobrimos seis possíveis pontos de armazenamento, três nós de comunicação selados, e um amortecedor embutido no teto da biblioteca destinado a bloquear comunicação de longo alcance em todo o quadrante leste.
Ainda sem Kael.
Ainda sem Felícia.
Cada segundo que passava pressionava mais forte contra meus pulmões.
Onde ele estava?
Onde diabos ele estava?
Desci a escada central exatamente quando Cain surgiu da ala oeste, sua expressão incomumente sombria. Ele não falou, apenas balançou a cabeça uma vez.
Nenhum sinal deles.
Mas ambos sentimos—isso não havia acabado.
Estava perto.
Seus homens o flanqueavam, silenciosos como sombras. Meus Gammas se apertaram atrás de mim.
Ambos os lados encontraram a mesma coisa—
Nada.
O que tornava inevitável o que viria a seguir.
Paramos em frente à única porta que não havia aberto automaticamente com os códigos de liberação de Montegue.
Um relicário revestido de aço, embutido na parede atrás de uma coluna espelhada. Não combinava com as atualizações modernas do resto da mansão. Sem painel biométrico. Sem scanner. Apenas uma fechadura manual disfarçada como um brasão decorativo de latão—uma antiga runa da família Montegue para “lembrança”.
Eu olhei para ela, coração acelerado.
Cain se aproximou de mim.
Sua voz estava baixa. Tensa.
“É esta?”
Eu assenti, maxilar apertado.
Ele não brincou desta vez.
Não sorriu.
Ambas nossas forças caíram em uma postura silenciosa e unificada atrás de nós.
Porque o que quer que houvesse atrás daquela porta—não estava apenas trancado.
Estava guardado.
E se Kael estivesse do outro lado, sangrando… ou pior—
Então já estávamos atrasados demais.
A fechadura cedeu após um clique tenso e mecânico—antiga, mas recentemente lubrificada.
Eu empurrei a porta.
O quarto de Felícia nos saudou com… silêncio.
Não o silêncio do segredo.
O silêncio do nada.
Sem barricadas. Sem piso falso. Sem marcas de queimadura ou sangue. Sem sinais de luta. Sem Kael.
Apenas um quarto.
Uma cama de dossel vintage estava intocada, coberta de sedas pálidas. As paredes eram do bege suave de um velho pergaminho. Uma única escrivaninha. Um espelho. Uma cômoda. O tipo de lugar em que uma menina poderia ter chorado uma vez, depois deixar para trás para sempre.
Perfeito demais.
Quieto demais.
Cain se moveu ao meu lado, a boca se estreitando enquanto escaneava com seu dispositivo. “Nada. Sem ressonância oca. Sem retroalimentação. Nada atrás das paredes. Apenas… paredes.”
Eu girei em um círculo lento, o pulso subindo na minha garganta.
Cada outro cômodo nesta mansão tinha algo—um código, um espaço de rastejo, um caminho escondido, um jogo. Montegue construiu esta casa como um cifrador.
Mas este quarto?
Plano.
Limpo.
Normal.
Errado.
“Por que este é o único quarto sem uma característica?” eu resmunguei.
Cain não respondeu.
Nem meus Gammas.
Avancei para o espelho. Sem dobradiças. Sem anéis de poeira. Sem resíduo. Puxei as gavetas da cômoda. Vazias. Escrivaninha? Limpa. Tapete? Trama padrão.
“Quero escaneamentos moleculares nas paredes,” eu ladrei. “Térmicos, químicos, espaciais. Isso não faz sentido. É o único ímpar—por quê? Por que construir uma casa inteira cheia de jogos e deixar um quadrado intocado?”